Nas duas últimas semanas, Bruno Costa Pereira, o administrador de insolvência da Inapa, anunciou acordos para a venda de dois importantes “anéis” do grupo, a Inapa Packaging e da Inapa France, por 20 milhões e 25 milhões de euros, respetivamente. Na passada sexta-feira, soube-se que a Inapa France foi vendida ao grupo japonês JPP. São operações que, se tivessem sido realizadas antes da insolvência da Inapa, no final de julho, não só teriam permitido evitar a colapso, como o enxaixe financeiro seria provavelmente superior.
Este facto leva a que vários acionistas da Inapa - que emprega 1400 pessoas, 200 das quais em Portugal - ouvidos pelo DN questionem não só a alegada inércia da administração como da maior acionista da empresa, a Parpública, que detém 44% do capital. Questionam também a atuação do auditor externo, a PwC, cuja atuação neste caso está a ser analisada pela CMVM, por não ter colocado quaisquer reservas nas contas da empresa relativas a 2023. O relatório e contas do ano passado refere que não existiam riscos que colocassem em causa a continuidade da operação durante o exercício de 2024. Mas este relatório e contas foi aprovado em maio e, dois meses depois, a empresa faliu.
O facto de o JPP ter comprado a Inapa France e de, inclusive, admitir adquirir também a operação portuguesa, no âmbito da insolvência, reforça ainda mais as críticas dos acionistas.
Recorde-se que o JPP chegou a manifestar interesse na compra da Inapa, algumas semanas antes da insolvência, não tendo obtido resposta favorável por parte da administração e da Parpública. Na altura, perante uma dificuldade de tesouraria na subsidiária alemã, a Inapa viu-se obrigada a pedir um financiamento de emergência à Parpública no valor de 12 milhões de euros, que foi recusado pelo Ministério das Finanças por não existirem certezas de que o acionista Estado seria reembolsado. A administração da Inapa disse ao Governo que o JPP iria comprar parte da empresa e que, nessa altura, em outubro, a Parpública receberia de volta os 12 milhões. No entanto, o Ministério das Finanças vetou o financiamento e a Inapa avançou com o pedido de insolvência, no dia 29 de julho.
Estes factos, juntamente com a forma como a administração e os auditores atuaram, poderão dar origem a processos judiciais. Entretanto, o caso está a ser analisado pela Comissão do Mercado de valores Mobiliários (CMVM), tal como o Jornal Económico noticiou.