O que faz o governador de Goiás, discreto estado no centro-oeste do Brasil, numa fotografia ao lado de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel em plena guerra com o Hamas e, talvez, com o Irão? Resposta: faz pré-campanha eleitoral para a presidência do Brasil, em 2026. Ronaldo Caiado (União Brasil) é, para já, o único candidato assumido a herdeiro do espólio eleitoral do inelegível Jair Bolsonaro (PL). Ou seja, é o único candidato assumido a tentar tirar Lula da Silva (PT) do poder logo ao primeiro mandato.
Porque era já Lula, que havia criticado Israel e Netanyahu dias antes, o alvo de Caiado naquela fotografia de 19 de março. Ao conseguir fotografar-se ao lado de um chefe de governo que o bolsonarismo adotou, por oposição à esquerda brasileira tradicionalmente mais próxima da questão palestiniana, o governador de Goiás, de 74 anos, marcou pontos na direita. O senão está do outro lado de Netanyahu na foto: Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo pelo Republicanos, estado mais influente e rico do que Goiás, e ainda favorito à corrida à sucessão de Bolsonaro, também foi a Telavive fazer uma espécie de marcação homem a homem a Caiado.
Tarcísio, porém, ainda não se assumiu como candidato porque está no primeiro mandato como governador e a tendência natural na política brasileira é que tente a reeleição estadual. Caiado, pelo contrário, já está no segundo, impedido, portanto, de se recandidatar outra vez e ansioso agora para trocar Goiânia pela vizinha Brasília.
“Depois de cinco mandatos de deputado federal, senador e governador já em segundo mandato, sinto-me maduro e preparado para colocar o país no rumo certo”, admitiu Caiado, último membro de uma linhagem de produtores rurais com forte presença na política goiana desde meados do século XIX, em entrevista no início do ano à Folha de Pernambuco. À Folha de S. Paulo, semanas depois, acrescentou que o eleitorado dele e o de Bolsonaro não diferem: “a minha trajetória de vida é exatamente no mesmo eleitorado dele”.
No Estado de São Paulo de domingo, 14, admitiu que é “um nome” em “boa posição” para se apresentar “como pré-candidato” pelo seu partido. E o jornal O Globo revelou que Antônio Carlos Magalhães Neto, eminência parda do União Brasil, está disposto a comandar a campanha do companheiro de partido e que já há mesmo marqueteiros contratados para o efeito.