À chegada a Carrazeda de Ansiães, no planalto transmontano, dá-nos as boas-vindas uma chuva miudinha por entre o intenso nevoeiro que dificulta a visão para lá de um palmo de estrada. Este outono/inverno tem sido molhado na região, tal como por todo o Norte de Portugal, com os níveis de precipitação acima da média registada desde 1981, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
A albufeira da Fontelonga, às portas da vila, está quase a transbordar. Assim como as três charcas que Luís Vila Real tem nos seus terrenos para dar de beber aos pomares de macieiras que se estendem por 32 hectares. “Em princípio, a campanha deste ano está garantida, mas é sempre incerto”, diz, cauteloso, recordando como, no ano anterior, um granizo tardio destruiu “mais de 90% da produção”.
Neste concelho que se estende até aos vales do Douro e do Tua, a maçã concorre com o vinho e o azeite entre as culturas mais representativas. Se a vinha e o olival dominam a paisagens dos vales, os pomares concentram-se mais no planalto, a maior altitude, onde está situada a fileira da maçã que dá fama à região.
Luís Vila Real é um dos seus maiores produtores e atualmente presidente da Afuvopa - a associação que congrega os fruticultores, viticultores e olivicultores do planalto de Ansiães. E se hoje a água não é o fator que mais o atormenta, a memória bem recente de anos de seca extrema, como o que assolou a região em 2022, leva-o a não se deixar iludir: a água “é” um problema estrutural que questiona a sobrevivência da cultura da maçã em Carrazeda. Pelo menos, com a importância e dimensão que tem nesta altura, diz.
As culturas da maçã, do vinho e do azeite representam algo como 25 milhões de euros anuais para o concelho. E se o vinho continua a ser o principal setor económico deste que é um município integrado na Região Demarcada do Douro, a produção de maçã vem logo atrás, com o grande aumento de área de pomares plantados ao longo das últimas décadas e que ajudaram a alterar a paisagem de um planalto anteriormente dominado pelos cereais e pelas culturas forrageiras (para pasto animal). “A cultura das maçãs teve a sua explosão ali nos Anos 1990 e até à primeira década do século XXI foi sendo uma cultura muito rentável”, diz Luís Vila Real.
Agora já não é bem assim. Carrazeda de Ansiães produz entre 25 e 30 mil toneladas de maçã por ano, distribuídas por 800 hectares, se a produção não for afetada pela falta de água ou por intempéries como a de granizo na última Primavera - a vinha ocupa quase 3000 hectares e o olival cerca de 2000 na área agrícola do concelho. Luís tem 32 hectares, neste momento, embora esteja a reconverter uma parte mais antiga que, garante, já não vai replantar.