Cândido Ferreira deu o mote na pré-campanha. Recusou participar num debate televisivo por ter menos tempo de antena do que outros candidatos, estes apoiados, direta ou indiretamente, por dirigentes partidários. Afirma não ter querido esse apoio político e que sofreu as consequências logo nos sete meses que andou a recolher as 7500 assinaturas para se candidatar à Presidência da República. Em "vez de preparar a campanha".
"Reuni com 12 advogados, fizemos um comunicado e nada foi publicado. A minha prima ficou de recolher assinaturas - a Fernanda, de quem gosto muito - e quando lhe perguntei por elas, disse que não as tinha porque pensava que eu desistira; que não estava a aparecer na comunicação social como candidato. Depois, até recolheu bastantes", conta Cândido Ferreira para mostrar como a campanha ficou comprometida. Quinze dias de ações, sobretudo na região centro onde vive, com um tema e um artigo da Constituição por dia.
"Vivemos numa sociedade mediática e, quando a mensagem não passa, começa a haver um afunilar de ideias; não há um alargamento do espetro de opinião como seria desejável." O médico termina culpando o "sistema político instalado em Portugal" e onde esteve entre 1974 e 2011. Dirigiu a Federação Distrital de Leiria do PS.
Palavras ditas na Escola de Turismo e Tecnologia do Mar, em Peniche, que visitou na segunda-feira, dia dedicado ao mar. Elogia a diversidade, a inovação, o conhecimento e a ligação ao meio empresarial ali praticados. Muitas vezes fala da sua experiência, nomeadamente na hotelaria devido ao agroturismo que tem em Portalegre. Cumprimenta os alunos, pergunta o que estudam e deixa para trás a dúvida: "Quem é?"
Mais bem "colocado da esquerda"
Maria Dionísio, 20 anos, de Sintra, Hayden Franklin, 24, de Aveiro, Laetitia Fernandes, 18, de Viana do Castelo, João Ribeiro, 19, de Peniche, Eduardo Lopes, 22, de Torres Verdes, sabem que Cândido Ferreira é um dos dez candidatos, já o nome é difícil. Inscritos em diferentes cursos - Animação Turística, Aquacultura e Recursos Marinhos e Biologia Marinha e Biotecnologia - não deverão votar , justificando que estão longe de casa. Mas o João, que é de Peniche, também não o fará: "Não ligo aos votos."
É a segunda ação da campanha em Peniche, num dia iniciado na Câmara Municipal, "a autarquia da CDU mais a norte de Portugal", especifica o candidato. Acrescenta que é a prova em como está aberto ao diálogo com todos os partidos. Ele que se afirma como "o candidato de esquerda mais bem colocado". António Correia, o presidente da autarquia, entrega-lhe duas latas de cavala em conserva. Em troca recebe o último romance do candidato, Setembro Vermelho.
Se Cândido Ferreira é um homem de gabinete, pelo menos o de médico (nefrologista), Vitorino Silva, o Tino de Rans como sempre lhe chamam, diz que o seu é na rua. Faltava-lhe dormir ao relento para vincar esse facto, também para ouvir quem não tem casa, justifica. Foi esta semana na Almirante Reis, com início na "sopa dos pobres", onde a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa serve almoços e jantares aos mais necessitados.
Chega 50 minutos depois da hora marcada (o que justifica com a direta que fez por ter estado no dia anterior em Bruxelas, onde foi ouvir os emigrantes), já a instituição tem as portas fechadas, também nada sabiam desta visita. E alguém lhe entrega um envelope com as propostas de Paulo Borges, o fundador e ex-presidente do PAN, que não conseguiu reunir as 7500 assinaturas para se candidatar à Presidência.
Vitorino Silva agarra-se ao primeiro sem-abrigo que o aborda, Alfredo Brito, 66 anos, há meia dúzia de anos na rua. Diz-lhe que passará essa noite com ele, já que "solidão" é palavra do dia. "Posso dormir contigo, fazer-te companhia?", pergunta o calceteiro. E, perante a afirmativa: "Hoje não vais estar só."
