Livros da Semana
17 junho 2024 às 07h06
Leitura: 5 min

O fim do planeta Terra já está escrito e não faltam muitos anos

A acreditar na trilogia de Liu Cixin, O Passado do Planeta Terra, o futuro da nossa civilização está ameaçado. A gigantesca narrativa que atravessa o volume final, 'A Morte Eterna', é uma visão gelada de um universo que nos é em muito desconhecido e repleto de surpresas

O mundo conhece a trilogia do escritor chinês Liu Cixin mais pelo nome do primeiro volume, O Problema dos Três Corpos, do que pelo verdadeiro título que agrupa a imensa saga com duas mil páginas. Não é importante, afinal é nesse velho problema irresolúvel da Física que se sustenta a história que construiu e que coloca ao leitor dois grandes problemas: como compatibilizar uma ficção-científica com uma possível realidade. Desde o primeiro volume que o leitor se confronta com uma dimensão do universo em muito diferente de tudo o que a imaginação e o conhecimento científico lhe permite. O espaço de Cixin é ao mesmo tempo frio e distante e fervilhante e próximo, e surge elaborado de uma forma inédita.

A acrescentar à relação de quem lê e do que é lido, surpreende a substância da matéria-prima vinda das ciências que utiliza para compor um relato em que o autor antecipa uma época em muito diferente à que o ser humano está a vivenciar e será capaz de conceber. Pode dizer-se sem margem de erro que o futuro pode ser mais inesperado e assustador do que tudo o que foi escrito neste género literário. E não faltaram até hoje grandes criadores que refletiram sobre a imensidão que nos cerca, como se pode ler em alguns dos títulos publicados nesta coleção da editora Relógio D’Água, como é o caso de Philip K. Dick com Sonhos Elétricos, Frank Herbert com Duna, H.G. Wells com A Guerra dos Mundos, Isaac Asimov com Eu, Robô.

Liu Cixin vai mais longe e cria um presente que receia um futuro não muito distante, no máximo a quatro séculos, e revela que o fim do planeta Terra já está escrito e não faltam muitos anos. Essa previsão estava bem presente em O Problema dos Três Corpos, e ficou demonstrado quanto basta no segundo volume, A Floresta Sombria, e confirma-se no último volume da trilogia agora publicado, A Morte Eterna. Em cada um destes livros desenvolve-se uma tese e faz-se a sua demonstração através de uma narrativa sempre suportada numa explicação bem distante das aventuras de «capa e espada» que as anteriores civilizações extraterrestres interpretaram no seu «desejo» de capturar a Terra para seu benefício.

A MORTE ETERNA
Liu Cixin
Relógio D’Água
702 páginas

Lançamentos

A Primeira Visita

O romance Contacto de Carl Sagan foi traduzido para português à data da sua publicação, em 1985, mas a maioria dos leitores conhecem a história por via do filme com o mesmo nome, protagonizado pela atriz Jodie Foster. O filme não ignora a estrutura do livro, sendo que a narrativa de Sagan impõe-se à versão cinematográfica por ser mais ampla, mesmo que muito preocupada em dar destaque ao cenário da Guerra Fria e da competição entre os EUA e a URSS, o grande motor da exploração espacial. Tudo começa com a fixação da cientista Ellie Arroway em escutar o universo em busca de sinais de vida extraterrestre. Uma busca infrutífera até à página 78, quando chega o momento para Sagan dar vida ao objetivo do romance: imaginar o primeiro contacto entre a humanidade e uma civilização dos confins do universo. Mesmo sendo o cientista considerado um dos maiores divulgadores científicos do espaço no seu tempo, a grande surpresa do livro é a capacidade de contar uma história sobre algo então impensável, com muitos detalhes da sociedade da época, das dúvidas religiosas que se sobrepõem, do choque com a tecnologia exterior, temas com uma capacidade de manter um intrincado suspense. A escolha da resposta alienígena é surpreendente: reenviar para a Terra a primeira emissão de televisão, o discurso de abertura dos Jogos Olímpicos de 1936 feito por Hitler.

Contacto
Carl Sagan
Gradiva
496 páginas

Compilações Proíbidas

O autor recorda a história de censura a livros que a muitos hoje parecerá estranha, afinal Joyce, Goethe, Flaubert, Proust, entre muitos outros, são escritores cujas obras estiveram no índex de proibições. Uma realidade que se mantém, contudo o historial que aqui é apresentado, bem como as suas razões e processos judiciais muito bem contados, justifica a leitura de um livro sobre livros que se queriam desaparecidos.

O Livro dos Livros Proíbidos
Werner Fuld
Edições 70
292 páginas