10 janeiro 2016 às 01h27

Passos e Portas fora da campanha. A culpa é de São João da Madeira

Marcelo começa na zona centro e ainda não revelou os mandatários distritais. Vai privilegiar a área social nas suas visitas. A volta será o mais "independente" possível

Rui Pedro Antunes

Nem Passos nem Portas. A volta de Marcelo Rebelo de Sousa é a prova de que o apoio (ou melhor, a recomendação) de PSD e CDS não é um trunfo que o professor queira utilizar na campanha. No percurso que Marcelo traçou pelo país não está prevista a presença de qualquer líder partidário. Mas a vontade é pouca de parte a parte.

Desde logo, Marcelo pretende afirmar que é um candidato "independente", além de não morrer de amores por nenhum dos dois líderes do centro-direita. Ao DN, fonte da campanha explica que "não há qualquer apoio formal, pelo que não incluímos na agenda nem está prevista a presença de Passos Coelho nem de Paulo Portas".

[destaque:Além de Marcelo, só os mandatários distritais vão discursar nos eventos públicos]

De acordo com a mesma fonte, "se dirigentes dos dois partidos decidirem aparecer de forma espontânea", sejam os líderes ou outros dirigentes, "serão todos bem-vindos à campanha", até porque "o professor não é ingrato e não exclui ninguém".

A esta frase, um dirigente do PSD ouvido pelo DN (e que apoia Marcelo) não deixa de defender o líder. "A campanhas, a casamentos e a batizados só vão os convidados. Se Passos não foi convidado, naturalmente não irá." Já um membro da direção nacional do PSD foi mais criativo: "Vou à campanha de Marcelo no dia 25." Ou seja: um dia após as eleições.

Se o plano de campanha veio confirmá-lo, há muito que Marcelo vinha revelando algum desconforto com a presença de Passos Coelho. E até de uma forma criativa culpando... São João da Madeira.

Questionado há dias sobre a presença de Passos na campanha, Marcelo livrou-se da questão justificando a não presença do líder com as eleições intercalares naquele concelho "em que estão envolvidos partidos e, porventura, os líderes e isso talvez justifique que não haja uma confusão com as duas campanhas". Sobre este assunto, Marcelo disse que "a candidatura é independente e tem-se movido à margem da participação dos responsáveis dos partidos que vieram mais tarde a declarar-lhe o apoio". Quanto à relação que tem mantido com o líder do PSD, Marcelo confessou que "não tem sido possível [falar com Passos], tão ocupado tenho andado."

A vontade de Passos Coelho em ir à campanha também não era muita e Marcelo acusou o toque: "Penso que interpretei bem as palavras dele quando disse que, por ele, não fazia questão de participar numa campanha que é independente, deve ter querido dizer que preferia manter-se distanciado da campanha presidencial."

Do lado do CDS, também Paulo Portas tem uma desculpa para não aparecer na campanha: o partido está a meio de um processo de sucessão, o que não significa que não apareçam outros líderes. Ao DN, fonte próxima da direção do CDS desvalorizou a ausência. Lembrou que "em quase todas as ações do Marcelo têm estado presentes pessoas do CDS. Quanto a dirigentes, ainda não está definido". Porém, como Passos se demarcou, é provável que Portas faça o mesmo. Já durante as legislativas, Marcelo, Passos e Portas só estiveram juntos alguns minutos, no início da descida do Chiado. Depois, Marcelo saiu de cena.

O desconforto não era com os partidos mas com os líderes. Nesse mesmo dia (o último da campanha, a 2 de outubro), Marcelo esteve num comício final de campanha - e muito mais tempo - com figuras como o líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, e com os centristas João Almeida e Nuno Melo. Em que lugar foi esse comício? São João da Madeira.

Volta começa a norte do Tejo

A campanha low cost, mais espontânea do que cientificamente organizada, tem reflexo na forma como foi organizada. Marcelo só revelou aos jornalistas, para já, os primeiros quatro dias de campanha, enquanto muitos dos seus adversários já revelaram com detalhe os passos que vão dar no período oficial de campanha (que começa amanhã). Na volta ao país mais a sério, Marcelo decidiu começar a norte. Ontem de manhã, o professor começou em Santarém, almoçando em Coimbra e indo dormir a Vila Real. Hoje, será dia de começar a manhã em Vila Real e seguir para Chaves, seguindo-se Trás-os-Montes. Para lá do Marão, Marcelo passará por Chaves, Mirandela e Bragança.

No primeiro dia de campanha, amanhã, Marcelo começa a descer. Primeiro, de Foz Coa para a Guarda. Segue-se Covilhã e, por fim, Castelo Branco. A terça-feira não começará longe, em Portalegre, e à tarde o professor irá para Lisboa, onde apanhará um avião para o Funchal, onde ficará um dia. O regresso a Lisboa é na quarta-feira e a partir daí a volta é uma incógnita. Com Marcelo nunca se sabe. Quanto aos mandatários distritais - os únicos que discursarão, além de Marcelo -, não foram revelados e só serão conhecidos à medida que o professor for passando pelos distritos.