Nome grande do firmamento de Hollywood, mulher e musa de John Cassavetes, Gena Rowlands morreu no dia 14 de agosto na sua casa de Indian Wells, na Califórnia. Em finais do mês de junho, o filho Nick Cassavetes informara os meios de comunicação da frágil condição de saúde da mãe, há cinco anos atingida pela doença de Alzheimer – contava 94 anos.
É provável que os espectadores mais jovens desconheçam a sua presença decisiva na obra de John Cassavetes – incluindo Faces/Rostos (1968), símbolo da “nova vaga” de Hollywood –, identificando-a sobretudo com The Notebook/O Diário da Nossa Paixão (2004), um dos filmes em que foi dirigida, precisamente, por Nick Cassavetes, tendo como base um “best-seller” de Nicholas Sparks. Alguns anos mais tarde, surgiria também no elenco de Broken English/Uma Americana em Paris (2007), longa-metragem de estreia da sua filha Zoe Cassavetes.
Ainda que as suas mais notáveis composições não se esgotem nos filmes do marido – lembremos Uma Outra Mulher (1988), de Woody Allen, contracenando com Mia Farrow e Gene Hackman –, foi com John Cassavetes que Gena Rowlands acedeu à nobreza artística de Hollywood. O facto parece contraditório, uma vez que Cassavetes é muito justamente associado a um conceito de “independência” no interior do sistema, mas é com o seu filme Uma Criança à Espera (1963), produzido por uma “major” de Hollywood (United Artists), que ela começa a revelar um invulgar talento – recorde-se que esse subtil retrato de um hospital para doentes mentais foi o penúltimo filme de Judy Garland.
Obteve duas nomeações para o Óscar de melhor atriz, em ambos os casos dirigida pelo marido: Uma Mulher sob Influência (1974), centrado numa personagem cuja doença mental vai decompondo todas as suas relações sociais, e Gloria (1980), reconvertendo, no feminino, os modelos de personagens masculinas do cinema “noir” da década de 40. O primeiro, cujo argumento foi sugerido pela própria Gena Rowlands, ficou como um dos projectos mais pessoais de John Cassavetes, produzido com o seu próprio dinheiro e o apoio financeiro de vários amigos (incluindo Peter Falk, intérprete da personagem do marido); o segundo tem chancela da Columbia, outro grande estúdio de Hollywood – logo a seguir, Gena Rowlands e John Cassavetes participariam, apenas como actores, numa versão moderna da Tempestade (1982), de Shakespeare, realizada por Paul Mazursky. Quanto aos Óscares, receberia uma estatueta honorária em 2016.
Vimo-la também em títulos tão diferentes como Tony Rome Investiga (1967), policial de Gordon Douglas protagonizado por Frank Sinatra, Luz do Dia (1987), realização de Paul Schrader com Michael J. Fox no universo de uma banda rock, Noite na Terra (1991), filme de “sketches” assinado por Jim Jarmusch, ou A Bíblia de Neon (1995), admirável melodrama do inglês Terence Davies.