Lançamento do Hospital de Todos os Santos
07 outubro 2024 às 18h05
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Montenegro diz que "este Governo não é liberal" e vê no SNS "trave-mestra" do sistema de saúde

Primeiro-ministro reiterou, porém, que este Governo "não tem estigmas" quanto à prestação de cuidado de saúde. Ministra da Saúde diz que novo hospital de Lisboa vai ser "conquista assinalável" para os utentes.

O primeiro-ministro Luís Montenegro assegurou esta segunda-feira que o atual executivo PSD/CDS-PP "não é um Governo liberal do princípio ao fim", mas social-democrata e democrata-cristão, e vê no SNS "a trave-mestra" do sistema de saúde.

Luís Montenegro falava no lançamento da obra do novo Hospital de Todos os Santos, na freguesia de Marvila, em Lisboa, e, no final, não respondeu a perguntas da comunicação social sobre as negociações com o PS sobre o Orçamento do Estado para 2024.

"Não há dúvida que talento não vos falta", disse, em tom bem-humorado, no final de alguns metros a ser questionado pelos jornalistas sobre o tema, e apenas respondendo, de forma breve, mas afirmativa às perguntas se estava bem-disposto ou otimista.

Na sua intervenção na cerimónia, o primeiro-ministro reiterou que este Governo "não tem estigmas" quanto à prestação de cuidado de saúde.

"Lá onde o Serviço Nacional de Saúde (SNS) não tem capacidade de responder melhor, mais depressa, nós vamos à procura dessa resposta no setor privado e no setor social", disse.

"Mas não se enganem, este não é um Governo liberal do princípio até ao fim, este é um Governo social-democrata e democrata-cristão e é um governo que não tem dúvidas: a estrutura do sistema de saúde é o SNS e está provado que o SNS tem capacidade para ser essa estrutura, esse esteio principal", disse.

Montenegro quis também responder aos que entendem que os vários acordos de valorização de carreiras que o executivo PSD/CDS-PP assinou nos primeiros seis meses do seu mandato servem apenas para aumentar a paz social.

"Eu sei que pode parecer que fizemos, aparentemente, o mais fácil e que esses entendimentos se circunscreveriam a questões laborais. É um erro pensar-se assim. O facto de nós termos valorizado as carreiras da administração pública (...) é uma decisão estrutural e estratégica", disse.

O primeiro-ministro defendeu que "sem bons recursos humanos não há boa administração pública" e considerou que estas valorizações visam garantir o cumprimento dos serviços públicos "a médio e longo prazo".

"Não é a pensar naquilo que acontecerá já no dia de amanhã, se calhar nem é para a vigência deste Governo e dos próximos. (...) Aqueles que possam ver - como vejo muitas vezes aí dito e escrito até na minha área política - apenas o efeito imediato de haver mais paz social, acreditem que as decisões que estamos a tomar e que continuaremos a tomar é no sentido de estratégica e estruturalmente preparar o país para as próximas décadas", afirmou.

Numa cerimónia em que discursou também a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, o primeiro-ministro disse não haver "dúvida nenhuma" que o Hospital de Todos os Santos irá melhorar "de uma forma muito significativa as oportunidades de tratamento, de cuidar da saúde das pessoas".

"Nós precisamos de ter bons equipamentos, bons profissionais, uma boa conciliação de todas as capacidades instaladas, mas sempre com um foco que é servir as pessoas (...) Este equipamento, para além de concentrar várias das ofertas de saúde que hoje estão disseminadas em muitas unidades, vai oferecer mais qualidade", disse, considerando que esta unidade vai ajudar a reter "talento e capital humano" no SNS.

O Hospital Todos os Santos irá agregar os hospitais que compõem a ULS São José - Santa Marta, Capuchos, São Lázaro, Curry Cabral, D. Estefânia e Maternidade Alfredo da Costa.

