"O presidente Obama não se devia intrometer. Esta é uma intervenção que não é bem-vinda e que vem do mais anti-britânico presidente dos Estados Unidos de que há memória. Felizmente, que já não vai estar muito tempo em funções", declarou ontem, no seu estilo inconfundível, Nigel Farage, líder do partido eurocético UKIP, no dia em que teve início a campanha para o referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia.
O comentário de um dos rostos mais conhecidos da campanha pela saída britânica da UE relaciona-se com o facto de Barack Obama se deslocar na próxima semana ao Reino Unido para fazer campanha pelo "sim" à permanência. A Casa Branca acredita que o Reino Unido estará melhor, no plano económico e político, se permanecer na UE, o argumento que Obama repetirá em várias intervenções públicas.
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A presença do presidente americano em Londres suscitou também palavras pouco simpáticas de um dos elementos mais preponderantes dos conservadores, dado como provável sucessão à liderança do partido com a saída de David Cameron em 2020, Boris Johnson. "É pura e simplesmente hipócrita para a América incentivar-nos a perder o controlo sobre as nossas leis, a nossa soberania, a nossa moeda e a nossa democracia, quando eles lá nunca sonhariam fazer uma coisa dessas", disse Johnson em declarações ao Evening Standard.
O partido de David Cameron - que faz campanha pela permanência na sequência da renegociação das condições da presença britânica - está profundamente dividido na questão. São cerca de 150 os deputados conservadores que defendem o Brexit (expressão empregue para a saída britânica da UE) e sete ministros do executivo de Cameron anunciaram publicamente que se identificam com a campanha do "sim" à saída.
Segundo uma sondagem ontem conhecida, os partidários da permanência e os da saída estão praticamente empatados. A sondagem divulgada pelo programa Good Morning Britain ,do canal ITV, 40% vai votar pela permanência na UE no referendo de 23 de junho, enquanto 39% pela saída da UE. O número de indecisos situa-se nos 21%. Este resultado é praticamente idêntico ao de uma outra da YouGov, conhecida no dia 6, que colocava o "sim" à UE ligeiramente à frente, com 39% das intenções de voto, frente a 38% para o "não" à permanência.
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O início da campanha ficou ainda marcado por um episódio protagonizado por Farage, que se deslocou ao N.º 10 de Downing Street para entregar uma carta em protesto por uma campanha governamental a favor do "sim" à permanência. Para o líder do UKIP, os panfletos, que estão a ser enviados para todas as moradas no Reino Unido, devem ser devolvidos a Downing Street.