Gestão
08 setembro 2024 às 00h46
Leitura: 7 min

“A felicidade nas empresas não são mesas de ping-pong e almoços grátis”

Na Lionesa, o ecossistema empresarial replica o conceito de campus universitário, em nome da felicidade corporativa. O centro promove todos os anos uma conferência internacional sobre este tema, que este ano traz a Portugal gestores da Netflix e da Google.

Basta chegar à entrada da Lionesa Business Hub, em Leça do Balio, para poder apreciar o maior mural de arte urbana do norte do país. Já dentro do espaço que alberga mais de 120 empresas e onde trabalham mais de sete mil pessoas, a galeria de arte ao ar livre captura o olhar. O objetivo é democratizar o acesso à arte e à cultura e, como sublinha António Pinto, “fazer disparar os índices de felicidade e de bem-estar entre quem aqui trabalha, através da bela tela artística que é o nosso campus”. O chief marketing officer (CMO) da Lionesa cita alguns estudos que o comprovam, mas tal nem seria necessário quando os níveis de satisfação, revelados semanalmente pela plataforma Heart Count, são tão elevados (96% recomendam o campus para trabalhar, e 87% dos que gostariam de mudar de emprego preferem manter-se na Lionesa). “Esta é uma das poucas plataformas no mundo que faz a medição da satisfação, e que transforma a felicidade em KPI [Key Performance Indicators]”.

O questionário a que os colaboradores das várias empresas respondem a cada semana são concebidos por um grupo de psicólogos, e incluem três perguntas de avaliação de 0 a 10. Desta forma, explica António Pinto, “conseguimos perceber em tempo real se aquilo que estamos a fazer está a aumentar a felicidade, se está a estagnar ou se está a diminuir, o que permite também uma ação em tempo real”.

O tema da felicidade organizacional ou da sustentabilidade humana, denominação mais recentemente adotada na Lionesa, começou a ser trabalhado em 2019 quando a equipa que gere o espaço procurava formas consistentes e eficazes de oferecer valor acrescentado às empresas instaladas. “Decidimos criar um departamento da felicidade internamente para trabalhar temáticas como o stress, o burnout, e o bem-estar pessoal e profissional para todo o campo”, conta o responsável porque, acrescenta, “felicidade não são mesas de ping-pong e almoços grátis”.

Com muito trabalho e investigação de boas práticas nacionais e internacionais, foi criada a Pirâmide da Felicidade, modelo que venceu o prémio de melhor projeto de sustentabilidade humana em 2023 pela Deloitte, e que inclui um conjunto de políticas que trabalham a felicidade nas suas diversas vertentes. “Vai desde as infraestruturas do espaço até às relações interpessoais”, reforça António Pinto. Em jeito de exemplo, o CMO explica que, a certa altura, perceberam que 85% das empresas na Lionesa quer contratar talento jovem, recém-licenciados e que não teve ainda contacto com o mundo empresarial. No entanto, entre esta faixa etária “verificou-se que os índices de stress e de ansiedade disparavam quando transitavam de um ambiente académico para um ambiente profissional”. Transformar o espaço, replicando um campus universitário, acabou por ter o efeito inverso e por fazer crescer os índices de bem-estar”, revela.

Promover a felicidade de dentro para fora

Satisfeitos com os resultados do clima organizacional dentro do campus, mas sempre à procura de fazer melhor, a equipa do Departamento de Sustentabilidade Humana criou, há três anos, um evento anual sobre esta temática, gratuito e aberto ao público nacional e internacional. O “Hapiness Camp”, que terá a sua terceira edição a 17 de setembro na Alfândega do Porto, “cresceu ao ponto de sermos a maior conferência de felicidade corporativa da Europa. Em 2023, recebemos 15 mil pessoas de mais de 50 nacionalidades”, revela António Pinto. A participação no “Hapiness Camp” é gratuita, mediante inscrição prévia no site do evento.

A iniciativa tem chamado a atenção dentro e fora de Portugal e conta, este ano, com a presença de nomes como Lori George, que foi diretora de Diversidade, Equidade e Inclusão da Coca-Cola durante 30 anos e a primeira profissional no mundo a introduzir políticas de igualdade salarial entre géneros, Nahal Youssefine, vice-presidente de recursos humanos da Netflix, Kelsey Robb, da Google, ou Kerri Warner, que passou pela Spotify e pela Mastercard. “Vamos abordar temas como a neurodiversidade ou a gestão intergeneracional em palco, mas também através de masterclasses e workshops práticos, com a Nova Business School, a Lisbon Digital School, a GRACE, ou a Educates Better”, diz o responsável da Lionesa. A completar o programa, existe igualmente uma agenda lúdica com vista a criar relações interpessoais, através das atividades de team building e icebreakers, ou com ioga do riso, exercícios de respiração, nutrição para aumentar a performance corporativa, entre outras.

A expectativa para a edição deste ano é muito elevada depois dos resultados apurados por um estudo realizado pela Lionesa aos participantes na edição de 2023. “75% revelam que após a conferência implementaram novas políticas de bem-estar e de saúde mental nas suas organizações, o que levou a um aumento na satisfação dos colaboradores e na produtividade”, afirma António Pinto.

E esta é também a missão da Lionesa. “Queremos atrair cada vez mais investimento estrangeiro e talento para Portugal, mas temos de trabalhar as questões salariais, as oportunidades, mais investimento em Portugal, e a importância da felicidade corporativa como arma para combater também a crise migratória”, diz o gestor que revela que, no caso da Lionesa, estas iniciativas resultaram num aumento de 37% na retenção de talento. “Isso por si só já diz muito, porque os custos inerentes a conseguir atrair talento novo são muito mais elevados do que os custos de manter os colaboradores atuais”, conclui.