Portugal
04 dezembro 2015 às 00h33

Sampaio usa obra de Paula Rego para exemplificar liberdade religiosa

O ex-Presidente da República apelou aos líderes religiosos muçulmanos que evitem que o islão seja uma arma de terror

Valentina Marcelino

Peritos e governantes, europeus e de países árabes, estão reunidos desde ontem, em Lisboa, para debater e partilhar estratégias de ação para combater e prevenir a radicalização terrorista. De Portugal, intervieram Jorge Sampaio e Marisa Matias, na qualidade de presidente, no parlamento europeu, do grupo de diálogo com os países Mashreq (Egipto, Jordânia, Líbano e Síria). A organização esteve a cargo do Centro Norte-Sul do Conselho da Europa e as conferências realizaram-se no Centro Ismaelita.

Os oito quadros alusivos à vida da Virgem Maria, que Paula Rego pintou, por sugestão de Sampaio, para a capela do Palácio de Belém, serviram para o ex-Presidente da República explicar a importância da liberdade religiosa numa "sociedade democrática e plural".

Não se tratam de imagens "cliché ou icónicas, mas uma mulher que sofreu o choque de saber o seu destino e as dores do parto", disse Sampaio, que acrescentou: "é tão bom para uma sociedade que alguém possa contar a história da Virgem Maria como Paula Rego a pintou, sem ter crentes ofendidos e sem tornar o caso uma blasfémia!"

Tendo este exemplo presente, o ex-chefe de Estado trazia uma mensagem direta para os líderes religiosos de "todos os países muçulmanos". Tendo em conta a "transformação religiosa que está a acontecer no islão", Sampaio entende que estes "devem utilizar a sua influência para clarificar do que trata o islão, evitar que divirja do seu caminho humanista e não permitir que visões extremistas e fundamentalistas transformem o islão num instrumento de violência e terror".

As restantes intervenções caracterizaram-se por um sentido comum, quer da parte das personalidades europeias, quer das árabes. Com o proclamado Estado Islâmico como pano de fundo, estes peritos sublinham que a prevenção e o combate à radicalização dos jovens não se faz com medidas securitárias, apenas, mas com programas de inclusão, envolvendo vários setores da sociedade, nos quais a educação tem um papel fundamental. "Os jovens não acordam um dia e decidem radicalizar-se. Há razões para isso", destacou Alaa Murabi, uma jovem que dirige a "Voz da Mulher Líbia", com várias ações nesta matéria.