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Internacional
06 novembro 2024 às 00h33
Leitura: 11 min

O peso dos EUA no mundo: do poderio militar às universidades de excelência

A superioridade norte-americana no xadrez mundial vai da sua área geográfica ao número de prémios Nobel conquistados, mas num pódio muitas vezes partilhado e disputado com as rivais China e Rússia e a aliada União Europeia.

Os Estados Unidos ocupam cerca de metade da área da Rússia, são ligeiramente maiores do que a China e têm mais do dobro da superfície da União Europeia. Em termos de população são apenas batidos por Índia e China, mas se juntarmos a União Europeia a esta equação, a população dos seus 27 países (449 milhões) bate os seus cerca de 342 milhões de residentes.

Enquanto americanos e europeus surgem como tradicionais aliados, veja-se por exemplo, a NATO ou o G7, o mesmo já não sucede com russos e chineses, que tentam desafiar o papel de influenciador mundial ocupado há décadas pelos Estados Unidos.

Para Michael Beckley, professor associado de Ciência Política na Universidade Tufts e autor do livro Inigualável: Por que a América continuará a ser a única superpotência do mundo, uma das razões para os Estados Unidos serem o país mais poderoso é o facto de terem “uma enorme liderança nas medidas mais importantes do poder nacional. A China é o único país que chega perto, e a América ainda tem três vezes a riqueza da China e cinco vezes as suas capacidades militares. Essa lacuna levaria décadas a ser colmatada, mesmo que as coisas corressem mal para os Estados Unidos”. Outra razão, é que “as coisas provavelmente não correrão mal para os Estados Unidos, pelo menos relativamente falando, porque têm as melhores perspetivas de crescimento económico a longo prazo entre as grandes potências”.

Na mesma entrevista à Tufts Now, este analista refere ainda que “geograficamente, os Estados Unidos são um centro económico natural e uma fortaleza militar. Estão repletos de recursos e têm mais artérias económicas, como vias navegáveis e portos, do que o resto do mundo combinado. Os seus únicos vizinhos são o Canadá e o México. A China, pelo contrário, consumiu os seus recursos e está cercada por 19 países, muitos dos quais são hostis ou instáveis, e dez dos quais ainda reivindicam partes do território da China como suas”.

Quanto à Rússia, Beckley lembra que Moscovo “ameaça muitos interesses dos EUA - ameaça aliados dos EUA, apoia adversários dos EUA como o Irão e a Síria, assassina defensores pró-democracia, intromete-se em eleições (…) mas a Rússia não está preparada para se tornar uma superpotência rival como era a União Soviética”.

Mas esta publicitada superioridade norte-americana, comparada aos grandes blocos mundiais como a China, Rússia e a aliada UE, acaba por não ser total, como demonstram os números em algumas áreas.

PIB MUNDIAL

Os EUA continuam a manter o seu estatuto de país mais rico e maior economia global, posição que ocupam desde 1960. Este ano, de acordo com dados de outubro do Fundo Monetário Internacional, apresentam um Produto Interno Bruto de 28,78 biliões de dólares, o que representa 14,99% do PIB mundial baseado na PPC (paridade do poder de compra). O lugar de segunda maior economia mundial é ocupado pela China, com um PIB de 18,53 biliões de dólares, o equivalente a 19,05% do PIB mundial baseado no PPC. Em termos de PIB per capita, no entanto, os EUA ocupam o sexto lugar mundial, enquanto a China é 70.ª (com 86601 e 12969 dólares respetivamente). A Rússia é considerada a 11.ª maior economia do mundo, com um PIB de 2,06 biliões de dólares e representando 3,55% do PIB mundial baseado no PPC. 

Se contabilizarmos o total da União Europeia, de acordo com os dados de outubro do FMI, o bloco dos 27 é a segunda maior economia do mundo em termos nominais, depois dos EUA, e a terceira maior em paridade de poder de compra, depois da China e dos EUA. O PIB da UE é estimado em 19,40 biliões de dólares (nominal) em 2024 ou 28,04 biliões de dólares (PPC), representando cerca de um sexto da economia global. A Alemanha tem o maior PIB nacional de todos os países da UE, sendo a terceira maior economia mundial em termos de países.

PODERIO MILITAR

De acordo com o ranking do Global Firepower relativo a este ano, os Estados Unidos surgem no primeiro lugar entre 145 países, posição que ocupam há 18 anos, seguidos de Rússia e China. Os países da União Europeia com um maior poderio militar são a Itália (10.º), França (11.º) e Alemanha (19.º). 

Washington tem um orçamento militar estimado de 871 mil milhões de dólares, o mais alto do mundo, e um total de pessoal militar estimado de 2127500 (são líderes mundiais na Marinha e Força Aérea e os quintos no Exército), 13209 aeronaves e 4657 tanques e 472 meios da Marinha, incluindo 11 porta-aviões e 64 submarinos.

A Rússia tem um orçamento de Defesa estimado de 109 mil milhões de dólares, o terceiro maior do mundo, e 3570000 efetivos, entre militares no ativo, reservistas e paramilitares. Em termos de meios, Moscovo tem à sua disposição 4255 aeronaves, 1547 dos quais helicópteros, 14777 tanques (aqui lideram), sendo líderes mundiais nos meios navais (781), com a ajuda de 83 corvetas e 65 submarinos.

