Dia normal de trabalho e a adesão às urnas é visível. Tem sido assim em quase todo o país, um trunfo à partida favorável a Hillary Clinton, sobretudo em estados com aumento do voto antecipado latino ou mesmo não registado em nenhum dos partidos. A mobilização é crucial para qualquer das campanhas, mas a mescla étnica nas longas filas para votar tende a ser punitiva para Trump. Essencialmente mostra que os americanos estão conscientes do momento nacional, com escolhas diametralmente distintas, perfis políticos sem comparação, visões do país divergentes, opções para atuar no exterior sem grandes pontos de contacto. Se a existência deste leque de rumos é boa para a democracia, também é verdade que encerra um momento de definição desta América em transformação. As sondagens refletem uma fadiga com o sistema político, mas apesar disso a adesão às urnas indica um respeito pelos mecanismos formais da democracia e pelos principais atores e instituições. As sondagens também apontam para uma frustração com os anos de Obama, vinda de quem esperou de mais e de quem o odiou de mais. Apesar disso, Obama atingiu o nível mais alto de popularidade em oito anos de mandato, chegando ao patamar de Ronald Reagan. Há sondagens que mostram um mal-estar generalizado com o financiamento partidário, mas de campanha em campanha a angariação de donativos particulares atinge números astronómicos. É no paradoxo que a América vive e continuará a viver à medida que a demografia acentuar o declínio do eleitor branco, que a multiplicidade de credos se impuser ao mapeamento clássico dos seus fiéis ou que a relação individual com o mercado de trabalho ditar novas lógicas discursivas e soluções económicas. Escrevo antes do fecho das urnas e por isso não sei quem vai ganhar. O que sei é que a transformação da América vai exigir temperamento, coragem e sensatez no discurso político. Infelizmente, nada disso existiu nesta maldita campanha.