Quatro meses após as legislativas, PSD e PS continuam na estrada em jeito de campanha eleitoral. A começar pelos líderes. Passos segue o road show pelo país em ações de campanha -em empresas, associações e no partido - e António Costa multiplica-se em sessões de esclarecimento sobre o Orçamento do Estado. É este, aliás, o tema das jornadas parlamentares dos dois partidos, que se realizam esta semana.
Fonte próxima da direção do PSD, explica ao DN que a estratégia de Passos Coelho "é manter-se presente, mostrar que está pronto para pegar no leme do país, quando for preciso". As diretas a 5 de março, explica a mesma fonte "são uma boa oportunidade para ele se mostrar numa coisa que é bom: ações de campanha sem arruadas."
A estratégia de Passos é assim manter-se à tona até às diretas de 5 de março e depois até ao congresso, de 1 a 3 de abril. O ritmo é de campanha. Ontem, por exemplo, Passos foi à fábrica WoodOne e inaugurou uma escola em Paredes. Hoje terá um jantar com dirigentes sindicais. Quarta e quinta-feira vai a Bruxelas a um encontro com militantes do PSD/Bruxelas, onde também vão marcar presença os deputados.
No dia seguinte, Passos participa na cimeira do PPE, onde estará com a chanceler alemã Angela Merkel, e no dia seguinte vai a Santarém encerrar as jornadas parlamentares do PSD. Já depois das jornadas, ao que o DN apurou, Passos terá um encontro com empresários do setor do Turismo no Algarve e participar em mais uma sessão com militantes do PSD em Faro.
Nas jornadas parlamentares do PSD, que se realizam em Santarém quinta e sexta-feira, a principal temática é o Orçamento do Estado (OE). A bancada vai definir o sentido de voto (deverá ser contra) e afinar a estratégia (que pode ou não passar por tentar fazer algumas alterações na especialidade). Ao que o DN apurou vão participar nas jornadas convidados extra-parlamento: "surpresas", que deverão ser divulgadas hoje.
Portagens, como na campanha
À semelhança do que tinha feito durante a campanha, Passos vai fazendo declarações adequadas à região que visita. Num encontro com empresários em Castelo Branco, o presidente do PSD lembrou que defendeu a redução das portagens e que até já tinha tudo preparado para que isso fosse uma realidade. "O anterior Governo tinha deixado praticamente pronta a revisão das portagens no sentido de fazer uma discriminação positiva em todas as vias que se situam em áreas mais deprimidas economicamente", afirmou o líder do PSD.
Passos acredita que haverá problemas no governo socialista e a ideia é manter a estrutura oleada. Se a campanha interna tiver de evoluir para campanha eleitoral, está tudo preparado. O líder da oposição quer chegar ao início de abril - altura em que Marcelo passa a ter o poder da dissolução - com a mesma força no partido e sem descer nas sondagens. Quem não parece preocupado é António Costa, que aposta tudo em explicar (bem) o OE.
Costa: explicar, explicar, explicar
O OE é prato forte - e quase único - servido à mesa dos socialistas: depois de um fim-de-semana em que os ministros se multiplicaram pelo país a explicar as contas que já estão em debate no Parlamento, o primeiro-ministro tem utilizado as redes sociais para explicar em vídeo as opções orçamentais.
No domingo, António Costa falou (em cerca de um minuto e meio, de cada vez) do que diz ser o "orçamento responsável" e "que quer virar a página da austeridade". Já ontem o líder do PS apresentou números concretos das suas contas: num primeiro vídeo sobre "como as famílias vão recuperar 772 milhões de rendimento" e, num quarto episódio, de como "80% das famílias são beneficiadas pelo novo coeficiente familiar".
Está dado o mote: explicar, explicar, explicar. O OE não se joga só nos corredores de Bruxelas e do Parlamento, e a estratégia de comunicação do Governo passa pelo convencimento do cidadão - e de caminho dos eleitores. Uma estratégia que se repete também para consumo interno: no próximo sábado, na última manhã das Jornadas Parlamentares do PS, o ministro das Finanças, Mário Centeno, e o ministro da Economia, Caldeira Cabral, vão explicar aos deputados socialistas como conciliar "crescimento económico, investimento e contas públicas saudáveis" com o OE para 2016.
Será um processo fácil: só estão previstas intervenções dos oradores (e aos ministros junta a eurodeputada Maria João Rodrigues, e o deputado Eurico Brilhante Dias), os deputados ouvem. Método diferente é usado na véspera, no primeiro dia dessas jornadas, que têm lugar em Vila Real. No painel sobre a "valorização do território e inovação: as políticas para o interior e para as cidades", intervêm os ministros do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, e adjunto do primeiro-ministro, Eduardo Cabrita, para além do eurodeputado Pedro Silva Pereira e da deputada Hortense Martins, para depois se abrir um espaço de debate (à porta fechada).
Estas jornadas de dois dias, com o distrito de Vila Real por cenário (na manhã de sexta-feira, os parlamentares socialistas visitam diversos concelhos), casam os temas do Interior e do Orçamento no lema "Valorizar o território, relançar a economia". É António Costa, como secretário-geral do PS, que encerra os trabalhos no sábado e antecipa-se, de novo, a explicação das contas do OE, que respeita (como tem defendido Costa) os entendimentos do PS com os parceiros parlamentares.