Parlamento Europeu
25 junho 2024 às 22h10
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Acordo político preliminar confirma António Costa no Conselho Europeu

Grupos políticos no Parlamento Europeu reagem com “prudência” e sem “triunfalismo” a acordo sobre cargos de topo.

Os negociadores das três famílias políticas estiveram reunidos para procurar uma solução para o impasse, confirmou o DN junto de uma fonte europeia próxima do processo, que destacou que “continua tudo em aberto” até à reunião do Conselho Europeu.

Porém, “nenhuma tentativa para explorar outra configuração para a distribuição dos cargos de topo foi colocada em cima da mesa”, sublinhou a mesma fonte. Esta configuração garante que a presidência do Conselho Europeu será atribuída à família socialista, a Comissão e o Parlamento ficarão entregues ao Partido Popular Europeu (PPE) e o cargo de Alta Representante será atribuído aos Liberais.

O acordo negociado pelo primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, e o primeiro-ministro polaco, Donald Tusk (em nome do PPE), pelo primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, e o chanceler alemão, Olaf Scholz (pelos socialistas), e pelo presidente francês, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro neerlandês, Mark Rutte (pelos liberais), não fecha a porta à renovação do mandato de presidente do Conselho Europeu para um novo ciclo de dois anos e meio.

No Parlamento Europeu a reação dos grupos parlamentares ao acordo político para os principais cargos em Bruxelas é de “prudência” até que haja uma decisão “formal” em sede de “Conselho Europeu”. A vice-presidente do grupo do PPE, a portuguesa Lídia Pereira, lembra que até à decisão dos 27 nada está decidido. “São boas notícias, é verdade, mas ainda não está confirmado”, afirmou aos jornalistas. “É uma proposta que será apresentada ao Conselho pelos seis negociadores dos três principais partidos do centro democrático”, detalhou a eurodeputada, considerando que se trata de “uma perspetiva otimista”. “Mas eu acho que não vale a pena estarmos a ser demasiado triunfalistas, porque não sabemos qual será o resultado da reunião de quinta-feira”, frisou.

No mesmo sentido, a espanhola que ontem foi reeleita presidente do grupo dos Socialistas e Democratas (S&D) no Parlamento Europeu, Iratxe Garcia Perez, prefere “esperar para ver se o Conselho [Europeu] ratifica o acordo”. “Nesse caso começaremos a trabalhar aqui. E, claro, para nós é importante insistir que queremos um acordo e, ao mesmo tempo, queremos negociar políticas. Isto não pode ser um cheque em branco. Temos de falar sobre as nossas prioridades e vamos ser muito sérios nesse sentido”, afiançou.

Pelos liberais, a presidente do grupo Renovar a Europa (Renew), a francesa Valérie Hayer, espera um acordo rápido, embora considere que será preciso “aguardar a decisão formal e a informação oficial do Conselho”. “[Para já] tomamos nota. Era importante que o Conselho tomasse uma decisão rapidamente. E depois, uma vez que a candidata [à Comissão] seja confirmada, para nós, no Renew, o que importa não é a pessoa, mas sim o programa político”, destacou. “Teremos discussões com prioridades políticas que serão fortes e que serão as exigências em troca do nosso apoio, e isso será obviamente importante no conteúdo e nas prioridades políticas”, concluiu.

Espera-se agora que os chefes de Estado ou de governo deem o seu aval ao acordo político preliminar fechado pelos seis negociadores. No entanto, há também a expectativa de algumas críticas durante a reunião magna dos 27, amanhã e sexta-feira. Ainda ontem o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, manifestou o seu desagrado pelo “acordo que o PPE fez com os esquerdistas e liberais”, considerando que “vai contra tudo aquilo em que a UE se baseou”. “Em vez de inclusão, planta sementes de divisão”, comentou numa breve nota pública, acrescentando que “os altos funcionários da UE devem representar todos os Estados-membros, não apenas esquerdistas e liberais”.

O acordo não conta com as famílias políticas do grupo dos Conservadores e Reformistas (ECR), que tem como representante na mesa do Conselho Europeu a primeira-ministra italiana, Georgia Meloni. O governo italiano tem pressionado para conseguir um cargo importante, como uma vice-presidência da Comissão Europeia. O argumento apresentado esta semana pelo ministro italiano dos Negócios Estrangeiros, Antonio Tajani, é que Itália é “um país fundador e a segunda maior economia industrial da Europa”. Por essa razão, o ministro de Meloni considera que o país tem “direito a um reconhecimento de alto nível”.

Mas no Parlamento Europeu o grupo dos partidos socialistas, S&D, e o grupo dos liberais, Renew, fecham a porta a qualquer discussão com o ECR, que acolhe os deputados do partido de Giorgia Meloni Fratelli d’Italia. “No Renew apoiamos uma coligação a três: PPE, S&D e Renew. E posso confirmar que, para mim, o ECR não deve fazer parte desta coligação, que deve ser composta por pró-europeus que estejam numa lógica construtiva a favor dos cidadãos europeus”, afirmou Valérie Hayer, classificando o ECR como “um grupo de extrema-direita”.

No mesmo sentido, Iratxe Garcia admite apenas trabalhar “com as forças políticas pró-europeias”, considerando que “não existe uma extrema-direita boa e uma extrema-direita má. Há apenas uma extrema-direita, a que quer destruir a União Europeia”, vincou ainda a líder do grupo S&D.