IEFP
23 julho 2024 às 06h47
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Sem contar com 2020, desemprego avança ao ritmo mais alto desde o tempo da 'troika'

Estavam sem trabalho 304 946 pessoas no final dos primeiros seis meses do ano, uma subida de quase 10%. Mais do que em maio, quando se registou um aumento de 8,5%, e do que há um ano, altura em que o desemprego caiu quase 2%.

Tirando o ano de 2020, o primeiro da pandemia marcado pelo choque sem precedentes das medidas de confinamento que obrigaram negócios a fechar portas e até a falir, o número de desempregados registados nos Centros de Emprego teve, no primeiro semestre deste ano, o maior aumento em mais de uma década, desde o tempo da troika (meados de 2013), indicam contas do DN/Dinheiro Vivo a partir de dados do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP).

Ao longo do segundo semestre do ano passado, e sobretudo após a Jornada Mundial da Juventude, no início de agosto, o desemprego total registado (o stock, a situação no final do mês) começou a ganhar corpo mês após mês e terminou o ano passado com uma subida mensal superior a 17,3 mil casos (só em dezembro).

Atualmente, o país ainda está a recuperar dessa fase, mas não o suficiente, porque quando se compara com o período homólogo (primeiro semestre de 2023, quando a economia estava mais dinâmica em termos de emprego e o desemprego a cair), o ritmo do desemprego registado continua a ganhar força em termos homólogos - a melhor medida para expurgar efeitos de sazonalidade.

No final do primeiro semestre deste ano, o número de pessoas dadas oficialmente como desempregadas nos centros do IEFP subiu quase 10% face ao mesmo semestre do ano passado. Estavam sem trabalho 304.946 pessoas. Mais do que em maio, quando a subida foi de 8,5%. E muito mais do que há um ano, no primeiro semestre de 2023, quando o stock caiu quase 2%.

Nos 12 meses que terminaram no final de junho passado, os centros do IEFP tinham mais 27 mil inscritos, pessoas sem trabalho e que procuram emprego.

Em termos absolutos, o maior contributo para o aumento do desemprego acontece no norte (mais 12,2 mil sem emprego), sendo verdade que também é a região do país com mais pessoas inscritas, o que ajuda a explicar o tamanho da subida em causa.

Logo a seguir, o maior impulso vem da Região de Lisboa e Vale do Tejo, onde o contingente de desempregados é hoje maior em cerca de 10,7 mil. Em todo o caso, os dados do IEFP mostram que o desemprego está a aumentar em todas as regiões do continente. Pelo contrário, nas ilhas dos Açores e da Madeira cai.

Por nível de instrução, as novas estatísticas do IEFP, ontem divulgadas, mostram que o desemprego continua a subir mais entre quem tem Ensino Secundário (+19%) e curso superior (+11%). O desemprego nacional apenas recuou no grupo dos que têm até à 4.ª classe, segundo os mesmos dados oficiais.

A atualização do instituto também permite concluir que as profissões mais afetadas pelo aumento do desemprego são pessoal administrativo (mais 4,2 mil sem trabalho e à procura), seguranças e vendedores (mais 4,9 mil) e trabalhadores não-qualificados não especificados (acréscimo anual de 8,2 mil).

Como já noticiou o DN/Dinheiro Vivo há escassos meses, os setores do vestuário e do couro tem estado sob alta pressão e a ser assolados pelo desemprego. Segundo as novas estatísticas oficiais, a tendência mantém-se, sobretudo na indústria do couro, que continua a dar um contributo assinalável para a deterioração homóloga do mercado de trabalho (mais de 1,8 mil casos no referido acréscimo nacional de 27 mil). 

Mas há setores piores agora: o maior impulso no desemprego acontece nas atividades imobiliárias (aumento de 7,3 mil desempregados), na dupla alojamento e restauração (mais 4 mil desempregados), no comércio (mais 2,5 mil) e na construção (mais 1,8 mil casos).

Vários economistas continuam a afirmar que, pelo menos este ano, o mercado laboral ainda vai aguentar, mas que a dinâmica seguinte depende muito do arranque do investimento e dos fundos europeus.

Segundo o gabinete de estudos da Universidade Católica Portuguesa, coordenado pelo professor de Economia João Borges de Assunção, “em Portugal, a taxa de desemprego terá diminuído de 6,8% para 6,2% [da população ativa] no segundo trimestre e a perspetiva para 2024 continua favorável em termos históricos (6,3%)”.

No entanto, “o investimento recuou no primeiro trimestre e as exportações perderam o fulgor do ano passado, pelo que é difícil que a economia portuguesa continue a surpreender pela positiva como tem acontecido ao longo dos últimos trimestres”.

luis.ribeiro@dinheirovivo.pt