Sem-abrigo e com fotógrafo
O homem queixara-se antes aos jornalistas, do frio que passa durante a noite, de lhe terem "roubado a reforma do estrangeiro" e o "rendimento mínimo", de ter nascido em São João do Estoril mas querer ir para Ponte de Sor (Portalegre) onde está o irmão. Aconselhado a esperar pelo candidato, ganha companhia para uma noite e a promessa de que o levarão a casa do familiar. Tudo fotografado para alimentar as páginas da candidatura de Vitorino Silva, que afirma aos jornalistas: "A primeira medida é sofrer na pele o que sentem os sem-abrigo. Enquanto Presidente da República, vou tratar deste tema de outra maneira. Há dinheiro para integrar esta gente."
"Sopa dos pobres" fechada, o candidato pergunta onde poderá comer "uma sopinha". E Miro, também sem teto, leva-o até ao Núcleo de Apoio Local, que serve pequenos-almoços, almoços e jantares a cerca de 30 pessoas, sete dias por semana. O espaço abriu em 2013 e é cedido pela Junta de Freguesia de Arroios às associações que dão de comer aos sem-abrigo, explica Filipa Belchior, assistente social. E que responde a Vitorino Silva quando lhe pergunta se há sopa: "Só se sobrar depois de todos comerem." A técnica lamenta não terem sido informados da iniciativa. Quem ali vai comer tem de inscrever-se e provar que é necessitado.
Nesta noite, segunda-feira, a sopa de legumes, o arroz de feijão com salsicha e os bolos que as pastelarias doam, foram servidos pelas associações Frei Fabiano de Cristo e CASA. Chegou para Vitorino Silva jantar, que comentou: "Está bom, não está?" E vai conversando com os colegas de mesa, na maioria homens.
Na despedida é questionado por Fernando. Tem 53 anos e chegou à rua aos 11. "Consumi tudo o que havia para consumir. Mas entrei e saí pelo meu pé." Vive num quarto, com o apoio da Santa Casa da Misericórdia. Falta-lhe um emprego para que o sucesso seja completo.
Fernando pergunta a Vitorino : "Não acha que é demagogia dormir uma noite na rua. Acha que assim vai saber o que é dormir na rua, tem casa, tem família? Acha que as pessoas vão votar em si por isso?".
Vitorino: "Fiquei sem pai aos 9 anos, dormíamos todos no mesmo quarto, sei o que é ser pobre. Hoje o tema é a solidão e respeito muito quem está só?"
Fernando: "Mas você não está só, está com essa gente toda. Não sabe o que é estar só. Estar só é não ter mesmo ninguém. Devia dormir numa casa abandonada. Sei bem o que quer mostrar no mundo."
Vitorino: "Sei bem o que está a dizer e, por isso, é que isto é importante, para saber o que passam."
Ambos se despedem convictos de que cada um tem razão. Vitorino Silva garante que é um político diferente. Vai buscar cartões e dois cobertores à carrinha que o acompanha, onde se lê Portugal com Tino e que é conduzida pelo irmão. E monta a cama ao lado de Alfredo, numas arcadas da Almirante Reis.
70 euros para cumprir agenda
Jorge Sequeira fez ontem uma arruada em Braga, de onde é natural. Foi a primeira e a última caminhada entre eleitores, já que tem optado por palestras e visitas a instituições e empresas, com ações sobretudo a norte. Lisboa foi a cidade mais a sul onde esteve e para aproveitar a participação num debate televisivo com todos os candidatos. "Não tenho recursos", diz metendo a mão ao bolso para mostrar quantos euros lhe restam até ao final da campanha: 70 sem contar com a nota de 50 que, entretanto, guardou. "Já com o bilhete de ida comprado", ironiza.
E continua: "Sabe quanto custa um outdoor, cerca de 400 euros. Sou eu que pago tudo da minha campanha, não tenho dinheiro para isso." Há uma subvenção do Estado para apoiar as campanhas eleitorais desde que tenham um mínimo de votos, que no caso das presidenciais é de 5% da votação.
É terça-feira e o candidato visita a Quidgest, empresa de consultadoria e desenvolvimento de sistema de informação de gestão, que elogia sobretudo pela "inovação e internacionalização". E que é responsável pelo software do Parlamento. "A parte boa da Assembleia da República", diz Jorge Sequeira.
É psicólogo e apresenta-se como um orador, também professor e investigador, em resumo, um motivador. Deu uma palestra num dos eventos da empresa e daí a visita, explica Carlos Costa, diretor de marketing, que assume votar neste candidato. Jorge Sequeira garante: "Sou o único independente. Os únicos candidatos que nunca foram filiados sou eu e o professor Sampaio da Nóvoa e ele tem dirigentes socialistas a apoiá-lo."
