Estado da Nação
17 julho 2024 às 08h00
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Maioria está insatisfeita com situação política (56%) e não acredita que Governo dure os quatro anos (53%)

Se houver uma crise que precipite eleições, Pedro Nuno Santos será o mais beneficiado (40%). Seguem-se André Ventura (27%) e Luís Montenegro (15%).

A maioria dos portugueses está insatisfeita (56%) com o estado do país político, de acordo com uma sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF. As eleições de março passado conduziram a um cenário fragmentado e instável no Parlamento e deram origem a um Governo minoritário. E 53% dos inquiridos não acreditam, por isso, que o Governo se aguente em funções até ao final da legislatura, em 2028.

Luís Montenegro enfrenta hoje, no Parlamento, o seu primeiro debate do Estado da Nação. Um primeiro-ministro que, depois de três meses em funções, é, indiscutivelmente, o político mais popular do país (59% dão-lhe nota positiva, de acordo com o barómetro mais recente). Mas, por outro lado, é um líder partidário que se arriscaria a perder Eleições Legislativas, se as houvesse (o PS regista uma vantagem de dois pontos sobre a AD nas intenções de voto, de acordo com a sondagem publicada domingo passado).

Cenário negativo

Estaríamos, na verdade, perante um empate técnico. Com um país ancorado à direita, graças ao Chega, o parceiro que a AD rejeita. E uma ala Esquerda que, mesmo com um PS na frente, não seria capaz de conquistar uma maioria. O mesmo cenário, afinal, que resultou das últimas Legislativas: fragmentação e instabilidade. Um cenário que 56% dos portugueses consideram negativo (um terço acha que é positivo). Um sentimento maioritário, note-se, em todos os segmentos da amostra (geografia, género, idade, classe social e voto partidário). Também os eleitores da AD estão insatisfeitos (49%).

Daí a concluir que o Governo não vai conseguir manter-se até ao final da legislatura parece um pequeno passo. E é isso que diz também uma maioria dos inquiridos (53%), ainda que, nesta matéria, se destaque a dissidência dos eleitores do PSD e CDS: 56% apontam para um Governo em funções até 2028. Acresce que a crença na capacidade de resistência de Luís Montenegro vai crescendo: em abril passado, e perante a mesma pergunta, eram apenas 21% os que acreditavam que fosse capaz de aguentar os quatro anos. Agora são 34%.

O primeiro grande teste a essa capacidade de resistência não será o debate do Estado da Nação, um momento de balanço que cairá rapidamente no esquecimento. O teste do algodão está marcado para setembro e outubro, com a discussão do Orçamento do Estado para 2025. Entre a maioria que adivinha um final precoce do Governo, essa é a principal barreira: 43% dizem que será o momento mais provável para nova crise política (28% apontam para o próximo ano e 22% para 2026).

Vantagem socialista

No caso de o Governo cair antes do tempo, quem teria mais a ganhar com nova dissolução da Assembleia da República e eleições antecipadas? As respostas a esta pergunta não apontam para maiorias, mas há uns mais favoritos do que outros: 40% dos inquiridos apontam para Pedro Nuno Santos e o PS (com destaque para os que têm 65 ou mais anos, com 52%); e 27% para André Ventura e o Chega (com destaque para os que têm 18 a 34 anos, com 38%).

O atual primeiro-ministro e o PSD (ou a AD, se a coligação com o CDS se mantiver em futuros atos eleitorais) só recolhem 15% de favoritismo. Que é uma outra forma de dizer que são quem tem mais a perder com uma eventual crise política. Até os eleitores da Aliança Democrática adivinham que a situação será mais vantajosa para Pedro Nuno Santos (38%), ainda que a diferença seja de apenas um ponto para Luís Montenegro (37%).

É na Justiça e na Saúde que a nação está em pior estado

Os portugueses estão pessimistas quanto ao Estado da Nação, de acordo com uma sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF. Quando se pede que avaliem seis áreas, o balanço é negativo, com destaque para a Justiça (79% dizem que a situação é má) e para a Saúde (69%). E quando se pergunta qual deveria ser o tema prioritário a levar por Luís Montenegro para o debate no Parlamento, a Saúde volta a estar em lugar de destaque (34%).

O barómetro político deste mês já indiciava que há um problema que preocupa os portugueses mais do que qualquer outro, com reflexos na avaliação aos membros do Governo. Se o primeiro-ministro é o político mais popular e os restantes ministros estão em maré alta, há uma exceção: a ministra com a tutela da Saúde, Ana Paula Martins, está em queda. E isso ajuda a explicar por que é a Saúde é o problema que os inquiridos consideram prioritário para o debate do Estado da Nação (34%), à frente de temas como a habitação (21%) ou os salários (20%).

A escolha deste tema revela que a Saúde é uma preocupação, mas o que demonstra verdadeiramente a insatisfação é o facto de 69% responderem que o estado da Saúde em Portugal é mau. Uma avaliação transversal a todos os segmentos da amostra, incluindo os que votam na AD (71%), e os que votam no PS (65%).

Pessimismo sénior

A Justiça é um tema mais distante do dia a dia dos cidadãos, mas está no foco mediático, em particular desde a demissão de António Costa, por causa de suspeitas do Ministério Público, que não se confirmaram. E é nesta área que os portugueses revelam maior pessimismo: 79% dizem que a situação é má, com destaque para os mais velhos (90%).

Neste catálogo de disfuncionalidades surge em terceiro lugar a Economia: 63% dizem que está em mau estado, percebendo-se que são os mais novos os mais insatisfeitos (75%). Praticamente no mesmo patamar estão o Emprego e a imigração (63% avaliam a situação como má, mas esta última área destaca-se pelos 30% que dizem ser muito má).

A fechar, a Educação, com 60% de insatisfação, verificando-se que é uma área que preocupa mais as mulheres do que os homens, da mesma forma que os mais velhos estão mais pessimistas do que os mais novos. Nos segmentos de voto partidários, os mais críticos são os eleitores da Iniciativa Liberal e do Livre.


rafael@jn.pt

FICHA TÉCNICA DA SONDAGEM
 
Sondagem de opinião realizada pela Aximage para DN/JN/TSF sobre temas da atualidade nacional política. Universo: indivíduos maiores de 18 anos residentes em Portugal. Amostragem por quotas, obtida a partir de uma matriz cruzando sexo, idade e região. A amostra teve 801 entrevistas efetivas: 682 entrevistas online e 119 entrevistas telefónicas; 390 homens e 411 mulheres; 176 entre os 18 e os 34 anos, 215 entre os 35 e os 49 anos, 197 entre os 50 e os 64 anos e 213 para os 65 e mais anos; Norte 285, Centro 177, Sul e Ilhas 110, A. M. Lisboa 229. Técnica: aplicação online (CAWI) de um questionário estruturado a um painel de indivíduos que preenchem as quotas pré-determinadas para pessoas com 18 ou mais anos; entrevistas telefónicas (CATI) do mesmo questionário ao subuniverso utilizado pela Aximage, com preenchimento das mesmas quotas para os indivíduos com 50 e mais anos e outros. O trabalho de campo decorreu entre 3 e 8 de julho de 2024. Taxa de resposta: 75,32%. O erro máximo de amostragem deste estudo, para um intervalo de confiança de 95%, é de +/- 3,5%. Responsabilidade do estudo: Aximage, sob a direção técnica de Ana Carla Basílio.