Aproveitando um despacho da ANI (Agência de Notícias e Informações, a Lusa do tempo), o DN de 7 de fevereiro de 1974 noticia a pouca vergonha que ia em Goa, por nostálgico contraste com o tempo em que aquele território indiano era administrado por portugueses.
A notícia, na página 7 da edição de 7 de fevereiro de 1974 do DN, fala numa crónica publicada no matutino britânico The Guardian. Título: “Drogas e orgias campeiam em Goa”. Pós-título: “As classes goesas mais altas continuam a falar português e recordam os bons velhos tempos”. Estava então o tom dado, para que nenhuma dúvida restasse ao leitor. Juntava-se o ressentimento pós-colonial dos britânicos ao dos portugueses.
Assim, o que era sublinhado era uma carta de uma senhora de Goa ao matutino britânico, senhora que assinou “Teresa Fernandes”, onde denunciava a participação da juventude de Goa “em sessões de droga e orgias frequentes” no território, acontecendo estas “especialmente nas noites de luar” e explorando-se a “sonolência da polícia”.
“Carta de Goa - uma casa de hippies e nudistas”: assim intitulou Teresa Fernandes a sua missiva ao The Guardian. O cronista, o jornalista Walter Schwarz, aproveitou a carta para acrescentar que “quando os portugueses aqui estavam não havia hippies”. Mas depois, aproveitando o facto de Goa ter “quilómetros de praias tropicais” com “temperaturas balsâmicas” e “droga a baixo preço”, a que se juntavam “autoridades indolentes”, o território tornou-se num “santuário” para “adeptos da contra cultura” vindos da Europa e da América.
O cronista terá mesmo sublinhado que o que mais chocava algumas pessoas em Goa - onde “o catolicismo dos portugueses se mistura com o puritanismo hindu” - não era tanto o consumo de drogas pelos hippies mas o facto de praticarem nudismo.
Concluindo a sua crónica, Schwarz observava que as “classes mais altas goesas” continuavam a “falar o português”, recordando nas suas conversas “os bons velhos tempos” em que Goa estava sob bandeira portuguesa.
A União Indiana tornou-se um país independente (do Reino Unido) em 1948. Salazar recusou negociar Goa com as novas autoridades. Estas invadiram o território em 1961. Portugal só reconheceu que Goa deixara de ser território nacional depois do 25 de Abril .