O último dia do prazo para apresentar alterações à proposta de Orçamento do Estado para 2025 (OE2025) confirmou que a redução do IRC e o aumento extraordinário das pensões mais reduzidas serão os pontos quentes da fase de especialidade. E mais uma demonstração dos desafios decorrentes de uma legislatura em que a Aliança Democrática está muito longe de ter maioria absoluta para garantir a aprovação das suas iniciativas e em que os dois maiores partidos da oposição (PS e Chega), ainda que incompatíveis ideologicamente, podem convergir em votações e fazer valer a força dos 128 deputados que têm em conjunto.
Excluído pelo Governo está um aumento extraordinário das pensões, com essa mensagem a ser repetida nesta sexta-feira pelos ministros das Finanças e do Trabalho, Joaquim Miranda Sarmento e Maria do Rosário Palma Ramalho, nas audições que os levaram à Assembleia da República. Tanto eles como os líderes parlamentares do PSD e CDS-PP, Hugo Soares e Paulo Núncio, defendem que o maior reforço dos rendimentos dos pensionistas no próximo ano estará dependente da evolução da economia nacional. Os responsáveis pelos grupos parlamentares resultantes da vitória da Aliança Democrática não foram mais longe do que a apresentação de um “compromisso em letra de lei de atualização extraordinária das pensões no ano de 2025 caso as condições económicas e financeiras do país o permitirem”.
Apesar disso, tanto o PS como o Chega defenderam que as suas respetivas propostas de aumento extraordinário não põem em causa o equilíbrio orçamental. Os socialistas, que tiveram a líder parlamentar Alexandra Leitão a apresentar as propostas de alteração, juntamente com os deputados António Mendonça Mendes e Marina Gonçalves, garantem que o aumento adicional de 1,25% nas pensões até três indexantes de apoios sociais (1527 euros) terá um impacto orçamental de 265 milhões de euros. E que o conjunto das propostas “justas e responsáveis” do PS fica abaixo dos 475 milhões de euros de margem orçamental libertada pela alteração que o Governo aceitou fazer no IRS Jovem.
O aumento extraordinário de pensões advogado pelo Chega é superior em termos percentuais (1,5%), mas em simultâneo mais contido no universo abrangido (quem recebe até dois indexantes de apoios sociais, ou seja, 1018 euros). Referindo-se ao “problema estrutural” de haver idosos em Portugal que “têm de escolher entre a alimentação e a medicina”, André Ventura defendeu esta sexta-feira que a proposta do seu partido prevê a aplicação do excedente da Segurança Social, pelo que diz que é “responsável e não procura violar o equilíbrio orçamental”. E, depois de recordar que o Chega defende que a pensão mínima seja equiparada ao salário mínimo nacional “de forma progressiva”, o líder partidário deixou claro que não exclui a aprovação da proposta socialista. “Vamos avaliar”, disse.