Guerra na Ucrânia
27 fevereiro 2024 às 08h39
Atualizado em 27 fevereiro 2024 às 11h27
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Macron não exclui envio de tropas ocidentais. "Não é de todo do interesse destes países", responde Kremlin

"Faremos tudo o que for necessário para garantir que a Rússia não possa vencer esta guerra", garantiu o presidente francês. Já esta terça-feira, o primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, não excluiu a possibilidade de enviar tropas para combater a invasão russa da Ucrânia.

O presidente francês Emmanuel Macron frisou na segunda-feira que o envio de tropas ocidentais para a Ucrânia não deve "ser descartado" no futuro, anunciando ainda uma coligação para a entrega de mísseis de médio e longo alcance a Kiev. 

A Rússia reagiu esta terça-feira. "Não é de todo do interesse destes países. Eles devem estar cientes disso", disse Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin aos jornalistas, afirmando que a simples menção da possibilidade dos países ocidentais enviarem tropas para território ucraniano constitui "um novo elemento muito importante" no conflito.

Questionado sobre quais os riscos de um conflito direto entre a Rússia e a NATO, caso os países membros da Aliança Atlântica decidam enviar as suas tropas para a Ucrânia, Peskov, citado pelo The Guardian, afirmou: “Nesse caso, precisaríamos falar não sobre a probabilidade, mas sobre a inevitabilidade" de um conflito direto.  

O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, também já fez saber que "não há planos" para o envio de tropas da Aliança Atlântica para a Ucrânia.

"Os aliados da NATO estão a fornecer um apoio sem precedentes à Ucrânia. Temos feito isso desde 2014 e intensificado após a invasão em grande escala", disse Stoltenberg em declarações à AP.

O governante francês referiu, numa reunião de alto nível que o próprio convocou em Paris na segunda-feira, e na qual Portugal esteve representado pelo primeiro-ministro, António Costa, que foi decidido avançar com "uma economia de guerra" e "criar uma coligação para ataques profundos e, portanto, mísseis e bombas de médio e longo alcance".

Ainda antes do encontro, o primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, avançou que alguns países ocidentais estão a considerar acordos bilaterais para enviar tropas para a Ucrânia.

Macron, por sua vez, não descartou o envio de forças militares para a Ucrânia, embora tenha reconhecido que neste momento não há consenso a esse respeito.

"Não há consenso hoje para enviar tropas terrestres de forma oficial, assumida e endossada. Mas dinamicamente, nada deve ser excluído. Faremos tudo o que for necessário para garantir que a Rússia não possa vencer esta guerra", explicou o Presidente francês, citando uma "ambiguidade estratégica" que aceita.

"Não disse de todo que a França não era a favor disso", vincou ainda.

Macron aludiu a "cinco categorias de ação" nas quais as autoridades europeias concordaram em investir recursos: "a ciberdefesa, a coprodução de armas e munições na Ucrânia, a defesa dos países diretamente ameaçados pela Rússia, em particular, a Moldova, e a capacidade de apoiar a Ucrânia na sua fronteira com a Bielorrússia e em operações de desminagem".

O governante apontou que os aliados de Kiev devem "fazer mais" no que diz respeito ao envio de recursos militares para a Ucrânia.

"Existem várias opções em cima da mesa, como a emissão conjunta de dívida" para a Ucrânia, explicou.

Considerado a "prioridade das prioridades" as munições, Macron garantiu que os aliados estão "determinados a chegar ao fim das reservas disponíveis".

"De acordo com a nossa análise (...). A Rússia continua a guerra e a sua conquista territorial, contra a Ucrânia, mas contra todos nós em geral (...). Estamos convencidos de que a derrota da Rússia é essencial para a segurança e a estabilidade em Europa", sublinhou.

O presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou ainda que os líderes internacionais, incluindo da União Europeia (UE), devem preparar-se "para que a Rússia ataque", devendo por isso "fazer mais" para apoiar a Ucrânia, de forma a que ganhe a guerra.

"Nos últimos meses, todos nós fomos sujeitos a mais ataques em termos de informação e de ciberataques e, ao mesmo tempo, verifiquei que praticamente todos os países representados à volta desta mesa puderam dizer [...] que o consenso, a análise coletiva era que, dentro de alguns anos, deveríamos estar preparados para que a Rússia ataque", declarou Emmanuel Macron.

Já esta terça-feira, o primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, não excluiu a possibilidade de enviar tropas para combater a invasão russa da Ucrânia.

"Não podemos excluir nada numa guerra que, mais uma vez, está a acontecer no coração da Europa e às portas da União Europeia", disse Gabriel Attal, citado pelo canal de televisão francês RTL.

Attal lembrou que "há dois anos", muitos países "excluíam o envio de armas", incluindo armas de defesa, aos ucranianos.

"Hoje estamos a enviar mísseis de longo alcance para apoiar os ucranianos face a esta agressão", sublinhou o governante.

Attal disse que a França não aceita que "a Rússia possa vencer esta guerra" e que o Presidente russo Vladimir Putin possa "dizer que assumiu o controlo de outro país livre e democrático através da força".

O primeiro-ministro francês recordou que a Suécia e a Finlândia, historicamente neutras, decidiram aderir à NATO porque veem uma ameaça a chegar.

"Não quero que a minha geração e as gerações que vierem cresçam num mundo de ameaças", acrescentou Attal.

Também esta terça-feira, o primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, disse que o envio de tropas para a Ucrânia "não está na ordem do dia" neste momento, numa altura em que o país está prestes a tornar-se membro da NATO.

"Não está na ordem do dia neste momento", disse Kristersson à estação sueca SVT, em resposta aos comentários do Presidente francês Emmanuel Macron. "Por enquanto, estamos ocupados a enviar equipamento avançado para a Ucrânia [de diferentes formas]", sublinhou o primeiro-ministro sueco.

No dia 20 de fevereiro, Estocolmo anunciou um montante recorde de ajuda militar (o 15.º pacote) a Kiev, sob a forma de equipamento no valor de 633 milhões de euros, incluindo munições de artilharia, navios de guerra, sistemas antiaéreos e granadas.

"Não existe qualquer pedido" do lado ucraniano para a presença de tropas terrestres, afirmou Ulf Kristersson acrescentado que "a questão não é atual".

"Os países têm tradições diferentes de empenhamento" na cena internacional disse o primeiro-ministro frisando que "a tradição francesa não é a tradição sueca", referindo-se assim à posição demonstrada pelo chefe de Estado francês.

A Suécia envia tropas para contingentes de manutenção da paz, mas não se envolve numa guerra desde um conflito com a Noruega em 1814.

Na segunda-feira, o primeiro-ministro português assegurou, depois do encontro de alto nível, que "não há nenhum cenário em que essa questão se tenha colocado", para o envio de tropas por países da NATO.

António Costa comparou a invasão russa da Ucrânia à ocupação de Timor-Leste pela Indonésia, afirmando esperar que o direito internacional prevaleça em território ucraniano.

Dois dias depois de se terem assinalado os dois anos da invasão russa do território ucraniano e numa altura em que a Ucrânia corre risco de ficar sem liquidez no final de março, o Presidente francês convocou uma reunião de alto nível em Paris para analisar os meios disponíveis para reforçar a cooperação entre os parceiros no apoio à Ucrânia.