IEFP
23 abril 2024 às 07h10
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Desemprego tem pior momento desde a pandemia, oferta de emprego também

Setores mais fustigados no primeiro trimestre são as atividades imobiliárias, a dupla alojamento e restauração. Indústria do couro e calçado teve subida impressionante de 77%.

O número de pessoas inscritas como desempregadas nos centros de emprego públicos (rede do IEFP - Instituto do Emprego e Formação Profissional) registou, no primeiro trimestre deste ano, o maior aumento desde o pior momento da pandemia (primeiro trimestre de 2021), indicam dados oficiais do instituto tutelado pelo Ministério do Trabalho.

O volume de ofertas de emprego por parte de empresas também está em forte declínio, tendo baixado ao ritmo mais elevado desde esse início de 2021, de acordo com um levantamento feito pelo DN/Dinheiro Vivo.

Recorde-se que no começo de 2021, quando se vivia a fase mais letal da doença covid-19, a economia mais baseada em contactos pessoais estava praticamente paralisada por causa dos confinamentos decretados para travar a circulação do vírus. Muitas empresas faliram, outras foram obrigadas a fechar portas temporariamente, ou a reduzir drasticamente a atividade.

Segundo o IEFP, em março deste ano, o total de desempregados registados no País foi superior ao verificado no mesmo mês de 2023, em mais 18 459 casos, ou seja, um aumento homólogo de 6%. No final do primeiro trimestre havia 324 616 pessoas sem trabalho registadas nos serviços de emprego.

“Para o aumento do desemprego registado, face ao mês homólogo de 2023, na variação absoluta, contribuíram os inscritos há menos de 12 meses (+19 204), os que procuram um novo emprego (+17 029) e os detentores do ensino secundário (+16 365)”, explica o IEFP na nova síntese de informação mensal.

De acordo com dados também ontem divulgados, em março, o número de beneficiários de prestações de desemprego em março aumentou 9,1% em termos homólogos, para 195 359 pessoas.
Significa isto que mais de um terço dos desempregados não auferem qualquer tipo de apoio contra a situação de desemprego. Cerca de 64% do total (195 359) têm subsídio.

Oferta de empregos esvai-se

O retrato do mercado de trabalho feito pelo IEFP também sinaliza outra situação preocupante: uma forte retração nas ofertas de trabalho através da rede do IEFP.

Com as taxas de juro em níveis muito elevados, muitas empresas estarão a sentir dificuldades em ampliar ou manter os seus negócios. As ofertas de emprego no final do primeiro trimestre fixaram-se em apenas 12,1 mil, uma quebra de 27% face a igual período do ano passado.

“As ofertas de emprego por satisfazer, no final de março de 2024, totalizavam 12 113 nos Serviços de Emprego de todo o País. Este número corresponde a uma diminuição das ofertas na análise anual (-4509; -27,1%)”, confirma.

Dito isto, é preciso recuar a 2020 para se encontrar uma redução maior nas ofertas de emprego no primeiro trimestre, mostra o mesmo levantamento feito pelo DN/DV com recurso a dados do IEFP.

O desemprego é um fenómeno grave, sobretudo na atual conjuntura de juros em máximos e perda de poder de compra no cabaz alimentar (que continua a ser amplamente penalizado pela inflação muito elevada), mas é sobretudo crítico para as famílias onde o casal (casamentos e uniões de facto) tem as duas pessoas sem trabalho em simultâneo. Segundo o IEFP, o número de casos em que ambos os elementos do casal estão desempregados aumentou quase 6% entre março de 2023 e igual mês deste ano (para 5032 casos), o maior aumento desde o tempo da pandemia (março de 2021).

Norte, imobiliário, alojamento e restauração no vermelho

Segundo o Instituto, que até março foi tutelado pela ex-ministra Ana Mendes Godinho e agora está sob a égide da sua sucessora Maria Palma Ramalho, o maior contributo para a subida total do desemprego registado (+19,1 mil casos em termos absolutos) vem da região Norte (8,5 mil casos registados, metade, portanto), mas a maior subida homóloga acontece no Algarve (mais 14%).

A mesma nota estatística indica que os setores mais fustigados pelo desemprego no primeiro trimestre deste ano são as Atividades Imobiliárias (mais 9,6 mil pessoas registadas nos centros do IEFP face a março de 2023); Alojamento e Restauração (mais 3,2 mil pessoas sem trabalho); Indústria do couro e calçado (mais 1,9 mil desempregados e a maior subida homóloga, uns impressionantes 77%).

O setor do fabrico de vestuário acrescentou mais mil desempregados à lista do IEFP, sendo o quarto pior caso setorial em termos evolutivos.

Só houve um setor onde o desemprego do IEFP não subiu: banca e seguros, onde o número de registados caiu 36 pessoas.

Cenários benignos

Apesar deste retrato pouco favorável, as principais instituições continuam a apontar para uma estabilização da taxa de desemprego e para um dinamismo do emprego, ainda que ligeiro.

Segundo o FMI, que tem as contas mais recentes, a criação de emprego esperada para este ano até é significativamente mais forte do que diz o Governo (ambas assumindo políticas invariantes, apenas o efeito do Orçamento do Estado de 2024 já aprovado e em vigor).

O Fundo aponta para um acréscimo líquido de 1% no emprego nacional, ao passo que o Governo PSD-CDS só vê uma subida de 0,4% na atualização ao Programa de Estabilidade (PE 2024-2028). É mais do dobro, segundo diz o FMI.

No desemprego, idem. A instituição liderada por Kristalina Georgieva prevê uma pequena descida da taxa de desemprego de 6,6% da população ativa em 2023 para 6,5% este ano. O PE 2024-2028 antevê uma subida ligeira de 6,5% para 6,7%.

luis.ribeiro@dinheirovivo.pt