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Dinheiro
22 outubro 2024 às 00h09
Leitura: 6 min

Governo recusou salvar Inapa por 12 milhões mas os “anéis” da empresa já foram vendidos por 45 milhões

Unidade portuguesa do grupo de distribuição de papel, que pediu a insolvência em julho, deve cerca de 33 milhões à banca. Novobanco é maior credor, com 16 milhões de euros.

Nas duas últimas semanas, Bruno Costa Pereira, o administrador de insolvência da Inapa, anunciou acordos para a venda de dois importantes “anéis” do grupo, a Inapa Packaging e da Inapa France, por 20 milhões e 25 milhões de euros, respetivamente. Na passada sexta-feira, soube-se que a Inapa France foi vendida ao grupo japonês JPP. São operações que, se tivessem sido realizadas antes da insolvência da Inapa, no final de julho, não só teriam permitido evitar a colapso, como o enxaixe financeiro seria provavelmente superior.

Este facto leva a que vários acionistas da Inapa - que emprega 1400 pessoas, 200 das quais em Portugal - ouvidos pelo DN questionem não só a alegada inércia da administração como da maior acionista da empresa, a Parpública, que detém 44% do capital. Questionam também a atuação do auditor externo, a PwC, cuja atuação neste caso está a ser analisada pela CMVM, por não ter colocado quaisquer reservas nas contas da empresa relativas a 2023. O relatório e contas do ano passado refere que não existiam riscos que colocassem em causa a continuidade da operação durante o exercício de 2024. Mas este relatório e contas foi aprovado em maio e, dois meses depois, a empresa faliu.

O facto de o JPP ter comprado a Inapa France e de, inclusive, admitir adquirir também a operação portuguesa, no âmbito da insolvência, reforça ainda mais as críticas dos acionistas.

Recorde-se que o JPP chegou a manifestar interesse na compra da Inapa, algumas semanas antes da insolvência, não tendo obtido resposta favorável por parte da administração e da Parpública. Na altura, perante uma dificuldade de tesouraria na subsidiária alemã, a Inapa viu-se obrigada a pedir um financiamento de emergência à Parpública no valor de 12 milhões de euros, que foi recusado pelo Ministério das Finanças por não existirem certezas de que o acionista Estado seria reembolsado. A administração da Inapa disse ao Governo que o JPP iria comprar parte da empresa e que, nessa altura, em outubro, a Parpública receberia de volta os 12 milhões. No entanto, o Ministério das Finanças vetou o financiamento e a Inapa avançou com o pedido de insolvência, no dia 29 de julho.

Estes factos, juntamente com a forma como a administração e os auditores atuaram, poderão dar origem a processos judiciais. Entretanto, o caso está a ser analisado pela Comissão do Mercado de valores Mobiliários (CMVM), tal como o Jornal Económico noticiou. 

Novobanco e CGD são os maiores credores

A Inapa Portugal, a unidade nacional da empresa de distribuição de papel, tem como principais credores o Novobanco, a Caixa Geral de Depósitos e a Caixa Económica Montepio Geral. Os três bancos são credores de 64% das dívidas da empresa, que entrou em insolvência após a acionista Parpública ter recusado conceder-lhe um financiamento de emergência. Mas há outros bancos na lista de credores, com uma dívida total de 33 milhões de euros.

De acordo com a lista de credores da Inapa Portugal, que foi publicada no dia 18 de outubro no portal Citius, a empresa (que inclui apenas uma parte dos ativos do grupo Inapa) tem uma dívida reconhecida de 44,8 milhões de euros, dos quais 16,04 milhões cabem ao Novobanco. A instituição financeira liderada por Mark Bourke é, assim, o principal credor, seguido da Caixa Geral de Depósitos, com 8,4 milhões. Já o Montepio tem a haver 3,95 milhões de euros.

A lista de credores da unidade portuguesa do Grupo Inapa inclui ainda entidades financeiras como o Abanca (1,8 milhões), o BPI (201 mil euros), o Santander Totta (1,8 milhões), o Bankinter (607 mil euros) e o BCP (95 mil euros), elevando a dívida à banca a um total de 33 milhões de euros.

Por sua vez, o fundo CA Património Crescente, do Crédito Agrícola, tem a recuperar 241 mil euros, ao passo que a subsidiária portuguesa do grupo francês Crédit Agricole Leasing & Factoring exige o pagamento de uma dívida de 1,5 milhões de euros, e a sociedade de garantia mútua Lisgarante tem a recuperar 811 mil euros relativos a garantias prestadas à Inapa Portugal.

Ao todo, as várias empresas do Grupo Inapa, onde se inclui a Inapa Portugal, têm uma dívida total estimada em cerca de 200 milhões de euros.