A Euribor, principal indexante usado nos créditos à habitação, deve fechar o ano abaixo dos 3%, dando mais fôlego financeiro às famílias e também às empresas. Aliás, tudo aponta para que venha aí um ciclo de redução dos juros. As projeções do mercado indicam que a taxa a seis meses deverá descer para 2,84% e a a 12 meses para 2,74% até ao fim de 2024, diz Filipe Garcia, economista da IMF - Informação de Mercados Financeiros. Esta quarta-feira, a Euribor a seis meses diminuiu para 3,379%, e a a 12 meses caiu para 3,094%. Esta tendência de quebra deverá manter-se ao longo de 2025, com o mercado a estimar que cairá para 2,20% no prazo a seis meses, e para 2,36% a 12 meses.
A próxima reunião do Banco Central Europeu (BCE), agendada para 12 de setembro, será determinante para estas quedas. Para Pedro Lino, economista e CEO da Optimize e da Dif Broker, o BCE deverá voltar a baixar as taxas de juro diretoras em 0,25 pontos percentuais, depois da descida protagonizada em junho passado, a primeira desde que os juros começaram a subir, em julho de 2022. “A diminuição da subida do ritmo dos preços, da inflação para o objetivo dos 2% e a estagnação económica da Zona Euro, para além da subida excessiva dos juros, ditam uma normalização para os 2-2,25% até fim de 2025”, diz. Como frisa, “teremos um ciclo de redução de juros”.
As taxas “já deveriam estar mais baixas há mais tempo”, pois “nem a economia justifica taxas reais tão altas, nem sequer a evolução da inflação”, defende também Filipe Garcia. “As perspetivas mais favoráveis em termos de evolução da inflação e o cenário de desaceleração económica” justificam que seja “amplamente esperado que haja um corte em setembro”, diz. Para o economista, o caminho é de gradual queda, embora possa não ser ao ritmo que o mercado espera. Mas “seguramente que as condições em termos de juros vão melhorar”.
Os bancos já começaram a acomodar esta descida. A Euribor a 12 meses - que esteve acima de 4% entre 16 de junho e 29 de novembro de 2023, atingindo mesmo 4,2% - começou a inverter e está, neste momento, a refletir uma redução de 1%. O mesmo sucedeu com a taxa no prazo de 6 meses, que esteve acima dos 4% entre 14 de setembro e 1 de dezembro, e que tem vindo a cair. Como lembra Nuno Melo, analista da XTB, “a média da Euribor em agosto voltou a descer em todos os prazos (a 3, 6 e 12 meses), uma tendência que se tem vindo a verificar nas últimas semanas e que mostra claramente que o mercado antecipa um corte na taxa de juro por parte do BCE”.
Confirmando-se esta descida, “os portugueses podem esperar um alívio nas prestações à medida que o seu indexante é atualizado”, diz Pedro Lino. No entanto, lembra, “se o indexante é a 12 meses só no mês de atualização é que é revisto”, ou seja, quem teve a sua prestação revista em junho (nos 3,7%) com um indexante anual, terá de esperar até junho de 2025 para ter efetivamente um alívio”. Como frisa, “mesmo com os juros a descerem essas pessoas não terão alívio, pelo menos para já”.
Uma simulação do ComparaJá com base num empréstimo de 100 mil euros, a 30 anos, com um spread (margem de lucro do banco) de 1%, permite verificar que, neste mês de setembro, há já famílias a sentirem um ligeiro alívio na prestação do crédito à habitação, fruto da tendência decrescente das Euribor que se regista desde o início do ano. Segundo a análise da plataforma, a prestação diminuiu este mês 8,20 euros num empréstimo indexado à Euribor a três meses, para 509,54 euros. No caso dos contratos indexados à Euribor a seis meses, verificou-se uma redução de 13 euros, para 502,24 euros. Já no indexante a 12 meses a prestação desceu para 487,03 euros, menos 21,20 euros. Estes valores foram calculados tendo por base a média da taxa Euribor em agosto, de 3,425% a seis meses, 3,548% a três meses e 3,166% a 12 meses.
De acordo com o Banco de Portugal, em junho, a Euribor a 6 meses era a taxa variável mais utilizada, com um peso de 37,5% do stock de empréstimos para compra de casas, seguindo-se a Euribor a 12 meses, que representava 33,7%, e, por fim, a a 3 meses, com um peso de 25,7%.
No entanto, o analista da XTB não dá como garantida uma decisão do BCE de descida dos juros. Em agosto, lembra, a taxa de inflação anual na Zona Euro caiu para 2,2%, de 2,6% no mês anterior, impulsionada pela descida dos custos da energia e dos alimentos não-transformados. Excluindo estas duas categorias, “o crescimento dos preços manteve-se inalterado nos 2,8% e os salários continuam a aumentar, o que reforça os argumentos para que o BCE atue com cautela”, frisa. Recorde-se que o BCE começou a subir as taxas de juro diretoras com o objetivo de controlar o crescimento da inflação e trazê-la para o patamar dos 2%.