"Não estamos preparados”. A expressão lacónica baila na apresentação do livro de Mustafa Suleyman, cofundador da DeepMind, uma das principais empresas de inteligência artificial, ecoa ao longo das páginas do livro que assina em parceria com o escritor Michael Bhaskar, A Próxima Vaga - Inteligência Artificial, Poder e o Grande Desafio do Século XXI (edição Clube do Autor). Para o autor britânico, CEO da Microsoft IA, não estamos preparados para o momento crucial da história da nossa espécie, face aos desenvolvimentos da Inteligência Artificial (IA). Em breve, a IA vai gerir negócios, produzir conteúdo digital ilimitado, será responsável pelos principais serviços públicos e manutenção de infraestruturas. A humanidade passará a viver num mundo de impressoras de ADN, computadores quânticos, assistentes robôs, patogénicos artificialmente criados. Para Suleyman há que ponderar a questão da contenção, a tarefa de manter o controlo sobre as tecnologias. E elege-o como o grande desafio do nosso tempo.
Para o cofundador da empresa Inflection AI, “quase todas as culturas têm um mito do dilúvio (...) As cheias também marcam a história num sentido literal (...) O asteroide que matou os dinossauros criou uma onda com mais de um quilómetro de altura (...) O poder absoluto destes vagalhões ficou marcado na consciência coletiva (...) Outros tipos de vagas têm sido igualmente transformadores (...) Ondas metafóricas: ascensão e queda de impérios e religiões, explosões de comércio”, escreve Suleyman a abrir o capítulo 1 do livro. Ao correr da leitura de A Próxima Vaga, o autor parte para um evento que está a chegar, “uma onda de tecnologia, construída em torno da IA, mas também de algumas outras tecnologias, como a biologia quântica. Quando olhamos para a história humana numa visão muito profunda, podemos ver que ela foi marcada por sucessivas ondas de tecnologia, desde o fogo e ferramentas de pedra até à escrita, à era do vapor e à da eletricidade. Estas ondas definiram sempre as civilizações e as suas capacidades. Esta nova onda faz então parte de uma longa sequência, mas acredito que poderá vir a ser a mais importante até agora”, sintetiza Mustafa Suleyman.
Sobre a onda iminente de tecnologia e o seu significado para a humanidade, o autor nascido em 1984, deixa a pergunta à IA no prólogo ao seu livro. Eis a resposta da máquina: “Nos anais da história, há momentos que se destacam como pontos de viragem, em que o destino da humanidade está em jogo (…) nunca antes vimos tecnologias com um potencial tão transformador, prometendo remodelar o nosso mundo de formas simultaneamente inspiradoras e assustadoras (…) Os benefícios potenciais destas tecnologias são vastos e profundos (…) Por outro lado, os perigos potenciais destas tecnologias são também vastos e profundos. Com a IA, podemos criar sistemas que escapam ao nosso controlo e ficar à mercê de algoritmos que não compreendemos (…) A era da tecnologia avançada aproxima-se, e temos de estar preparados para enfrentar os seus desafios”.
Na linha da IA, embora procurando respostas alicerçadas na inteligência humana, Mustafa Suleyman diz acreditar que esta nova onda de tecnologia está a levar a história humana a um ponto de viragem. O autor escreve que “estamos perante um dilema que já debateu à porta fechada”. “O dilema a que me refiro no livro é o de estarmos a criar ferramentas de poder crescente, mas sem a garantia de um bom resultado, o que aumenta o risco de caírem nas mãos de maus atores. No entanto, não podemos simplesmente parar de produzi-las, porque os incentivos à sua concretização estão extremamente enraizados, mas também porque precisamos delas. Ficamos, portanto, com um caminho estreito que devemos percorrer para entregar com sucesso e segurança à humanidade algo como a IA”.