Um jardim no Cais do Sodré que permitirá avistar o Tejo logo ao descer o Chiado, uma praça com parque de estacionamento semissubterrâneo e ligação ao rio no Campo das Cebolas, uma área pedonal no Corpo Santo. No prazo de "um ano e meio", Lisboa vai ganhar "uma nova frente ribeirinha", que dará continuidade, a nascente e a poente, às obras no Terreiro do Paço e na Ribeira das Naus. O investimento total, adiantou ontem o presidente da câmara municipal, Fernando Medina, é de cerca de 18 milhões de euros e os projetos começaram já a sair do papel. Em comum, os desenhos têm o facto de privilegiarem os peões e os transportes públicos em detrimento do carro.
"Sessenta por cento desta área é destinada à circulação [automóvel] e ao estacionamento", sublinhou ontem de manhã o arquiteto responsável pelos projetos de requalificação do Cais do Sodré e do Corpo Santo, acrescentando que a intenção é que essa proporção seja invertida a favor dos transportes públicos e do peão. Para isso, explicou Bruno Soares, será desde logo prolongando o corredor de transportes públicos da Avenida 24 de Julho, que se estenderá até ao Corpo Santo. Aqui, o atual parque de estacionamento informal dará lugar a uma praça que permitirá o acesso à Rua do Arsenal.
Paralelamente, deixará de ser possível circular no Jardim Roque Gameiro, junto à estação ferroviária do Cais do Sodré. Este local - cuja placa central será alargada e arborizada - poderá ser utilizado para acesso a áreas de estacionamento das entidades e empresas ali instaladas. A alternativa para quem quiser subir a Rua do Alecrim passará a ser, então, virar diretamente para a Praça Duque de Terceira, cujo centro assumirá um formato triangular. A sua calçada à portuguesa será reabilitada, estando ainda previsto que parte do seu mobiliário será reutilizado, nomeadamente candeeiros.
Intervenção muito complexa
A intervenção - que Bruno Soares ressalvou ser "muito complexa em termos técnicos" apesar de ser "aparentemente simples" - tornará ainda possível o regresso do elétrico 24 dali até às Amoreiras, um desejo antigo quer da autarquia quer de diversos movimentos cívicos lisboetas que, ao longo dos anos, tem tido a oposição da Carris, detida pela Transportes de Lisboa. "É uma velha ambição da cidade e esta obra está feita a pensar nisso mesmo, para que possamos ter a médio prazo esse elétrico de novo a funcionar", frisou Fernando Medina, no final de um percurso entre o Campo das Cebolas e o Cais do Sodré acompanhado pela comunicação social. O custo da obra, que se iniciou no final de novembro, é de 6,2 milhões de euros e a previsão é que esteja concluída em janeiro de 2017.
"É o dia em que a obra arranca"
Quando estiver pronta, será possível passear à beira-rio entre a estação ferroviária do Cais do Sodré e a estação fluvial Sul-Sueste. Dois meses depois, a cumprir-se o prazo avançado ontem pelo município, o percurso estender-se-á até ao Campo das Cebolas. "Este não é um dia de apresentação do projeto. É o dia em que a obra vai arrancar", ressalvou o autarca socialista. Para trás ficaram já as duas primeiras fases da intervenção, orçada em 12 milhões de euros, destinadas a demolir alguns armazéns e a "identificar, avaliar e decidir relativamente aos achados arqueológicos" que ali pudessem existir.
Entre os vestígios que serão preservados está, adiantou o arquiteto responsável pelo projeto, Carrilho da Graça, um muro do antigo Cais da Ribeira Velha. O achado será integrado no parque de estacionamento semissubterrâneo com cerca de 200 lugares que ali irá nascer e que permitirá compensar a perda de lugares à superfície. O equipamento ficará sob uma nova praça arborizada, "despretensiosa e acolhedora" que incluirá, graças a um protocolo entre o município e a Marinha, a devolução a lisboetas e visitantes de parte do espaço da Doca da Marinha.
Trânsito vai estar condicionado
"É um projeto de excelência", avaliou Fernando Medina, antes de sublinhar que a intervenção se insere no reperfilamento da Avenida Infante D. Henrique e que decorrerá ao mesmo tempo da construção do novo terminal de cruzeiros de Santa Apolónia, projetado também por Carrilho da Graça. Esta obra, que estará concluída em 2017, representa um investimento de 23 milhões de euros e está a cargo da LCT - Lisbon Cruise Terminals.
Serão, assim, três as obras a decorrer durante o próximo ano entre Santa Apolónia e o Cais do Sodré. A autarquia irá, por isso, ter em curso um "plano excecional de desvio de tráfego", que deverá ter início, a poente, na Avenida de Ceuta e, a nascente, em Xabregas. A iniciativa será acompanhada de um "plano de comunicação intensivo e claro". Medina ressalvou, contudo, que "em nenhum momento o trânsito ficará vedado". Tudo para continuar a devolver o Tejo à cidade e aos lisboetas.