Vamos falar do Brasil. Não sente que na verdade o principal problema é político, mais do que económico?.Houve fundamentos económicos que causaram problemas, os quais existiriam mesmo sem problemas políticos. Os problemas do Brasil têm que ver com o fim do ciclo das commodities [matérias-primas] e com a mudança no contexto mundial, em particular a desaceleração da China. Quando os preços do petróleo, dos minerais e dos cereais estiveram em alta o Brasil experimentou um período de grande progresso social e um crescimento importante da classe média..Mas esse período foi gerido no Brasil com políticas económicas inteligentes ou displicentes?.Fizemos um estudo sobre como os países da América do Sul haviam lidado com o "ciclo das "commodities". Quem lidou melhor, quem lidou pior. No Brasil, a expansão do gasto - privado e público - foi maior e houve uma valorização da moeda. Em países como o Equador ou a Argentina, o gasto público não se expandiu tanto. No Brasil a despesa pública é muito alta....Mas foi uma despesa social?.Muita despesa pública foi de facto associada a compromissos sociais, sistemas de saúde, sistemas de pensões, transferências para o Estados. E alguns desses programas não foram muito caros, por exemplo o das "Transferências Condicionadas" [subsídios a famílias muito pobres em função do cumprimento por estas de várias de condições]. Foi um programa muito popular em toda a América Latina. Portanto, houve uma década,de 2003 a 2012, a década de Lula, onde as políticas sociais foram mais vigorosas e por isso a despesa pública aumentou. Em 2012 começa o problema: os preços das matérias-primas começam a baixar, a China começa a desacelerar, a Europa com baixo crescimento, EUA não podem contribuir muito, o Japão também não. Portanto, os problemas políticos resultam dos problemas económicos. Uma parte. Mas não posso dizer quanto é político ou quanto é económico..O que pode o Banco Mundial fazer?.Estamos muito presentes no Brasil, nas políticas que têm a ver com educação, saúde, os temas sociais. Mas agora a relação está a ser reorientada para, por exemplo, ajudar a definir as componentes da despesa pública, assegurar que certas despesas estejam protegidas.O Brasil precisa de fazer ajustes nos processo orçamental, mais do que financiamento. Até agora não pediu ajuda ao FMI. O crescimento da classe média foi assimétrico em relação ao dos serviços públicos e agora essa classe médica queixa-se. Há certamente uma relação entre o político e o económico. O problema político está dificultando a solução dos problemas económicos..Está estudado o efeito do problema do Brasil na Europa - e por exemplo em Portugal - ou não?.Não. O que estudamos foi os efeitos da contração do Brasil nos países vizinhos. Mas, curiosamente, maior do que o efeito do Brasil sobre os vizinhos é o efeito da China sobre a América do Sul. Esse é um efeito muito mais potente. Até 2003, o que se passava nos EUA era muito importante para a América do Sul. Mas a partir daí os EUA começaram a ser cada vez menos importantes e a China mais e mais.