Audrey Diwan, com a ajuda de Rebecca Zlotowski, realizadora que assina também o argumento, está mais interessada em questões de poder. Poder feminino…Ao contrário do filme anterior, preocupa-se mais com a forma do que com a substância. Dir-se-ia que é um filme de esteta, sobretudo na forma como aborda as questões da sensualidade feminina, como se fosse um enorme cardápio sobre essa questão premente da representação da sexualidade em cinema. O que é isso de filmar o desejo? Será que o desejo das personagens deve contaminar a libido de quem o vê? As respostas não são claras, algo que não compromete a visão. Afinal, a aragem de thriller proporciona isso mesmo. Aqui, o primordial, é a palavra mistério.
O desejo como fonte de mistério na história desta mulher que se vê presa nas aspirações de carreira. E aí é mesmo significativo o peso da inquietação dos sentidos: ela excita-se porque pode realmente estar à procura de uma libertação, tão interior como exterior. Esta Emmanuelle está à procura do risco. Ou de sair de uma prisão dourada (o luxo é filmado num ângulo de gaiola dourada e esse fascínio torna-se parte da proposta, mesmo quando em determinadas alturas o hedonismo das imagens possa ferir).
Noémie Merlant não é Sylvia Kristel nem o quer ser, mas é uma Emmauelle mais do que competente num objeto que às vezes cai na ratoeira do politicamente correto destes tempos de cultura woke, um pouco como se estivéssemos numa comissão de coordenadores de intimidade (todas as cenas de sexo foram meticulosamente coreografadas por um reputado coordenador). Futebol basco ao barulho
No arranque do festival destaque ainda para Los Williams, de Raúl de la Fuente, documental sobre os irmãos do Atlético de Bilbau, os futebolistas Iñaki Williams e Nico Williams, craques de nível global com sangue ganês. Assemelha-se a um vídeo promocional de um canal de equipa de futebol (não é por acaso que nas imagens de arquivo temos o logo do Athetic…), ainda para mais com alguma fórmula de documentário Netflix ou Prime Video. Mas, por outro lado, o realizador, sabe juntar bem os dois irmãos e criar um elo humano nesta história de refugiados que triunfam na Europa, sobretudo pela viagem ao Gana onde se conta o relato da epopeia de migração dos pais e a forma como foram aceites no País Basco. Ajuda, evidentemente, gostar de futebol…Eis um filme perto dos nossos tempos: no seu último terço relata a conquista de Nico no último Euro na Alemanha.