Guerra
20 setembro 2024 às 22h45
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O plano energético da Europa para ajudar a Ucrânia a sobreviver ao próximo inverno

Bruxelas pretende cobrir cerca de 25% das necessidades do país com a exportação de eletricidade e a reparação de infraestruturas. Vai também enviar painéis solares para 21 hospitais, oito dos quais deverão estar equipados em breve.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou esta sexta-feira em Kiev planos para Bruxelas emprestar à Ucrânia 35 mil milhões de euros obtidos com receitas de ativos russos congelados e prometeu ajudar o país a “manter-se aquecido” antes do terceiro inverno de guerra com a Rússia. Um conflito que, segundo as contas da BBC e do site independente russo Mediazona publicadas esta sexta-feira, já matou cerca de 70 mil soldados de Moscovo. O Wall Street Journal informou esta semana que foram mortos ou feridos um milhão de soldados dos dois lados em confronto.

A preocupação de Bruxelas com os meses mais frios na Ucrânia é partilhada pela Agência Internacional de Energia (AIE), que garantiu que Kiev enfrenta o seu “teste mais severo” até agora neste inverno, com a expectativa de que Moscovo lance outra campanha de bombardeamentos sobre as infraestruturas energéticas já danificadas do país. Nos dois invernos anteriores, milhares de ucranianos ficaram regularmente sem energia e aquecimento.

Neste sentido, von der Leyen e Fatih Birol, o diretor executivo da AIE, apresentaram na quinta-feira um relatório com dez medidas que precisam de ser tomadas para aumentar a segurança energética da Ucrânia e reduzir as suas vulnerabilidades. No documento é referido que, desde o início da guerra foi destruído na Ucrânia o equivalente à capacidade total energética dos três países do Báltico, o que se traduz numa lacuna significativa entre o fornecimento de eletricidade disponível e o pico de procura no próximo inverno.

Entre as medidas do plano estão o fortalecimento da segurança física e cibernética de infraestruturas energéticas críticas, investimento na eficiência energética, agilizar a entrega de equipamentos e peças de substituição, acelerar a descentralização do fornecimento de eletricidade e aumentar a capacidade de importação de gás da União Europeia. Ou como Ursula von der Leyen descreveu: reparar, conectar e estabilizar. 

“Vejamos primeiro a reparação dos elementos: 80% das centrais térmicas da Ucrânia foram destruídas e um terço da sua capacidade hidroeléctrica. Portanto, é aqui que concentraremos os nossos esforços de reparação, com o objectivo de restaurar 2,5 gigawatts de capacidade neste inverno. Isto representa aproximadamente 15% das necessidades da Ucrânia”, explicou a líder da Comissão, adiantando que “neste momento, há uma central térmica completa que está a ser desmantelada na Lituânia e enviada peça por peça para a Ucrânia, com o nosso apoio, e depois será reconstruída na Ucrânia”. 

Quanto à conexão, ou seja a exportação de eletricidade para a Ucrânia, o objetivo da UE é chegar aos 2 GW, o que cobre cerca de 12% das necessidades do país no inverno. “Compensa, por exemplo, o equivalente à perda de produção de energia da central de Zaporíjia”, disse von der Leyen. 

Bruxelas também tenciona, como é sugerido pela AIE, investir na instalação de turbinas eólicas, painéis solares, bombas de calor e baterias no país a médio e longo prazo, de forma a melhorar a sua autonomia energética, aquilo a que a líder comunitária apelida de estabilizar. “Estamos, por exemplo, a enviar painéis solares para 21 hospitais no país para garantir o fornecimento contínuo de energia. Oito deles deverão estar totalmente equipados neste inverno”, adiantou a alemã.

Do lado dos países da União Europeia, os últimos dois invernos também trouxeram desafios energéticos devido à guerra na Ucrânia e à dependência que existia em relação ao gás russo. A semana passada, Bruxelas tornou público o mais recente Relatório sobre o Estado da União da Energia, com a comissária Kadri Simson a sublinhar que “juntos conseguimos pôr fim a décadas de dependência dos combustíveis fósseis russos”. 

Uma declaração que ainda não é totalmente verdadeira, pois, segundo a comissária, “costumávamos importar 150 mil milhões de metros cúbicos de gás da Rússia todos os anos, e agora são menos de 50. A nossa dependência da Rússia desceu de 45% em 2021 para 15% no ano passado”. 

“Continuamos totalmente empenhados em concluir a eliminação progressiva do gás russo, que pode ser feito sem desafiar a segurança de aprovisionamento da Europa. Como primeiro passo, em conjunto com os Estados-membros, temos vindo a prepararmo-nos para o fim do acordo de trânsito de gás através da Ucrânia, o que já fizemos por vários meses. Começámos a prepararmo-nos há dois anos. A UE está pronta para viver sem este gás russo proveniente da rota de trânsito ucraniana”, referiu ainda a comissária estónia, sublinhando que “enquanto olhamos para o próximo inverno, o armazenamento de gás na UE atingiu a meta de aprovisionamento de 90% a 19 de agosto, semanas antes do prazo legislativo de 1 de novembro. Os europeus também diminuíram o consumo de gás em 18% entre 2022 e 2024, o que é igualmente mais do que a meta que estabelecida inicialmente”. 

ana.meireles@dn.pt