Herman José agradeceu com humor a Medalha de Mérito Cultural recebida de um Governo "hiper demissionário", considerando que "a liberdade não é oferecida" e que a situação nacional resulta apenas de "acontecimentos naturais de uma democracia funcional".
No dia em que faz 70 anos, o humorista Herman José recebeu das mãos do primeiro-ministro cessante, António Costa, a Medalha de Mérito Cultural, numa cerimónia restrita nos jardins da residência oficial, em Lisboa, e que foi marcada por muitos momentos de humor, gargalhadas e até houve direito a um bolo e aos parabéns cantados por todos os presentes.
Recordando momentos de "grande sofrimento" na sua carreira como a suspensão do programa Humor de Perdição ou abaixo-assinados contra rubricas suas, o também ator avisou que "a liberdade não é oferecida grátis e "dá sempre trabalho e tem sempre de ser regada como um bonsai e conquistada com inteligência".
"Quanto pior é a situação mais importante é o humor", admitiu, considerando que o "humor funciona também como barómetro da saúde democrática".
Lamentando o mau sintoma da cultura ter estado arredada da última campanha eleitoral, Herman José mostrou-se otimista graças a uma produção cultural "tão viva" em Portugal nos últimos tempos.
"Mais tarde ou mais cedo as coisas vão ficar mais civilizadas no sentido em que eu acho que o Estado tinha a obrigação de derramar mais dinheiro e mais interesse para manter vivas certas artes que sem subsídio não subsistem", apelou.
Durante o discurso, o humorista disse a António Costa que estava com medo que a fita com a medalha não entrasse porque é "muito cabeçudo". "Sou neste momento a maior cabeça do teatro português depois da morte do ator Costa Ferreira, que era o único que tinha uma cabeça de igual diâmetro: 63 de diâmetro", gracejou, ouvindo-se as gargalhadas inconfundíveis da atriz Maria Rueff.
Brincando ao dizer que nasceu com uma "humoristite aguda, que é a tendência natural para o disparate, sempre, em todas as ocasiões", Herman recordou a altura em que o programa Humor de Perdição foi cancelado e, quando "estava desolado", recebeu "um telefonema de um homem que era então Presidente da República", referindo-se a Mário Soares.
Herman recriou essa conversa e imitou a voz de Mário Soares, tendo feito o mesmo em relação a uma outra conversa com o mesmo Mário Soares a dizer-lhe que ia ser condecorado em 1992.
Segundo o humorista, a felicidade que sentiu com esta medalha que hoje recebeu das mãos de Costa teve a mesma intensidade da que sentiu em 1992. "Sobretudo potenciado pelo facto de ser um Governo que está híper demissionário. São pessoas que daqui a uns dias já não mandam nada, nada. Têm de devolver tudo, as mobílias, as coisas. Vão para casa", ironizou.
A linha do humor seguiu com Herman a imaginar que António Costa lhe podia ligar daqui a uns meses a pedir-lhe ajuda para "descobrir o novo sítio para o aeroporto", o que mereceu os risos do ainda primeiro-ministro.
"Ou, pior ainda, ligar-me o senhor ministro das Finanças, Fernando Medina, a dizer: 'Herman José, está bom? Tenho aqui um problema, tenho aqui quatro mil milhões a mais e não sei como é que hei de gastar isto e depois lá tínhamos de ir de avião para Arábia Saudita ter com o Cristiano Ronaldo para pedir a Georgina emprestada durante 15 dias", brincou.