Paris2024
09 agosto 2024 às 22h54
Atualizado em 09 agosto 2024 às 20h36
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Pedro Pichardo “desmotivado” admite acabar a carreira após prata olímpica

Triplista perdeu o título olímpico para o espanhol Jordan Díaz, mas entrou no restrito grupo dos atletas com duas medalhas. No fim surpreendeu ao dizer que pondera abandonar a carreira aos 31 anos devido aos poucos apoios e aos problemas contratuais com o Benfica.

O rapaz de “feitio especial”, como o apelidou o presidente do Comité Olímpico de Portugal, José Manuel Constantino, antes dos Jogos Olímpicos Paris 2024, não conseguiu revalidar o título olímpico por dois (ou três) centímetros, mas a prata que conquistou na final do triplo salto de hoje não deixa de ser histórica. 

O triplista de 31 anos já tinha conquistado o ouro em Tóquio2020 e entrou assim para o restrito grupo dos atletas com duas medalhas, igualando os feitos de Carlos Lopes (ouro na maratona em Los Angeles1984 e prata nos 10 000 metros em Montreal1976), Rosa Mota (ouro em Seul1988 e prata em Los Angeles1984 na maratona), Fernanda Ribeiro (ouro em Atlanta1996 e bronze em Sydney2000 nos 10 000 metros), bem como Luís Mena e Silva (bronze em Berlim1936 e Londres1948) e o canoísta Fernando Pimenta, que hoje se pode distanciar com três medalhas.

O pódio de Pichardo foi o terceiro para Portugal em Paris2024 e o 31.º da história do olimpismo português. E permitiu igualar as três medalhas das missões Atlanta96 e Atenas2004. Melhor só as quatro de Tóquio2020, objetivo contratualizado aliás.

O atleta português - que recebe hoje às 18.41 a medalha - tinha conseguido o apuramento para a final com um salto (17,44 metros) e um ar descontraído que fazia prever um feito histórico: o de ser o único bicampeão olímpico de Portugal. O que acabou por não conseguir por culpa do espanhol Jordan Díaz, que ficou com o ouro ao saltar 17,86 metros na primeira tentativa. Tal como o atleta do Benfica, que teve no seu primeiro salto o melhor desempenho (17,84 metros). E assim em Paris, a história de Roma repetiu-se. Díaz, que já tinha batido o português na final dos Europeus de junho, voltou a levar a melhor sobre o antigo compatriota - ambos nasceram em Cuba, tal como o italiano Andy Díaz Hernández que ficou com a medalha de bronze (17,73 metros).

No final, após colocar a bandeira nacional sobre os ombros, veio o desabafo inesperado de Pichardo. “Estou um pouco desmotivado. Muitos problemas com o clube [Benfica], falta de apoio das instituições, do governo. Estou um pouco desmotivado. Estava a pensar retirar-me depois de hoje [ontem]. A minha família tem falado para continuar, mas ainda não sei. O que está na minha cabeça é ficar por aqui já”, confessou o agora vice-campeão mundial à RTP2, admitindo, ainda assim, estar “feliz” com a medalha: “Queria ganhar, não foi dia da vitória, mas saio com boas sensações. Foi uma competição boa, da próxima será melhor.”

O triplista nascido em Santiago (Cuba) pode não ser o rei da empatia nem da modéstia, mas nasceu literalmente para altos voos. Entre entre 2021 e 2022 conquistou três dos mais importantes títulos ao sagrar-se campeão olímpico, Mundial e europeu. Depois lesionou-se, esteve quase um ano sem competir e denunciou publicamente existirem problemas contratuais com o Benfica, que ainda persistem. Inscrito na época desportiva, pela Federação Portuguesa de Atletismo, “em nome do interesse nacional”, o atleta mostrou que é dos melhores do mundo e conseguiu mais uma medalha olímpica.

Em Paris, após assistir à prova do português, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, depois de o parabenizar, mostrou a intenção de reforçar os apoios ao desporto e à alta competição.

O ouro ficou a dois (ou três) centímetros. “Hoje infelizmente cometi erro na corrida, não acertei na tábua. E perdi o ouro por dois centímetros. É continuar a trabalhar, cabeça levantada e seguir para em frente”, disse o triplista, antes de explicar que abdicou do quinto salto por indicação do pai e treinador, depois de sentir um desconforto no tornozelo.

O atletismo continua a ser a única modalidade de ouro e a que mais contribuiu até hoje para o medalheiro olímpico de Portugal. São 13 pódios, incluindo todos os cinco ouros Olímpicos do país. A tradição de maratonistas e fundistas portugueses, que rendeu grandes momentos nos Jogos da década de 80 e 90, deram depois lugar ao reinado das disciplinas técnicas como o triplo salto, que se tornou a disciplina mais importante para os portugueses, já com quatro medalhas.

Pichardo era a maior esperança para fazer ecoar A Portuguesa, mas não o conseguiu. Hoje é a vez de Fernando Pimenta o tentar na canoagem (ver página ao lado). Dos quatro medalhados dos últimos Jogos, o judoca Jorge Fonseca foi eliminado precocemente e Patrícia Mamona não recuperou de lesão e não se apurou para Paris.

isaura.almeida@dn.pt