O Decreto-Lei n.º 2/2024, de 5 de janeiro, que permite a emissão de Certificados de Incapacidade Temporária (CIT) - vulgo baixas médicas - aos serviços de saúde dos setores privado e social e aos serviços de urgências do Serviço Nacional de Saúde (SNS), ainda assinado pelo anterior ministro, Manuel Pizarro, e com entrada em vigor a 1 de março, já conseguiu aliviar os médicos de família em mais de 426 mil consultas para esta finalidade. Mas mesmo assim, seis meses depois de a lei entrar em vigor, os dados disponibilizados ao DN pelos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) mostram que até ao dia 11 de setembro os médicos de família realizaram mais de um milhão e meio de consultas que resultaram em baixas médicas, mais precisamente 1.555.834.
Para o presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), Nuno Jacinto, o balanço da nova lei é positivo, embora destaque que ainda “há coisas que devem ser revistas e mudadas nesta legislação”, nomeadamente no que respeita “à renovação das baixas, aos relatórios clínicos pedidos por ginásios e outras entidades e até na renovação do receituário”.
Em relação às baixas, admite não haver dúvidas de que a nova lei veio aliviar “os cuidados primários” e repor o que diz ser “uma questão básica”, que é: “O médico que observa o doente e que determina a sua incapacidade é quem deve emitir a baixa, quem a deve assinar e assumir essa responsabilidade.”
De acordo com o regime anterior, todas as baixas tinham de ser passadas pelo médico de família, mesmo que a incapacidade para o trabalho fosse observada numa consulta de um serviço de urgência, numa consulta externa de um hospital do SNS ou numa unidade de saúde privada ou social. E isto, para Nuno Jacinto, “era incompreensível”.
Aliás, ressalva, “a nova medida teve vantagens para os profissionais, que assim ficam com mais tempo disponível para consultas de doença aguda ou de doença crónica, mas também para os utentes, que escusam de sair de uma urgência ou de uma unidade privada e ter de ir para o centro de saúde à procura de uma vaga para pedir a baixa que outro médico lhe prescreveu”.
Na verdade, e tendo em conta os dados do SPMS, de 1 de março a 11 de setembro foram passadas 426.456 baixas médicas fora dos centros de saúde, englobando aqui 292.336 passadas por diferentes entidades do setor público, através de médicos do Ministério da Defesa, da Justiça, dos hospitais do SNS e do ICAD (Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências), as 94.723 passadas pelos prestadores de saúde dos setores privados e social e mais 39.397 passadas pelos médicos das urgências do SNS.
Mas se a este total juntarmos ainda os números das Autodeclarações de Doença (ADD), os atestados de três dias que são pedidos pelo próprio doente online, sendo ele a atestar não estar em condições para trabalhar, o que passou a ser possível em julho do ano passado (antes este tipo de atestado também tinha de ser passado no centro de saúde), pode dizer-se que neste último ano os médicos de família foram aliviados em mais de 700 mil consultas, já que os dados do Ministério da Saúde revelam que de 1 de janeiro a 16 de setembro foram emitidas 321.533 ADD.