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Sociedade
03 setembro 2024 às 00h00
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Queda de helicóptero do INEM deixa socorro noturno só com um aparelho

“Sem este helicóptero obviamente que o socorro fica comprometido”, diz Paulo Paço, presidente da Associação Nacional de Técnicos de Emergência Médica, ao DN. Portugal tinha 4 helicópteros sendo que só dois trabalhavam 24 horas. Substituição pode não ser imediata.

“Não é preciso fazer muitas contas para perceber que o serviço já estava comprometido, no modelo atual [dois aparelhos apenas em serviço 12 horas]. Sem este helicóptero obviamente que o socorro fica comprometido”, afirma ao DN Paulo Paço, presidente da Associação Nacional de Técnicos de Emergência Médica (ANTEM), a propósito da queda, esta segunda-feira, 2, de um helicóptero do INEM, em Mondim de Basto. Os quatro ocupantes foram transportados ao hospital de Vila Real, por precaução.

O aparelho acidentado era um dos quatro em funcionamento, ao serviço do INEM. O helicóptero que se preparava para socorrer um trabalhador, numa pedreira, em Mondim de Basto, estava sediado em Macedo de Cavaleiros e operava 24 horas por dia. Os restantes aparelhos, ao serviço do INEM estão sediados em Loulé, também a trabalhar 24 horas por dia, e em Viseu e Évora, estes últimos apenas operacionais 12 horas durante o período diurno. Este horário entrou em funcionamento no início deste ano. 

Contactado pelo DN, o INEM não apontou um prazo para a substituição do helicóptero acidentado. “Penso que isso fará parte do protocolo celebrado entre o INEM e a Avincis [empresa que opera os aparelhos], ou seja haver uma aeronave para substituição, para situações destas”, acredita Paulo Paço. 

O DN colocou a hipótese de o helicóptero sediado em Viseu [o mais próximo do acidentado] poder vir a operar 24 horas por dia. “Penso que não haverá a possibilidade de estender a outra aeronave para um período de 24 horas. Penso que manterá a operação 12 horas”, opina o presidente da ANTEM. 

Ao mesmo tempo, Paulo Paço reforça que há riscos para a população com um helicóptero a menos. “O principal risco, desde logo, é o facto de faltar um meio de suporte avançado de vida. Os helicópteros são meios que podem ir diretos ao local da ocorrência”.

Ao mesmo tempo, segundo o modelo que está montado para a operação dos quatro helicópteros do INEM, Paulo Paço adverte: “Há algo que nós já temos vindo a alertar há algum tempo. Os modos em que funcionam as aeronaves do INEM têm de ser revistos, uma vez que aquilo que deveria ser a função primária destas aeronaves - que é ir ao local da ocorrência e depois transportar, se necessário, as vítimas ao hospital - muitas vezes é a função secundária”.

O presidente da ANTEM prossegue: “Estes meios, a maior parte do tempo, estão alocados a situações que nós conhecemos como transporte secundário. São situações de evacuação sanitária, por exemplo, de um hospital para outro”. E concretiza: “Imaginemos que um doente que se encontre em qualquer zona do país está num hospital que está limitado na sua atuação, por qualquer motivo, e aquele doente precisa de cuidados de saúde mais avançados que esse hospital não pode prestar. Esse doente tem de ser transferido para uma unidade hospitalar mais adequada e sucede, muitas vezes, esse transporte ser feito de helicóptero. O que sucede é que a maior parte das vezes estes helicópteros do INEM o que andam a fazer é este tipo de serviço em vez de fazerem aquilo que seria mais necessário, que é a atuação primária”.

Na opinião de Paulo Paço os quatro meios aéreos do INEM são insuficientes. “Acho que precisaríamos de um quinto helicóptero, na região centro do país. Com esta quinta aeronave haveria a possibilidade - em situações eventuais, como a que aconteceu esta segunda-feira - de um dos meios poder movimentar-se mais para norte ou para sul, consoante a necessidade”.

Paulo Paço realça a importância de mais um meio: “Nessa situação teríamos sempre, no mínimo, uma unidade para fazer o tal transporte primário.”