Percebe-se o traquejo de animador de plateias, joga com as palavras e transforma-as em desafios enquanto Presidente da República, fala inglês e espanhol quando entra no departamento da internacionalização, faz analogias com o futebol [deu formação a treinadores, foi comentador desportivo], onde vai buscar "bons exemplos" para tudo.
"Dizem que gostam de me ouvir"
"Quem é?", pergunta um jovem. "É um candidato à Presidência da República", responde o amigo. Acabam de receber um panfleto das mãos de Paulo de Morais, o ex--vice-presidente da autarquia do Porto pelo PSD numa ação em Lisboa. Sobe e desce o Chiado, explica que quer combater a corrupção. E há quem lhe reconheça esse combate, como José Ferraz, desenhador e poeta, de nome artístico Yvens Pessoa. Recebe a propaganda e diz-lhe: "Que ganhe o melhor. Você é um bom candidato!"
Quer dizer que votará em Paulo de Morais. "Não", responde o artista, justificando: "É um homem que inspira confiança, mas já tenho o meu candidato preconcebido."
Hugo Casaca e João Palma, 19 anos, alunos da Escola Superior de Música, recebem a informação sem se mostrarem convencidos em participar nestas eleições. Além de "não ligarem à política", nas presidenciais é que estão mesmo a leste, argumentando: "Quem são os candidatos? Só conheço um!"
Junta-se ao grupo um terceiro rapaz, mas que não quer o nome publicado no jornal e que ressalva: "Votei nas legislativas mas porque a minha avó é do PS", socialista com participação pública.
Paulo de Morais, como os outros quatro candidatos, é bem recebido pela população e que, em regra, aceita a propaganda. Mas esta comitiva tem alguém mais persuasivo para quem diz já ter ou não quer a informação: "Há de ter um amigo ou uma amiga a quem queira dar." Uma senhora pede desculpa por retorquir.:"Custa-me deitar fora. É desperdiçar."
É das poucas deslocações desta candidatura a sul e que se divide em três áreas: ações de proximidade, debates e visitas. "As pessoas são fantásticas. Tem-me recebido muito bem. Dizem que não me conheciam mas que gostam de me ouvir. No Porto, conhecem-me melhor do que em Lisboa, eu próprio conheço muitas pessoas na rua, mas o nível de proximidade é igual, seja no Norte ou no Sul."
"Uma sugestão de voto"
"Bom-dia. Henrique Neto, candidato à Presidência da República. Posso entregar-lhe uma sugestão de voto?" O industrial de moldes da Marinha Grande, filho de operários, como gosta de sublinhar, desce até Évora para se encontrar com os pequenos agricultores que vendem no mercado da "Reforma Agrária". É reconhecido por todos e com eles mete conversa.
O militante socialista que não regateia críticas aos políticos, "muitas vezes do PS", admite, pergunta-lhes se só vendem o que produzem, tece comentários perante os protestos, fala da sua experiência como dirigente político e empresário, uma ou outra ferroada "a quem andou estes anos todos na TV". "Sou o único com experiência, que criou postos de trabalho e riqueza", argumenta o candidato enquanto entrega um panfleto, em que se lê: "Portugal não é da direita nem da esquerda. É nosso!" Uma das suas palavras de ordem.
"Oh, o senhor Henrique Neto, conheço bem da televisão. Ainda é meu pertence, também me chamo Neto. Pertenço aos "netos" da serra da Estrela. Costumo dizer isto por brincadeira e, até, já disse ao meu marido que devíamos votar no nosso primo", brinca Rosário Neto, 68 anos, reformada. Mas não, há anos que votam no mesmo.
Na subida do Mercado Municipal à praça do Giraldo, o socialista tem uma boa surpresa e que vem de Lisboa. "Conheço-o muito bem. É o único que fala claro, vou votar em si." Diz-lhe Riaz Issa, 53 anos, empresário.
Henrique Neto diz-se esperançado num bom resultado eleitoral, quer unir os portugueses. "Um dos grandes problemas nacionais não é só o governo, que é mau. O problema é que uma parte da população apoia e outra critica, mas é uma crítica destrutiva. E devíamos de nos unir em torno de uma solução."