Guerra no Médio Oriente
23 setembro 2024 às 14h54
Atualizado em 23 setembro 2024 às 16h23
Leitura: 8 min

Ataque de Israel no Líbano faz 274 mortos (21 crianças). Netanyahu fala em "mudança no equilíbrio de poder"

Os ataques de Israel estão a forçar centenas de libaneses a fugir. Netanyahu já veio justificar o ataque com uma promessa que tinha feito em relação à fronteira norte de Israel.

As autoridades libanesas elevaram a 274 mortos, incluindo 21 crianças e 39 mulheres, as vítimas dos bombardeamentos israelitas desta esta segunda-feira no sul e leste do Líbano, número sem precedentes desde o início das hostilidades entre o Estado judaico e o grupo xiita Hezbollah.

Firass Abiad, ministro da Saúde libanês, referiu que “milhares de famílias das áreas visadas foram deslocadas”. Entre os mortos incluem-se ainda duas equipas de resgate, com outros 16 trabalhadores de emergência feridos, acrescentou, revelando ainda que “duas ambulâncias, um camião de bombeiros e um centro médico foram atacados”.

Os ataques, no dia mais violento desde o agravamento do conflito, há quase um ano -- em paralelo com a guerra na Faixa de Gaza entre Israel e o movimento islamita palestiniano Hamas -, estão esta segunda-feira a forçar centenas de libaneses a fugir.

"Centenas de pessoas chegaram" a uma escola que acolhe pessoas deslocadas na cidade de Tiro, disse Bilal Kachmar, um funcionário da agência de gestão de catástrofes, enquanto outras estão "acampadas na rua".

Centenas de carros que transportavam famílias ficaram presos em engarrafamentos em Saida, a maior cidade do sul, segundo a agência noticiosa francesa AFP.

O Governo libanês mandou encerrar escolas nas regiões visadas por Israel, hoje e na terça-feira, mas ordenou entretanto a abertura de alguns estabelecimentos escolares e institutos em diferentes partes do país para atender ao "processo de deslocamento em massa" dos moradores do sul do Líbano.

Esta medida, tomada "a fim de garantir a segurança dos cidadãos libaneses" face à campanha maciça de bombardeamentos israelitas, afeta várias regiões do país, como o vale de Bekaa (leste), Baalbek-Hermel (nordeste), Tiro (sudoeste), Tripoli (noroeste) e a capital, Beirute, entre outras.

Desde o início da manhã de hoje, Israel tem vindo a lançar intensos bombardeamentos contra diferentes zonas do sul do Líbano e também no Vale de Bekaa, no leste do país.

O exército israelita deu duas horas aos moradores do Vale de Bekaa para abandonarem as áreas próximas a edifícios usados pelo grupo xiita pró-iraniano Hezbollah, antes de lançar novos ataques na região.

O porta-voz do exército, Daniel Hagari, disse numa conferência de imprensa que Israel está a preparar-se "para atacar alvos terroristas no Vale de Bekaa num futuro próximo".

"O que se vê agora no sul do Líbano são armas do Hezbollah a explodir dentro das casas. Em todas as casas que atacámos hoje havia foguetes, 'drones' e mísseis, destinados a matar civis israelitas", avisou Hagari, que já hoje tinha ordenado a saída dos residentes de outras zonas do sul e do leste do país vizinho.

"Prometi mudança no equilíbrio de poder no norte e estamos a fazer isso", diz Netanyahu

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, já veio justificar que, tal como prometido, Israel está a alterar o "equilíbrio de poder" na fronteira norte.

"Estamos a enfrentar dias complexos. Prometi que mudaríamos o equilíbrio de poder no norte e é exatamente isso que estamos a fazer", disse Netanyahu numa mensagem gravada após reunião com o ministro da Defesa, Yoav Gallant, no quartel-general militar em Telavive, também com o chefe do Estado-Maior do Exército, Herzl Halevi.

"Israel está a inverter o equilíbrio de poder" no norte do país, que faz fronteira com o sul do Líbano, acrescentou Netanyahu

Pelo menos 182 pessoas foram mortas e outras 727 ficaram feridas nos bombardeamentos israelitas de hoje, segundo a mais recente atualização do Ministério da Saúde Pública libanês, num equilíbrio sem precedentes desde que as hostilidades entre o Estado Judeu e o grupo xiita Hezbollah começaram em outubro de 2023.

"Quero esclarecer a política de Israel: não esperamos por uma ameaça, nós antecipamo-la. Em todos os lugares, em todos os cenários, a qualquer momento. Eliminamos altos funcionários, eliminamos terroristas, eliminamos mísseis", acrescentou o chefe do governo israelita.

Hoje, Israel anunciou que eliminou 300 alvos do grupo xiita e pediu aos cidadãos tanto do Vale do Bekaa (leste) como das zonas do sul, redutos do Hezbollah, para abandonarem as respetivas casas caso se encontrem perto de edifícios usados pelo movimento pró-iraniano para armazenar armamento.

Embora o número total de deslocados ainda seja desconhecido, o Governo libanês ativou hoje um plano de emergência nacional para ajudar o "número considerável" de pessoas deslocadas. 

Além disso, as autoridades também estão a coordenar a abertura de escolas e outros centros para os acolher no Monte Líbano e nas cidades de Sidon e Tiro, no sul.

Domingo, Netanyahu afirmou que, se o movimento xiita libanês Hezbollah, aliado do Irão, ainda não compreendeu a mensagem de Israel após a escalada de ataques nos últimos dias, o grupo irá "entender" isso mais tarde.

"Nos últimos dias, infligimos ao Hezbollah uma sequência de golpes que ele não imaginava", disse Netanyahu em hebraico, numa breve mensagem de vídeo. 

"Se o Hezbollah não entendeu a mensagem, prometo que a entenderá", acrescentou num vídeo divulgado após mais uma noite de intensa troca de foguetes transfronteiriços e do ataque de sexta-feira em Beirute.

"Estamos determinados a garantir que o povo do norte possa regressar a casa em segurança. Nenhum país pode tolerar disparos contra os seus residentes, contra as suas cidades, e nós, o Estado de Israel, não o faremos. Também não o toleraremos", avisou.

Israel intensificou significativamente os seus ataques contra o grupo libanês na semana passada, matando pelo menos 17 combatentes, incluindo dois comandantes, num atentado à bomba em Beirute que também deixou três menores e sete mulheres mortas, segundo as autoridades libanesas.

"Estamos determinados a devolver os nossos residentes do norte em segurança às suas casas", continuou Netanyahu, referindo-se aos 60 mil israelitas que permaneceram longe das comunidades fronteiriças há cerca de 11 meses. 

"Faremos tudo o que for necessário para restaurar a segurança", concluiu.

Na madrugada de domingo, o Hezbollah disparou cerca de "150 foguetes, mísseis de cruzeiro e 'drones'" contra o norte de Israel, segundo um comunicado militar, causando danos em algumas casas e incêndios no distrito de Haifa, entre outros, sem causar vítimas.

Horas antes, Israel tinha bombardeado cerca de 290 "alvos" do Hezbollah no sul do Líbano, incluindo milhares de lançadores de foguetes e infraestruturas militares, numa escalada de fogo cruzado entre os dois desde o início da guerra em Gaza.

A situação suscita receios de eclosão de uma guerra aberta na região, apesar de o Hezbollah ter reconhecido não querer chegar a esse ponto e insistido que os seus ataques contra o norte de Israel cessariam se um acordo de cessar-fogo fosse alcançado em Gaza.