O primeiro-ministro de Israel pôs à prova os seus aliados ao solicitar ao secretário-geral das Nações Unidas para este retirar a missão da organização (UNIFIL) do sul do Líbano, alegando que esta está refém do movimento pró-iraniano Hezbollah. As incursões do exército israelita no sul do Líbano já resultaram no ferimento de cinco soldados e no domingo a missão acusou as forças de Telavive de invadirem uma posição sua.
A pressão para que o exército israelita aja de forma a respeitar a missão internacional aumentou nas últimas horas. O secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, mostrou ao homólogo israelita Yoav Gallant “profunda preocupação” com os relatos dos disparos contra os capacetes azuis. Antes, uma declaração da missão diplomática da Polónia na ONU a defender o respeito e a segurança da UNIFIL foi assinada por outros 39 países participantes e pela Suíça, país doador.
A primeira-ministra de Itália, cujo exército tem um contingente de 1068 pessoas no sul do Líbano, mostrou o seu desagrado ao homólogo israelita durante um telefonema. Segundo o Palácio Chigi, Giorgia Meloni disse a Benjamin Netanyahu que é “inaceitável” a UNIFIL ser alvo de ataques das forças israelitas e sublinhou a “necessidade absoluta de garantir a segurança do pessoal” das Nações Unidas. Além disso, Meloni - que tem estado na linha da frente do apoio a Israel - disse estar convencida de que, através da plena aplicação da resolução 1701, a qual prevê a cooperação com o exército libanês para assegurar não existirem outras forças no sul do Líbano (leia-se Hezbollah e exército israelita), “estabilizar-se a fronteira israelo-libanesa e garantir o regresso a casa de todas as pessoas deslocadas”. Também o líder da Igreja Católica, Francisco, na sua locução dominical, apelou para que “as forças de paz das Nações Unidas sejam respeitadas”.
“Israel vai fazer todos os esforços para evitar baixas na UNIFIL e vai fazer o que for preciso para ganhar a guerra”, respondeu Netanyahu na rede social X. “Infelizmente, vários líderes europeus estão a exercer pressão na direção errada. Em vez de criticarem Israel, que está a lutar na linha da frente pela civilização, deveriam dirigir as suas críticas ao Hezbollah e aos seus patrocinadores iranianos, que estão a utilizar a UNIFIL como escudos humanos”, concluiu.
Em paralelo, Netanyahu dirigiu-se a António Guterres, o secretário-geral da ONU considerado persona non grata por Telavive, para que este dê ordens de retirada à missão. “É tempo de retirar a UNIFIL dos bastiões e das zonas de combate do Hezbollah”, disse, tendo alegado de seguida que o pedido tem sido “constantemente rejeitado” por Guterres. “A sua recusa em retirar as forças da UNIFIL torna os seus membros reféns do Hezbollah e também põe em perigo a vida dos nossos soldados.”
Pouco antes, a missão da ONU queixou-se de nova violação do direito internacional, ao denunciar a invasão de um posto, na madrugada, de dois tanques de guerra israelitas. Telavive alegou que os militares israelitas estavam sob ataque do Hezbollah e que decorria uma operação de resgate de soldados feridos.
As forças israelitas dizem ter morto mais cem combatentes do Hezbollah. Em contrapartida, o grupo xiita lançou mais dezenas de projéteis para território israelita. Um “esquadrão de drones suicidas” atingiu a localidade de Binyamina, no noroeste de Israel, tendo ferido pelo menos 67 pessoas, quatro delas com gravidade.