Reino Unido / Eleições
05 julho 2024 às 07h54
Atualizado em 05 julho 2024 às 09h43
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Partido Trabalhista assegura maioria absoluta. "A mudança começa agora", declara Keir Starmer, futuro PM

Depois de 14 anos de governos conservadores, o Partido Trabalhista conquista a maioria absoluta nas legislativas do Reino Unido. País "tem a oportunidade de recuperar o seu futuro", declara o primeiro-ministro britânico eleito, Keir Starmer.

O primeiro-ministro britânico eleito, Keir Starmer, declarou esta sexta-feira que "a mudança começa agora" para o país que, depois de 14 anos de governos conservadores, pode "recuperar o seu futuro".

"Tenho de ser sincero, sabe bem. Quatro anos e meio de trabalho, a mudar o partido. Foi para isto que o fizemos, um partido transformado, pronto a servir o nosso país, pronto a recuperar o Reino Unido ao serviço dos trabalhadores", disse, depois de garantir a vitória nas legislativas britânicas, num discurso proferido em Londres para os militantes trabalhistas, transmitido pela televisão.

"Em todo o nosso país, as pessoas vão acordar com a notícia, aliviadas pelo facto de um peso ter sido retirado, um fardo finalmente removido dos ombros desta grande nação", congratulou-se.

O líder trabalhista anunciou que o Reino Unido pode "olhar de novo em frente e caminhar para a manhã, para um raio de sol de esperança, pálido no início, mas cada vez mais forte ao longo do dia, brilhando mais uma vez num país que, após 14 anos, tem a oportunidade de recuperar o seu futuro".

Starmer reconheceu que o mandato dado ao partido acarreta uma "grande responsabilidade" e que "as vitórias eleitorais não caem do céu, são conquistadas com esforço e com muita luta.

"Não vos prometo que vai ser fácil. Mas mesmo quando as coisas se tornarem difíceis, e vão ser, lembrem-se desta noite", salientou.

O Partido Trabalhista assegurou a maioria absoluta nas legislativas britânicas de quinta-feira ao eleger mais do que 326 deputados. 

Quando faltava atribuir oito dos 650 lugares, os trabalhistas tinham conseguido 410 deputados, uma margem significativa em relação aos 326 necessários para ter uma maioria no parlamento, indicam os resultados provisórios divulgados pela televisão britânica BBC.

De acordo com projeções, o Partido Trabalhista vai eleger 410 dos 650 deputados, enquanto o Partido Conservador cai para 131.

O partido dos Liberais Democratas vai ser o terceiro com maior representação parlamentar, elegendo 61 deputados, ultrapassando o Partido Nacional Escocês (SNP), que desce para 10.

As projeções preveem que o Partido Reformista (Reform UK), antigo Partido do Brexit, consiga 13 deputados.

Sunak: "Assumo a responsabilidade pela derrota"

O ainda primeiro-ministro, Rishi Sunak, reconheceu a vitória do Partido Trabalhista nas eleições legislativas britânicas e pediu desculpa aos Conservadores pela perda de muitos deputados. 

"O Partido Trabalhista ganhou estas eleições gerais, e telefonei a Keir Starmer para o felicitar pela vitória", disse Sunak, num discurso proferido depois de conhecida a reeleição pelo círculo de Richmond and Northallerton, em Yorkshire, no norte de Inglaterra.

"Hoje, o poder vai mudar de mãos de forma pacífica e ordeira, com boa vontade de todas as partes. Isso é algo que nos deve dar a todos confiança na estabilidade e no futuro do nosso país", saudou. 

Sunak admitiu "o veredicto sóbrio" dado pelos eleitores e que "há muito a aprender e a refletir" sobre os resultados. 

"Assumo a responsabilidade pela derrota dos muitos candidatos conservadores que trabalharam arduamente e que perderam esta noite, apesar dos esforços incansáveis, do historial local de resultados e da dedicação às comunidades. Lamento", declarou.

O mais jovem primeiro-ministro desde 1812, Sunak é deputado desde 2015 e foi reeleito com 47,5% dos votos, à frente do trabalhista Tom Wilson, com 22,4%. 

Um total de 13 candidatos estavam no boletim de voto daquela circunscrição, o maior número em todo o país, incluindo Count Binface [traduzido por Conde Cara de Balde do Lixo], uma personagem criada pelo comediante Jon Harvey que já tinha concorrido contra os antigos primeiros-ministros britânicos Boris Johnson e Theresa May. 

Cinco membros do Governo conservador perdem lugar no Parlamento

Cinco membros do governo conservador britânico perderam os lugares de deputados nas eleições de quinta-feira.

Os ministros Grant Sharps (Defesa), Alex Chalk (Justiça), Gillian Keegan (Educação) e Johnny Mercer (Veteranos), e o secretário de Estado Justin Tomlinson (Energia) protagonizaram o chamado "momento Portillo" ao serem vítimas da "avalanche trabalhista".

