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03 novembro 2024 às 11h30
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Preço médio dos carros elétricos está a subir há 4 anos, mas vai cair em 2025

A culpa é da aposta das marcas em veículos de gama alta cada vez mais caros, que já são 64% do mercado elétrico, e de uma estratégia de maximização do lucro. Em 2025 espera-se a curva descendente dos preços rumo à massificação e à meta de neutralidade carbónica.

Quando todos pensavam que o preço dos carros elétricos estava a baixar, afinal aumentou. O preço médio dos elétricos mais vendidos na Europa tem estado a subir desde 2020, contra todas as expetativas, apesar da descida significativa do custo das baterias e da concorrência asiática. Mas esperam-se boas notícias para 2025, já que o mercado antecipa uma quebra de preços a partir do próximo ano, com maior influência dos automóveis de marca chinesa no volume de vendas, mas também da disponibilização de modelos mais acessíveis por parte dos construtores europeus.

A Federação Europeia de Transportes T&E estima que os veículos elétricos representem entre 20% a 24% do mercado já no próximo ano, sobretudo graças ao lançamento previsto de cerca de uma dúzia de modelos com preços abaixo dos 25 mil euros nos próximos anos.

Se em 2020 o preço médio de um veículo na UE era de cerca de 40 mil euros (antes de impostos), este ano subiu cerca de 11% para 45 mil euros, indica uma análise da T&E deste mês, que teve por base as vendas de carros na Alemanha.

Quando se tenta encontrar uma explicação para esta evolução pouco lógica e contrária às expetativas dos consumidores, ela esconde-se nas opções tomadas pela indústria automóvel. As marcas têm reforçado a sua aposta em novos modelos cada vez maiores e do segmento premium, que custam também cada vez mais, concluiu aquela análise. Com efeito, as vendas de VE dos segmentos C, D e acima - que diz respeito aos SUVS e veículos de gama alta - mais do que duplicaram nos últimos quatro anos, passando de um quota de mercado de 28% para 64% em 2024. Ou seja, são claramente dominantes. Tal não significa que não existam no mercado veículos elétricos a preços em torno dos 20 mil ou 23 mil euros, como acontece em Portugal, mas representam uma minoria na mobilidade elétrica, que ainda é essencialmente burguesa.

Entre o grupo de fabricantes que contribuiram de modo mais expressivo para a subida dos preços médios encontram-se a Mercedes-Benz e a BMW, que aumentaram em mais 55% e 50%, respetivamente, o preço dos veículos, revela o estudo da T&E. Já no outro extremo, a Volvo Cars e o grupo Stellantis contrariam aquela tendência, tendo oferecido modelos mais acessíveis, com um custo de menos 31% no primeiro caso, e menos 4%, no segundo. Em Portugal alguns dos modelos citadinos mais baratos podem adquirir-se a partir dos 20.400 euros, antes de impostos, (Dacia Spring) ou dos 23.300 euros (Citroen C3), só para citar dois exemplos.

Marcas optam por maximizar o lucro

Algumas marcas parecem ter percebido que este é o momento de fazerem o máximo dinheiro possível com os segmentos mais altos, e menos sensíveis aos preços, antes de adotarem uma estratégia de maior massificação. E vão ter de começar a fazê-lo a partir de 2025, porque nos aproximamos da meta de 2035, ano a partir do qual será banida a construção de carros a combustão a partir de 2035, o que pressupõe a massificação dos elétricos. É claramente “uma estratégia de maximização de lucros”, aponta Lucien Mathieu, diretor da T&E para o setor dos automóveis. Não tem a ver com a procura, acrescenta. “Não deixa de ser irónico que as marcas que apostam em preços altos se queixem da falta de procura para os veículos elétricos”, observou aquele responsável num artigo publicado no site da organização.

Um estudo da Comissão Europeia revela que não há falta de vontade dos consumidores europeus em optar pelo modo elétrico, pelo contrário, a maioria (57%) quer fazer a transição energética. Mas o valor médio que estão dispostos a gastar é de apenas 20 mil euros (incluindo novos e usados), revela o mesmo estudo, o que não casa com a generalidade das ofertas disponíveis. Um inquérito da YouGov para a T&E concluiu que 35% dos novos compradores pretendem mudar para o elétrico no espaço de um an, se lhes for dada a opção de um veículo por 25 mil euros.

Sinais preocupantes no setor

A curva ascendente dos preços nos carros elétricos aconteceu em total contraciclo com a quebra registada nas baterias, cujo preço baixou 33% desde 2020. Na China essa descida foi ainda mais expressiva.

Já ao longo deste ano começaram a ser visíveis sinais de que a tendência vai ser de descida de preços. A Volkswagen, por exemplo, anunciou que o preço para a versão base do ID.3 iria ver o seu preço baixar de 36.900 euros para 29.600 euros, quase em paridade com o equivalente Golf, a 28.330 euros, indica a amostra da T&E.

Os sinais que pairam sobre a indústria automóvel europeia são, no entanto, pouco auspiciosos. A liderança chinesa no fator competividade está já a deixar os seus estragos no setor. O construtor alemão VW acaba de anunciar a intenção de encerrar pelo menos três fábricas na Alemanha, suprimir dezenas de milhares de postos de trabalho e reduzir em 10% os salários dos restantes trabalhadores, alegando uma situação económica séria e difícil.

É um movimento que já tinha sido antecipado nos últimos anos pelo presidente do Grupo Stellantis, Carlos Tavares, que tem chamado a atenção de Bruxelas, para a iminência de uma onda de despedimentos no setor por efeito da concorrência chinesa. Em causa estão os prazos, considerados demasiado apertados, para a indústria europeia abandonar os motores a combustão. A resposta da Comissão chegou através da intenção recentemente anunciada de impor tarifas aos automóveis chineses, o que não é aceite pela China, antevendo-se uma guerra comercial.