Protestos
28 novembro 2024 às 23h35
Atualizado em 29 novembro 2024 às 00h19
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"Servem a Rússia ou a Geórgia?" Presidente confronta polícia após PM anunciar suspensão do processo de adesão à UE

Contra a decisão anunciada pelo primeiro-ministro, milhares de manifestantes protestam junto ao parlamento, exibindo bandeiras da UE e da Geórgia. A presidente do país já exigiu a convocação de novas eleições legislativas e avisou: "sou a única instituição legítima que resta, o movimento de resistência começa".

O primeiro-ministro da Geórgia, Irakli Kobajidze, anunciou esta quinta-feira a suspensão "até ao final de 2028" das negociações de adesão à União Europeia (UE), cenário já assumido por Bruxelas perante a deriva antidemocrática observada em Tbilissi. 

Após a declaração de Kobajidze eclodiram protestos em Tbilisi e em várias cidades da Geórgia, noticia a AFP. Milhares de manifestantes reuniram-se junto ao parlamento, exibindo bandeiras da UE e da Geórgia, tendo-se registado confrontos com a polícia, que já usou canhões de água e usou spray de pimenta e gás lacrimogéneo.

Segundo a Reuters, jovens mascarados tentaram entrar no parlamento, tendo o Ministério do Interior informado que três polícias ficaram feridos durantes os confrontos.  

Também se registaram protestos junto à sede do partido Sonho Georgiano e ao palácio presidencial.

Os manifestantes apelavam para a criação de "uma nova frente de batalha, de resistência e de insubordinação às autoridades", enquanto repetiam palavras de ordem como "Escravos!" e "Russos!" e bloqueavam a avenida central Rustaveli, em frente ao parlamento.

A presidente da Geórgia juntou-se aos protestos, acusou o governo de declarar "guerra" ao seu próprio povo e confrontou a polícia de choque. "Vocês servem a Rússia ou a Geórgia? A quem é que prestaram juramento?", questionou Salome Zurabishvili.

"Decidimos não colocar na ordem do dia a questão da abertura de negociações com a UE até ao final de 2028. Além disso, até ao final de 2028, também rejeitamos quaisquer subsídios orçamentais da UE", afirmou o primeiro-ministro da Geórgia, citado pela imprensa georgiana.

Nas mesmas declarações, Kobajidze lançou críticas ao meio político europeu e rejeitou a ideia de que a adesão da Geórgia ao bloco seja encarada como "uma esmola".

"Vemos que os políticos e burocratas europeus estão a usar as subvenções e empréstimos atribuídos como chantagem contra a Geórgia", disse o primeiro-ministro, que apontou 2030 como o ano de uma possível adesão.

A presidente da Geórgia exige convocação de novas eleições

A presidente da Geórgia, Salome Zurabishvili, alinhada com a oposição, exigiu, entretanto, a convocação de novas eleições legislativas, após o novo Governo anunciar que congelará até 2028 o início das negociações de adesão à União Europeia.

Numa conferência de imprensa realizada no palácio presidencial, Zurabishvili declarou que "a única saída para a atual situação é convocar novas eleições legislativas".

Zurabishvili, que acusa o partido no poder, Sonho Georgiano, de ter manipulado as recentes legislativas no país, afirmou: "Estamos a lutar para conseguir" uma repetição das eleições.

"Sou a única instituição legítima que resta no país, o movimento de resistência começa", sublinhou, perante os diplomatas acreditados na nação caucasiana e os líderes da oposição.

A chefe de Estado georgiana associou a decisão do novo Governo de congelar as negociações de adesão à UE às palavras de satisfação hoje proferidas pelo Presidente russo, Vladimir Putin, no Cazaquistão, onde saudou a coragem dos políticos georgianos pró-russos que defenderam o seu ponto de vista,

A Comissão Europeia já suspendeu "de facto" o processo de adesão da Geórgia devido a recentes medidas tomadas por Tbilissi - como uma controversa lei sobre agentes estrangeiros inspirada na Rússia e uma lei contra os interesses da comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e trans) -- que suscitaram preocupação em Bruxelas sobre o rumo antidemocrático do país.

Num relatório recente, Bruxelas advertiu que a lei sobre a influência estrangeira "vai contra os valores e princípios em que se baseia a UE" e sublinhou que "põe em risco a trajetória europeia da Geórgia", mantendo assim "de facto" congelada a adesão de Tbilissi ao bloco comunitário.

As recentes eleições legislativas na Geórgia, ocorridas em outubro, vieram também agravar esta crise de confiança.

A oposição, incluindo a presidente do país, Salome Zurabishvili, denunciou uma fraude eleitoral e a UE anunciou que enviará uma missão técnica para avaliar as irregularidades detetadas pelos observadores internacionais.

O Parlamento Europeu apelou hoje à repetição das eleições legislativas na Geórgia, no prazo de um ano, rejeitando os resultados "comprometidos por irregularidades" naquele país.

Em simultâneo, a assembleia europeia considerou que deviam ser impostas sanções e limitados os contactos com o Governo da Geórgia.

As restrições, sustentaram os eurodeputados, deviam incidir sobre os principais intervenientes governamentais da Geórgia, que são "responsáveis pelo retrocesso democrático, por violações das leis e regras eleitorais, e pela utilização abusiva das instituições estatais".

Na resolução aprovada, os 444 eurodeputados que votaram favoravelmente consideraram que a política do atual Governo georgiano é "incompatível" com o processo de integração no bloco comunitário, apesar de a Geórgia ser um país candidato.

A aproximação do Governo da Geórgia à Rússia liderada por Vladimir Putin impossibilita "qualquer avanço no sentido da adesão à UE".