Desde que esta sexta-feira o DN noticiou a existência de um projeto de queixa-crime, elaborado por um grupo de cidadãos, contra o presidente do Chega, André Ventura, o líder parlamentar e um assessor do partido - Pedro Pinto e Ricardo Reis -, por declarações a propósito da morte do cidadão Odair Moniz, baleado por um agente da PSP, vários leitores contactaram o jornal a perguntar como podem juntar-se à iniciativa.
A resposta, dada ao DN pelo grupo inicial de cidadãos que elaborou a queixa, é que a partir da tarde desta sexta-feira há a possibilidade de subscreverem a queixa online. Até às 23H45, já juntara mais de 50 000 subscritores.
Entretanto o Ministério Público, em resposta à pergunta que o DN lhe dirigiu esta quinta-feira, anunciou que abriu inquérito às declarações dos membros do Chega, o qual "corre termos no Departamento de Investigação e Ação Penal Regional de Lisboa". A resposta da Procuradoria Geral da República não esclarece qual o crime ou crimes cuja suspeita está em causa no inquérito.
Entre os subscritores iniciais da queixa, como o DN revelou esta sexta-feira, está a ex-ministra da Justiça e da Administração Interna e ex-procuradora-geral distrital de Lisboa Francisca Van Dunem, que disse ao jornal: “Atingiu-se um limite. Nenhum democrata pode deixar de se indignar com estas declarações. A minha consciência obriga-me a tomar uma atitude em relação a quem se aproveita deste clima para fazer apelos ao ódio e a mais violência. Vou subscrever a queixa, que espero que seja subscrita pelo maior número possível de pessoas.”
Ao nome de Van Dunem juntou-se ao início da tarde desta sexta-feira o da também jurista Teresa Beleza, catedrática jubilada e ex-coordenadora do Observatório do Racismo e Xenofobia.
"Foi com alguma surpresa, apesar dos antecedentes, e muita indignação que ouvi as declarações de deputados do Partido Chega sobre a morte de Odair Moniz, abatido a tiro pela Polícia no seguimento de uma aparente fuga a uma ordem de parar o veículo que conduzia. As circunstâncias exactas do sucedido não são ainda claras, mas as afirmações de André Ventura e Pedro Pinto são de uma gravidade inaceitável", disse Teresa Beleza ao DN. "A liberdade de expressão, como todas as liberdades, tem limites. E um deles é a inadmissibilidade de discursos de incitamento ao ódio, com evidentes contornos de racismo e xenofobia, como transparece do que foi publicamente dito por estes dois deputados à Assembleia da República. Não se trata já apenas de populismo eleitoralista, mas de ilegítimo ultrapassar de barreiras que um sistema democrático de Direito, como o português, impõe a todos nós, a bem da protecção da dignidade e dos direitos de todos e de cada um."
Também o ex-ministro da Educação João Costa e as ex-secretárias de Estado da Igualdade Catarina Marcelino e Rosa Monteiro são subscritores.