A China fecha o pódio da lista, mas surge em segundo no que diz respeito ao orçamento de Defesa, com um gasto estimado de 227 mil milhões de dólares. As Forças Armadas chinesas têm um efetivo de 3170000 militares, liderando em termos mundiais o número de homens afetos ao Exército (2545000), e aparece em segundo na Marinha (380 mil) e na Força Aérea (400 mil). Quanto a meios, Pequim possui 3304 aeronaves, 1207 das quais caças (são os segundos a nível mundial), lideram nos lançadores de múltiplos de rockets (3180), 730 meios navais, liderando nas fragatas (42) e surgindo como a segunda maior força mundial em porta-aviões (2), contratorpedeiros (49) e corvetas (72).

Do lado da UE, o destaque vai para o poderio militar italiano, considerado pelo Global Firepower o décimo maior do mundo, apresentando um orçamento de Defesa que ronda os 31,6 mil milhões de dólares e um contigente militar de 289 mil pessoas. Roma é destacada pela sua excelência em meios aéreos (com um total de 800), nomeadamente a sua frota de oito aviões-tanque e 402 helicópteros (nonas maiores a nível mundial), mas também navais - tem um total de 309 meios (7.º), incluindo dois porta-aviões (2.º), 13 fragatas (5.º) e quatro contratorpedeiros (10.º).

PODER NUCLEAR

Existem 12 512 ogivas nucleares no mundo, com 90% delas a serem divididas entre a Rússia (5889) e os EUA (5224). Washington tem as suas divididas entre solo americano, Itália (35), Turquia (20), Bélgica (15), Alemanha (15) e Países Baixos (15), segundo a Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares (ICAN). Logo a seguir surge a China com 410 e a França (290), o único país da UE com armas nucleares próprias. 

UNIVERSIDADES

O Ranking de Xangai, referente a 2024, é dominado como habitualmente pelos EUA, que ocupam o pódio com as universidades de Harvard, Stanford e MIT, surgindo ainda com oito instituições no top 10. Não muito longe está a melhor universidade da UE, a francesa Paris-Saclay, que surge na 12.ª posição. França tem também a terceira melhor instituição superior do bloco, a PSL (33.º), logo atrás da dinamarquesa Universidade de Copenhaga (32.º). A China tem 14 universidades entre as 100 melhores do mundo, destacando-se a Universidade Tsinghua (22.º), a Universidade de Pequim (24.º) e a Universidade de Zhejiang (27.º). A Rússia não vai além das sete instituições, sendo a Universidade Estatal de Moscovo a mais bem classificada (101-150).

PATENTES

Os dados mais recentes da Organização Mundial de Propriedade Intelectual (WIPO) mostram que 46,8% dos 3457400 pedidos de patentes apresentados em 2022 vieram da China, 17,2% dos EUA, com os pedidos vindos do Escritório Europeu de Patentes a surgir em quinto lugar, com 5,6%. Em termos de números de patentes, referente ao mesmo ano, a China surge com 1619268 (mais 2,1% em relação a 2021), os EUA com 594340 (mais 0,5%) e o gabinete europeu com 193610 (mais 2,6%), com a Alemanha a distinguir-se de forma isolada com 57213 (menos 2,3%). A Rússia surge na décima posição com 26924 (menos 13,1%).

Ainda de acordo com a WIPO, “os candidatos da China inscreveram-se principalmente em comunicação digital, e os EUA inscreveram-se principalmente em tecnologia informática”. Dentro da Europa, a Alemanha entrou com “pedidos principalmente em máquinas elétricas”. A empresa que mais pedidos de patentes apresenta no mundo é a chinesa Huawei (6494), com a norte-americana Qualcomm (3410) a surgir em terceiro. A melhor europeia é a sueca Ericsson (1863), em sétimo.

PRÉMIOS NOBEL

Os EUA são de longe o país com mais prémios Nobel, num total de 420 laureados e 423 distinções (John Bardeen venceu por duas vezes na categoria de Física, K. Barry Sharpless bisou em Química e Linus C. Pauling recebeu um Nobel de Química e outro da Paz).

A Alemanha é o terceiro país com mais distinções (115), seguida da França (76, Marie Curie ganhou dois) e Suécia (34). Estes são os países mais distinguidos dentro da União Europeia, sendo que a Áustria fecha o top 10, com 25. A Rússia, que contabiliza também os prémios recebidos pela União Soviética, surge em sétimo da lista, com 30 distinções, com a China a aparecer em 23.º, com oito prémios Nobel, os mesmos ganhos por Espanha.

Por áreas, os Estados Unidos lideram na Física (97 laureados em 227), Medicina (106 em 229), Química (76 em 197), Economia (63 em 96), e Paz (23 em 139). A única exceção é a Literatura, liderada por França, com 16 laureados em 121, mas seguida dos Estados Unidos (13). Dentro da UE destaque ainda para a Alemanha (9), Suécia (8), Polónia, Espanha e Itália (6 cada). A Rússia (todos pela União Soviética) já conquistou cinco e a China dois.