O "momento Portillo" é a expressão usada no Reino Unido para descrever a derrota inesperada em 1997 do então ministro da Defesa, Michael Portillo, para um candidato trabalhista desconhecido, tornando-se num símbolo da vitória esmagadora de Tony Blair.

O atual ministro da Defesa foi derrotado pelo candidato trabalhista Andrew Lewiwn no círculo eleitoral de Welwyn Hatfield, que obteve 41% dos votos contra 33%, noticiou o jornal The Guardian, citado pela agência de notícias espanhola Europa Press.

Shapps atribuiu a derrota à consternação dos eleitores perante a incapacidade dos conservadores de resolverem as suas divergências em privado.

Apelou ao novo governo para utilizar os 2,5% do produto interno bruto (PIB) destinados à Defesa para continuar a apoiar a Ucrânia a defender-se da guerra da agressão da Rússia.

O "banho de sangue eleitoral" dos conservadores, como já lhe chamou a imprensa britânica, atingiu também o ministro da Justiça, Alex Chalk, que perdeu o lugar na Câmara dos Comuns para o candidato liberal democrata Max Wilkinson em Cheltenham.

A ministra da Educação, Gillian Keegan, foi derrotada por um candidato liberal democrata e o titular da pasta dos Veteranos perdeu para um trabalhista, tal como o secretário de Estado Justin Tomlinson. 

Já a antiga primeira-ministra conservadora britânica Liz Truss perdeu o lugar no círculo eleitoral de South West Norfork para o candidato trabalhista Terry Jermy. Truss, que esteve à frente do governo apenas 44 dias antes de ser forçada a demitir-se devido às repercussões financeiras de um plano fiscal radical, obteve 11.217 votos contra 11.847 dos trabalhistas.

Ao saber do resultado, a antiga chefe de governo foi fotografada a abraçar alguns apoiantes, mas não fez qualquer discurso, de acordo com a agência de notícias EFE.

Outras figuras importantes do Partido Conservador, como o vice-primeiro-ministro, Oliver Dowden, o ministro das Finanças, Jeremy Hunt, a ministra da Economia, Kemi Badenoch, e a antiga ministra do Interior Suella Braverman, seguraram lugares.

Eurocético Nigel Farage eleito deputado à oitava vez

 O antigo eurodeputado britânico Nigel Farage, atual líder do Partido Reformista (Reform UK) foi eleito, à oitava vez, pelo círculo de Clacton-on-Sea, no sudeste de Inglaterra, consolidando o avanço da formação de direita populista. 

Farage ganhou com 46,2% dos votos, superando o conservador Giles Watling (27,9%), até agora representante desta circunscrição, e o trabalhista Jovan Owusu-Nepaul (16,2%).

"Farei o meu melhor para colocar Clacton no mapa", nomeadamente, atraindo turistas e investimento privado, prometeu Farage, depois do anúncio dos resultados. 

Com este lugar, o Partido Reformista já elegeu três deputados, tendo a sondagem à boca das urnas divulgada pela BBC, ITV e Sky News previsto que poderá ocupar um total de 13 assentos na Câmara dos Comuns. 

Farage qualificou "de extraordinário" o feito do partido, que em poucas semanas e sem estrutura no país, conseguiu ficar em segundo lugar em muitas dos círculos eleitorais à frente dos Conservadores, o qual esteve 14 anos à frente do governo. 

"Não se trata apenas de desilusão com o Partido Conservador. Há uma enorme lacuna no centro-direita da política britânica e o meu trabalho é preenchê-la. E é exatamente isso que vou fazer", garantiu. 

Farage indicou que o plano é "construir um movimento nacional de massas ao longo dos próximos anos" para tentar ganhar as eleições legislativas de 2029. 

O deputado eleito disse acreditar que "este governo trabalhista vai ficar em apuros muito, muito rapidamente" e avisou que vai tentar angariar votos dos trabalhistas. 

"Não há entusiasmo pelos trabalhistas, não há entusiasmo por [Keir] Starmer. De facto, cerca de metade do voto é simplesmente um voto anticonservador", argumentou.

O político eurocético, de 60 anos, já tinha concorrido sete vezes ao parlamento britânico, sem sucesso, a primeira das quais há 20 anos atrás, em 1994. 

Farage foi líder do Partido pela Independência do Reino Unido (UKIP), o qual representou no Parlamento Europeu entre 1999 e 2019, quando foi reeleito pelo Partido do Brexit. 

A vitória dos trabalhistas coloca Keir Starmer enquanto líder do partido mais votado no caminho para ser indigitado primeiro-ministro pelo rei Carlos III e encarregado de formar governo, depois de confirmados os resultados finais. 

Em atualização

Líder do PS espera "que se inicie uma nova era de progresso e justiça social para todos".

O secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos usou as redes socias para dar os parabéns ao líder dos trabalhistas pela vitória nas eleições do Reino Unido.

"Felicito Keir Starmer e o povo britânico pela vitória histórica marcada por uma forte participação cívica", começou por escrever o líder socialista na rede social X. 

Pedro Nuno Santos terminou a mensagem ao desejar "que se inicie uma nova era de progresso e justiça social para todos".