"Ele é de Todos os Santos porque de facto foram precisos todos os santos para nós chegarmos até ao dia de hoje, mas é de Todos os Santos também porque é uma forma de associar muito daquilo que foi o caminho dos serviços de saúde às unidades que partiram ou do setor social ou mesmo da igreja. Este Governo não tem problemas em assumir isso e em reconhecer a história que está subjacente a este percurso", justificou.

Montenegro salientou que o dia de hoje é "o resultado de pelo menos anos 15 anos de trabalho", numa cerimónia em que estiveram presentes antigos ministros da Saúde como Maria de Belém, Correia de Campos, Paulo Macedo, Arlindo de Carvalho ou Luís Filipe Pereira, bem como o presidente do Tribunal de Contas, José Tavares, em final de mandato, a quem o primeiro-ministro aproveitou para deixar um agradecimento.

"Um grande servidor público, que agora termina mais uma etapa da sua já vasta carreira, mas que não será a última, estou convencido, dado que o prestígio que granjeou, quer em Portugal, quer fora de Portugal, é um ativo importante que naturalmente o país não pode nem vai seguramente desperdiçar", disse.

Do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, Luís Montenegro recebeu palavras de elogio por ter avançado com duas "decisões que os lisboetas nunca esquecerão": este hospital e o futuro aeroporto em Alcochete.

Ministra da Saúde diz que novo hospital de Lisboa vai ser "conquista assinalável"

A ministra da Saúde defendeu que o novo Hospital de Todos-os-Santos será uma "conquista assinalável" para os utentes, permitindo ainda à Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa passar a dispor de um hospital-âncora.

"Para os doentes, para os cidadãos, a construção do novo hospital será uma conquista assinalável", uma vez que vai disponibilizar recursos e tecnologia renovados, um acesso melhorado e um aumento de eficiência, afirmou Ana Paula Martins.

O novo Hospital de Lisboa Oriental, que será construído em Marvila por um consórcio liderado pela Mota-Engil, terá três edifícios ligados entre si, ocupando uma área de 180 mil metros quadrados e uma capacidade total de internamento de 875 camas.

Vai substituir as unidades hospitalares que compõem atualmente a Unidade Local de Saúde São José e que estão dispersas pela cidade de Lisboa: hospitais de São José, Santo António dos Capuchos, Santa Marta, Curry Cabral e Dona Estefânia e a maternidade Alfredo da Costa.

O modelo contratual para a construção do Hospital Lisboa Oriental consiste numa parceria público-privada (PPP) para a sua construção e manutenção, mas terá uma gestão clínica pública.

"Os ganhos são de tal dimensão que ninguém consegue entender como só agora é possível concretizar este hospital", afirmou Ana Paula Martins, ao adiantar que a nova unidade permitirá ainda, passados quase 50 anos, à Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa "ter um hospital âncora".

"Um facto estratégico pela qual esta escola médica sempre lutou e pelo qual também aqui hoje reafirmo o imperativo desta relação entre hospital e escola médica", salientou a ministra.

Segundo Ana Paula Martins, a relação do novo hospital com a academia e com outras instituições de ensino nacionais e internacionais permitirá ainda desenvolver "um processo de crescimento colaborativo" que lhe permitirá se posicionar entre os "melhores e mais modernos da Europa e do Mundo".

A ministra salientou também que "passaram-se muitos anos" no processo de construção do novo hospital, recordando que hoje "termina esta caminhada que, no limite, se iniciou em 1775 (após o terramoto em Lisboa) ou para os mais otimistas em 1979 ou 2008".

Ana Paula Martins adiantou ainda que a atuação do Ministério da Saúde está centrada em "garantir a sustentabilidade do SNS", em paralelo com a manutenção dos padrões de qualidade e excelência.

"Desafios que o Governo defende como inequívocos e que tudo faremos para colocar o nosso país acima dos valores da média da União Europeia", afirmou a ministra, ao salientar que essa é uma "obra para um mandato ou talvez mesmo para mais".