Portugal 0-0 (3-5 gp) França
05 julho 2024 às 23h29
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Sonho de Portugal travado nos penáltis num Europeu com coisas para repensar

Portugal despediu-se do Euro2024 com uma derrota diante da França no desempate por penáltis. Mesmo com Ronaldo totalmente apagado, a seleção nacional bateu-se bem e teve oportunidades para marcar. Mas voltou a falhar na concretização. 

O Euro2024 acabou para Portugal ao quinto jogo, nos quartos de final, num duelo que só foi decidido no desempate por grandes penalidades após o 0-0 no prolongamento. Na lotaria dos 11 metros, a França não desperdiçou nenhum castigo máximo e João Félix atirou ao poste. Foi a diferença num jogo equilibrado, onde as duas seleções se respeitaram, nem sempre arriscaram, e onde Ronaldo ficou demasiado tempo em campo sem Martínez ter coragem para o tirar. O jogo podia ter tido um final diferente, mas Nuno Mendes em cima dos 120 minutos permitiu a defesa de Maignan.

Não foi por este jogo, em que a exibição até foi bastante boa em determinados momentos, mas Portugal deixa a Alemanha com alguns aspetos para repensar, com erros de aprecição de Roberto Martínez em certos jogos e alguns jogadores em subrendimento, sendo Ronaldo o caso mais flagrante. Os balanços ficam para mais tarde, mas a verdade é que a seleção fechou a participação neste Europeu com o terceiro jogo consecutivo sem marcar, algo que nunca antes tinha acontecido em fases finais de grandes torneios. Fica por isso a ideia de que esta geração podia ter chegado mais longe.

Havia alguma expectativa em torno deste duelo, pois tal como Portugal (à exceção do jogo com a Turquia), também a França nunca tinha mostrado nos jogos anteriores ser aquela grande potência do passado. Mas num jogo que podia cair para um ou outro lado, os franceses acabaram por ter mais sorte e seguir para as meias-finais, onde vão defrontar a Espanha.

Roberto Martínez apresentou precisamente o mesmo onze que atuou na partida dos oitavos de final frente à Eslovénia. Algo que já tinha ficado mais ou menos subentendido na véspera, quando o selecionador disse que ser previsível fazia parte, apesar de no duelo dos oitavos alguns jogadores terem estado abaixo das expectativas. Na equipa francesa, duas alterações. Privado de Rabiot no meio-campo, Deschamps apostou em Camavinga, e no ataque colocou Kolo Muani no lugar de Marcus Thuram.

Como esperado, nenhuma das seleções quis entrar a arriscar, por isso a primeira parte foi jogada a um ritmo lento, com demasiado calculismo de parte a parte e as duas seleções mais preocupadas em não cometer erros. O primeiro remate só surgiu aos 16’, por Bruno Fernandes, com a bola a sair ao lado após desviar em Saliba. O jogo animou um pouco e, aos 20’, Diogo Costa teve que se aplicar para travar um remate de Theo Hernández.

Com Vitinha muito marcado por Kanté e com dificuldades de início em pegar no jogo (melhorou bastante na segunda parte), Portugal privilegiou sobretudo o lado esquerdo para aproveitar a explosão de Leão, que no primeiro tempo deu muito trabalho a Koundé. Aos 22’, numa rara ocasião em que Portugal concedeu espaços, Mbappé fugiu a Cancelo e cruzou para Theo Hernández, mais uma vez com Diogo Costa atento.

A primeira parte terminou com o equilíbrio a prevalecer - Portugal com um pouco mais posse de bola (60%-40%), mas a França com mais remates (3 contra 2). Parecia quase um pacto de não agressão, tantas foram as cautelas de parte a parte.

A segunda parte começou sem qualquer alteração nas duas seleções, mas com mais velocidade e risco. E com Mbappé a deixar um primeiro aviso aos 50’ (à figura de Diogo Costa). Aos 61’, Portugal esteve muito perto do golo, com Cancelo a assistir de forma perfeita Bruno Fernandes que, na área, rematou para defesa apertada de Maignan.

Portugal começou a superiorizar-se e aos 63’ esteve novamente perto de marcar por Leão, para nova defesa de Maignan. As duas seleções começaram finalmente a querer arriscar e a dar mais velocidade ao jogo, com lances de perigo de um e outro lado, numa altura em que Vitinha e Nuno Mendes se destacavam na seleção portuguesa. Mas aos 66’ a França lançou o pânico na área portuguesa, valendo o corte providencial de Rúben Dias ao remate de Kolo Muani.

O jogo estava finalmente aberto e a França não se deixou intimidar com os lances de perigo de Portugal construídos no espaço de poucos minutos. E aos 70’ a equipa das quinas bem pôde agradecer a falta de pontaria de Camanviga, após assistência de Demebélé (a entrada do avançado melhorou muito o jogo de ataque francês).

Nuno Mendes podia escrito outra história

Martínez mexeu na equipa aos 75’, lançando Nélson Semedo e Francisco Conceição para os lugares de Cancelo e Bruno Fernandes, numa altura em que a França estava por cima. Alterações que provocaram a passagem de Bernardo Silva para o meio. Mas manteve Ronaldo em campo, apesar do capitão ter estado sempre ausente.

Logo no início do tempo extra, Martinéz voltou a mexer, com a entrada de Rúben Neves para o lugar do esgotado João Palhinha. O jogo acabou por ir para prolongamento (o segundo no espaço de quatro dias), como aconteceu sempre que França e Portugal se encontraram em Europeus em mata-matas.

O apagão de Ronaldo ganhou novos contornos aos 93’, quando após um bom lance de Francisco Conceição do lado direito, o capitão em boa posição atirou por cima. Uma exibição definitivamente para esquecer que só Martínez pareceu não entender ao mantê-lo em campo - pela primeira vez na carreira, terminou uma fase final de um grande torneio sem marcar qualquer golo.

A segunda parte do prolongamento trouxe mais mexidas. Na França, Barcola entrou para o lugar de Mbappé, e na seleção portuguesa João Félix substituiu Rafael Leão. E aos 108’, após boa assistência de Francisco Conceição, Félix cabeceou com perigo ao lado. Antes do final, Matheus Nunes ainda entrou para o lugar de Vitinha e mesmo em cima dos 120’, Nuno Mendes, o melhor em campo, teve o golo de Portugal nos pés, mas rematou à figura de Maignan a passe de Bernardo Silva. E como o defesa esquerdo português merecia...

A decisão foi para grandes penalidades. E nos castigos máximos, a sorte caiu para o lado dos franceses e desta vez nem Diogo Costa salvou a seleção. Os franceses converteram os cinco penáltis e Portugal falhou no castigo de João Félix, com a bola a bater caprichosamente no poste direito. Um adeus de certo modo inglório, no último Europeu de Cristiano Ronaldo e Pepe, que no final se abraçaram, com o central de 41 anos a não conseguir conter as lágrimas, ele que ao contrário de CR7 se despediu com uma grande exibição.

A FIGURA DO JOGO

Nuno Mendes

Após uma primeira parte em que esteve mais preocupado com as ações defensivas, o lateral-esquerdo da seleção soltou-se depois e, auxiliado por Rafael Leão, foi o maior causador de instabilidade no setor recuado dos franceses, através da sua velocidade e condução de bola. Aos 120 minutos, ainda arranjou forças para uma jogada individual, que culminou com um remate defendido por Maignan. Merecia mais sorte nesse último esforço.

nuno.fernandes@dn.pt