Pedro Passos Coelho já definiu a estratégia para reforçar a liderança e esperar a oportunidade de voltar ao governo. O líder do PSD quer recolocar o partido ao centro, puxando-o mais para a esquerda e a social-democracia, retirar-lhe o cunho liberal dos últimos anos, renovar parte da estrutura e - antes de ser eleito - fazer campanha dentro e fora do partido.
O arranque da campanha como candidato à liderança do PSD, apurou o DN junto de fonte próxima da direção nacional, é já na próxima quinta-feira, 4 de fevereiro, numa sessão com militantes em Lisboa. Esta ação marca o início da campanha de Passos Coelho, que concorre nas diretas do partido a 5 de março e não deve ter nenhum opositor de relevo. O líder do PSD vai fazer um road show passando em todos os distritos em sessões de esclarecimento com dirigentes e militantes de base das estruturas do PSD.
Nesta campanha para a presidência da comissão política nacional do PSD (que durará um mês) o DN apurou que, além das ações internas, Passos Coelho vai também fazer visitas na sociedade civil, nomeadamente empresas, IPSS e movimentos associativos. Ou seja: ações típicas de período eleitoral.
Ao que o DN apurou, na moção estratégica que Passos levará ao congresso de abril, o líder do PSD não deixará cair a bandeira do rigor orçamental, mas vai recentrar ideologicamente o partido, tentando aproveitar ainda o facto de o centro ter ficado órfão com o encosto do PS à esquerda. "A ideia é puxar o partido mais para a esquerda, para a social-democracia, com especial atenção para o fim das desigualdades sociais. Afastá-lo mais da área do CDS", explica ao DN fonte próxima da direção nacional.
O ex-primeiro-ministro foi criticado, por diversas vezes, por figuras do partido (como Manuela Ferreira Leite, Marcelo Rebelo de Sousa e António Capucho) de ser demasiado liberal. Agora Passos quer fazer valer a ideia de que a austeridade não foi um escolha, mas uma necessidade e que o partido quer voltar - agora que pode - à social-democracia, com preocupações e sensibilidade social. Esta é uma forma de adequar o PSD ao seu eleitorado, mas também de condicionar alguns críticos preanunciados do congresso, como o ex-vice-presidente da bancada José Eduardo Martins.
Ruas e Cesário chamados
Como mandatário nacional da sua candidatura, voltou a escolher o eurodeputado Fernando Ruas. Atual presidente do conselho nacional é uma espécie de "talismã" do líder do PSD. Já em 2008, quando Passos Coelho enfrentou Ferreira Leite e Santana Lopes, Ruas foi o mandatário. Nessa altura Passos - que se candidata agora pela quinta vez à liderança do partido - perdeu, mas ganharia posição para ser mais tarde líder.
Para diretor de campanha escolheu um dos homens que melhor domina o aparelho laranja: o ex-secretário de Estado das Comunidades José Cesário.
O DN confirmou junto de fontes das distritais que o processo de recolha de assinaturas para oficializar a candidatura já começou, através de um dos homens de confiança de Passos, João Montenegro, que já havia sido o "homem do terreno" na campanha das últimas legislativas e que acompanha o ex-primeiro-ministro desde 2010.
Renovar o partido
É uma espécie de estratégia dos três R. Reeleger, recentrar e renovar. Quanto à reeleição: no partido está garantida com percentagens que se preveem confortáveis, mas há sempre o sentido de ser também reeleito primeiro-ministro (Passos fez saber internamente que só sai do partido se for antes ao "escrutínio popular").
Quanto a recentrar o partido, a ideia é recuperar eleitorado ao Partido Socialista, já que o PSD pode agora finalmente voltar à sua matriz social-democrata sem ter sobre si a pressão da governação.
O último desafio de Passos é renovar o partido. A eleição interna culminará com a realização do congresso do PSD nos dias 1, 2 e 3 de abril, em Espinho. Fontes da direção nacional do PSD reafirmam que o presidente do PSD aproveitará para renovar a equipa, apostando numa nova vaga de dirigentes nacionais que têm ganho espaço político e que estão a ser lançados pela direção da bancada laranja. O líder parlamentar Luís Montenegro tenta chegar à vice--presidência numa estratégia de marcar posição para o período pós-Passos. Com tudo a passar-se no Parlamento e com a necessidade de alguma renovação, alguns dos dirigentes da bancada podem transitar para o partido, com nomes como Miguel Morgado ou António Leitão Amaro a circularem já pelos corredores como hipóteses. Porém, a decisão final é de Passos.