O mundo conhece a trilogia do escritor chinês Liu Cixin mais pelo nome do primeiro volume, O Problema dos Três Corpos, do que pelo verdadeiro título que agrupa a imensa saga com duas mil páginas. Não é importante, afinal é nesse velho problema irresolúvel da Física que se sustenta a história que construiu e que coloca ao leitor dois grandes problemas: como compatibilizar uma ficção-científica com uma possível realidade. Desde o primeiro volume que o leitor se confronta com uma dimensão do universo em muito diferente de tudo o que a imaginação e o conhecimento científico lhe permite. O espaço de Cixin é ao mesmo tempo frio e distante e fervilhante e próximo, e surge elaborado de uma forma inédita.
A acrescentar à relação de quem lê e do que é lido, surpreende a substância da matéria-prima vinda das ciências que utiliza para compor um relato em que o autor antecipa uma época em muito diferente à que o ser humano está a vivenciar e será capaz de conceber. Pode dizer-se sem margem de erro que o futuro pode ser mais inesperado e assustador do que tudo o que foi escrito neste género literário. E não faltaram até hoje grandes criadores que refletiram sobre a imensidão que nos cerca, como se pode ler em alguns dos títulos publicados nesta coleção da editora Relógio D’Água, como é o caso de Philip K. Dick com Sonhos Elétricos, Frank Herbert com Duna, H.G. Wells com A Guerra dos Mundos, Isaac Asimov com Eu, Robô.
Liu Cixin vai mais longe e cria um presente que receia um futuro não muito distante, no máximo a quatro séculos, e revela que o fim do planeta Terra já está escrito e não faltam muitos anos. Essa previsão estava bem presente em O Problema dos Três Corpos, e ficou demonstrado quanto basta no segundo volume, A Floresta Sombria, e confirma-se no último volume da trilogia agora publicado, A Morte Eterna. Em cada um destes livros desenvolve-se uma tese e faz-se a sua demonstração através de uma narrativa sempre suportada numa explicação bem distante das aventuras de «capa e espada» que as anteriores civilizações extraterrestres interpretaram no seu «desejo» de capturar a Terra para seu benefício.