Espanha
21 março 2024 às 23h27
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Puigdemont aposta nas eleições catalãs e defende lista conjunta com a ERC

Ex-presidente da Generalitat vai a votos a 12 de maio e abdica de tentar a reeleição como eurodeputado nas europeias de junho.

Carles Puigdemont anunciou esta quinta-feira que será candidato às eleições catalãs de 12 de maio para “acabar o trabalho” da independência da Catalunha que começou quando esteve na presidência da Generalitat. Exilado na Bélgica para escapar à justiça espanhola após o referendo ilegal de outubro de 2017, Puigdemont abdica de tentar a reeleição como eurodeputado nas europeias de 9 de junho e promete regressar se tiver maioria para conseguir formar Governo. E defendeu uma lista conjunta entre o seu Junts per Catalunya e a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC).

“Vou concorrer às próximas eleições para o Parlamento catalão”, disse diante de cerca de mil apoiantes que, segundo o Junts, encheram uma sala da câmara de Elne - a localidade francesa junto à fronteira espanhola onde se guardaram parte das dez mil urnas usadas no referendo ilegal de 1 de outubro de 2017. “Agora que se abre a oportunidade de restituir a presidência ilegitimamente e ilegalmente destituída pelo 155.º [o artigo da Constituição que o governo de Mariano Rajoy usou em 2017 para suspender a autonomia catalã após o referendo ilegal], não faz sentido que rejeite esta responsabilidade por comodidade pessoal”.

Puigdemont deixou claro que, se vencer e for candidato à investidura, deixará o exílio para procurar pessoalmente o apoio do Parlamento catalão como novo presidente da Generalitat. O líder do Junts per Catalunya irá beneficiar da lei da amnistia (é só uma questão de tempo a sua aprovação no Senado, apesar das tentativas do Partido Popular para a travar), mas poderá não estar livre da justiça espanhola que o investiga por suspeitas de terrorismo e de traição.

O ex-líder catalão lançou ainda um apelo à união do campo independentista. “Nunca deixarei de pedir unidade, correndo o risco de ficar a pregar no deserto. Quando mais avançámos foi unidos”, defendeu. “A minha candidatura terá que ir mais além da sigla do Junts. Terá que incorporar perfis de outros setores. Só se recuperarmos a unidade teremos possibilidades. Para o país, não houve qualquer benefício indo separados”, disse. 

Puigdemont chegou ao poder na Catalunha em 2015, após a vitória eleitoral da coligação Junts pel Sí (Juntos pelo Sim), que unia todos os partidos independentistas (à exceção da Candidatura de Unidade Popular) a grupos da sociedade civil. A campanha focou-se na ideia de plebiscito à independência da Catalunha. Conseguiram eleger 62 dos 135 deputados, tendo com os dez representantes da CUP maioria suficiente para avançar com o referendo de outubro de 2017.

Essa coligação eleitoral nunca mais se repetiu, dando lugar apenas uma aliança pós-eleitoral entre o recém-criado Junts per Catalunya de Puigdemont (centro-direita) e a ERC. Mas mesmo esta acabou por falhou no mandato do atual presidente da Generalitat, Pere Aragonès, que resolveu antecipar as eleições depois de não ter conseguido aprovar o orçamento. A ERC lamentou esta quinta-feira a proposta de lista única depois de o Junts não ter dado luz verde ao orçamento, defendendo segundo o El País que há espaço para “refazer pontes” mas não para ir unidos às eleições.

A última sondagem do Centro de Estudos de Opinião da Generalitat (feita antes da convocação das eleições mas só conhecida esta quinta-feira), volta a dar a vitória aos socialistas catalães (já ganharam em 2021, mas sem maioria para governar). Elegeriam entre 35 e 42 deputados (têm 33), à frente da ERC (26 a 32, quando têm também 33) e do Junts (de 32 passariam a 24 a 29). O PP teria entre 9 e 13 (tem 3) tal como o Vox (tem 11) e a Catalunya en Comú entre 8 e 13 (tem 8). A CUP teria 7 a 10 (tem 9). A maioria absoluta independentista está em risco.

susana.f.salvador@dn.pt