As contas públicas portuguesas devem voltar a ser deficitárias em 2025 e boa parte deste deslize, agora detetado pelo Banco de Portugal (BdP), exige que o governo tenha de encontrar novas medidas para reduzir despesa ou aumentar receita (ou ambas) para "compensar" o desvio, num valor que pode ir de 1,1 mil milhões a 2,1 mil milhões de euros, a única maneira de evitar a violação das novas regras orçamentais europeias ditadas pelo Pacto de Estabilidade revisto e que começa a ser aplicado a partir de 2025, inclusive.
De acordo com o novo boletim económico do BdP, ontem apresentado em Lisboa pelo governador Mário Centeno, o novo indicador de referência para disciplinar as contas públicas, a variação da despesa líquida, que emerge do Orçamento do Estado para 2025 (OE 2025) aprovado no final de novembro viola de forma clara o teto definido pela Comissão Europeia (CE).
O indicador em causa também fura o limite, um pouco mais dilatado, mas assumido como adequado pelo governo no Programa Orçamental-Estrutural de Médio Prazo (POEN) entretanto enviado a Bruxelas, ainda em outubro, pelo ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento.
De acordo com o estudo do banco central, os maiores contributos para esta derrapagem vêm das "despesas com pessoal", que sobem 2.119 milhões de euros, onde constam despesas novas que decorrem das "revisões das carreiras da função pública", no valor de 473 milhões, diz o BdP.
Ainda no acréscimo de despesa, o Banco aponte para a subida de 2.339 milhões de euros na rubrica "pensões e outras prestações sociais", onde destaca o custo adicional e permanente do "aumento de 1,25% nas pensões" proposto e ganho pelo PS (mais 265 milhões de euros em 2025) e a "expansão do Complemento Solidário para Idosos (CSI)", que implica um gasto adicional de 120 milhões.
A despesa com "consumos intermédios", que também é tida em conta no cálculo do novo indicador da despesa líquida do Pacto, sobe 868 milhões de euros.
A despesa associada aos empréstimos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) também aparece e contribui com mais 722 milhões de euros previstos em 2025, segundo o estudo do banco central.
Do outro lado do balanço, o ano de 2025 será bem marcado pelas "medidas discricionárias da receita", avaliadas em 932 milhões de euros de quebra, entre elas as reduções previstas na carga de impostos como IRS (menos 840 milhões de euros), IRC (menos 130 milhões), IVA (menos 110 milhões), a que soma ainda a "eliminação de portagens em algumas SCUT [autoestradas]", outra medida do PS, que reduz a receita do próximo ano em 108 milhões de euros, calcula o BdP.
Centeno explicou que as alterações feitas em sede de OE 2025 e, antes disso, em votações separadas no Parlamento, devem gerar um acréscimo total da referida despesa líquida na ordem dos 6.669 milhões de euros, valor que excede em quase 2.093 mil milhões de euros o teto de referência exigido pela Comissão, que estabelece um aumento anual máximo de 4.576 milhões de euros entre 2024 e 2025.