As aulas já começaram em todas as escolas, mas não a todas as disciplinas para todos os alunos. Um pouco pelo país inteiro, escasseiam professores, mas é em Lisboa que o problema atinge maior dimensão. Há 335 horários a concurso em Contratação de Escola (CE), o que afeta cerca de 44 mil alunos. A nível nacional, são 912 os horários por atribuir, correspondendo a cerca de 100 mil (98 620) alunos sem todos os professores. Davide Martins, especialista em estatística de Educação e colaborador do blogue ArLindo (dedicado à Educação) avança haver 4931 turmas sem docente a uma ou mais disciplinas, num total de 14 793 horas das mais variadas disciplinas por atribuir.
Arlindo Ferreira, diretor do Agrupamento de Escolas Cego do Maio e autor do mesmo blogue, explica que os horários de CE correspondem, na maioria, a horários que não tiveram candidatos no Concurso Nacional (Reservas de Recrutamento).
“Já se esgotaram os professores para as Reservas de Recrutamento (RR). Não há candidatos. E muitos desses horários das RR ainda não foram para a plataforma de Contratação de Escola”, alerta.
As RR são publicadas, semanalmente, à segunda-feira. Nesta última, a RR3, foram colocados 1801 professores contratados, mas apenas 260 no Alentejo e no Algarve. “Em Lisboa, as escolas pediram largas centenas de horários que não foram preenchidos e estão a passar agora para a CE”, adianta Arlindo Ferreira. A situação, diz, é “muito grave”. “Não vejo melhoria, pelo contrário, desde o início do mês. Há cada vez menos professores.”
O Ministério da Educação (ME) implementou uma série de medidas para fazer face à escassez de professores. Uma delas é a abertura de um concurso extraordinário para vinculação de docentes em escolas onde a falta de professores é mais problemática, mas que poderá deixar “descalças” escolas no centro e norte do país.
“O apoio à deslocação que vai ser dado poderá ser um incentivo para muitos professores, mas a manta não dá para tapar tudo. E pode levar muitos professores das Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC) a optar por mudar-se para o sul e conseguir, assim, deixar uma situação de precariedade”, explica Arlindo Ferreira. A falta de docentes para as AEC é, neste momento, um grande problema nas escolas da Zona Norte. “A escola a tempo inteiro está em causa. Não há professores suficientes para as AEC, o que tem implicações no 1º ciclo”, adianta Arlindo Ferreira.
O diretor do Agrupamento de Escolas Cego do Maio alerta ainda para a escalada do problema. “Muito em breve, a partir de novembro, a situação vai agravar-se no que se refere às substituições. Nesse caso, não apenas no sul, mas no norte também”, explica.
Para Arlindo Ferreira, o Governo tem tentado combater a falta de professores com medidas de emergência, sendo necessário medidas mais estruturais, que passam pela valorização da carreira docente, mas também pelo “aumento de diplomados em Cursos de Ensino”. “É preciso abrir cursos nas áreas onde fazem mais falta. Tem de haver formação nas zonas onde há mais carência de docentes, na Zona Sul do país”, sustenta.