Cultura
27 outubro 2020 às 18h19

Vítor Aguiar e Silva é o Prémio Camões 2020, um crítico do novo Acordo Ortográfico

Depois de Chico Buarque ter recebido o Prémio Camões na edição do ano passado, Vítor Manuel de Aguiar e Silva foi o nome escolhido pelo júri que esteve reunido esta terça-feira. A ministra da Cultura, Graça Fonseca, anunciou o vencedor.

Vítor Manuel de Aguiar e Silva é o vencedor da edição 2020 do Prémio Camões. É um dos "eminentes professores" signatários da Petição em Defesa da Língua Portuguesa contra o Acordo Ortográfico, que conta mais mais de cem mil assinaturas.

É investigador dedicado ao estudo da literatura portuguesa dos séculos XVI e XVII, bem como da obra camoniana e das metodologias literárias.

Da sua vasta bibliografia (ver abaixo), destaca-se Teoria da Literatura (1967), A Estrutura do Romance (1974), Teoria e Metodologia Literárias (1990), Camões: Labirintos e Fascínios (1994).

A ata da reunião do júri da 32ª edição do Prémio Camões, que decorreu em Lisboa, explica a escolha de Vítor Manuel de Aguiar e Silva para a edição do Prémio Camões 2020: "A atribuição do Prémio Camões a Vítor Aguiar e Silva reconhece a importância transversal da sua obra ensaística, e o seu papel activo relativamente às questões da política da língua portuguesa e ao cânone das literaturas de língua portuguesa."

Acrescenta a ata que "no âmbito da teoria literária, a sua obra reconfigurou a fisionomia dos estudos literários em todos os países de língua portuguesa. Objecto de sucessivas reformulações, a Teoria da Literatura constitui-se como exemplo emblemático de um pensamento sistematizador que continuamente se revisita. Releve-se igualmente o importante contributo dos seus estudos sobre Camões."

O júri da 32ª edição do Prémio Camões é constituído por Clara Rowland, professora universitária (Portugal); Carlos Mendes de Sousa, professor universitário (Portugal), Antonio Cícero, professor universitário (Brasil); António Hohlfeldt, professor universitário (Brasil); Tony Tcheka, escritor (Guiné-Bissau); Nataniel Ngomane, professor universitário (Moçambique).

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A ministra da Cultura, Graça Fonseca, destaca as "qualidades intelectuais e académicas, mas também pelo perfil humanista com que marcou de um modo decisivo gerações de alunos, um pouco por todos os lugares onde ensinou, bem como leitores".

Nascido em 1939, Aguiar e Silva é um professor, escritor e poeta português.

Natural da freguesia de Real, concelho de Penalva do Castelo, iniciou os estudos no Liceu Nacional de Viseu. Já na Universidade de Coimbra, concluiu o curso de Letras, licenciando-se em Filologia Românica. Após obter o seu doutoramento em Literatura Portuguesa, assumiu a carreira de professor na Faculdade de Letras da mesma universidade em 1979, sendo transferido para a Universidade do Minho em 1989, onde ocupou o cargo de vice-reitor durante 12 anos.

Participou na proposta de criação do Instituto Camões, como coordenador do grupo de trabalho. Também coordenou a Comissão Nacional de Língua Portuguesa (CNALP), tendo ainda sido membro do Conselho Nacional de Cultura.

Foi distinguido em 2007 com o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores, o Vergílio Ferreira da Universidade de Évora, o Prémio D. Dinis, Prémio Vida Literária, Grande Prémio de Ensaio Eduardo Prado Coelho e Prémio Vasco Graça Moura - Cidadania Cultural.

Professor e investigador de créditos firmados, autor da mais importante obra portuguesa de Teoria da Literatura, estudioso de Camões e dos seus «labirintos e fascínios», Aguiar e Silva esteve ligado à Universidade (Universidade de Coimbra e Universidade do Minho, onde foi Vice-Reitor), e tem um sólido percurso de «cidadania cultural», colaborando com instituições e iniciativas de defesa da literatura e da língua portuguesas.

O Prémio Camões agora recebido é considerado o mais importante da literatura a galardoar um autor de língua portuguesa pelo conjunto da sua obra. O Prémio Camões, instituído por Portugal e pelo Brasil em 1989, pretende homenagear um escritor cuja obra contribua para a projeção e o reconhecimento da língua portuguesa.

O Prémio Camões é atribuído anualmente, alternadamente no território de cada um dos dois países, cabendo a decisão a um júri especialmente constituído para o efeito. O prémio consiste numa quantia pecuniária resultante das contribuições dos dois Estados, fixada anualmente de comum acordo.

Para uma Interpretação do Classicismo (1962);

O Teatro de Actualidade no Romantismo Português: 1849-1875 (1965);

Teoria da Literatura (1967);

Notas sobre o Cânone da Lírica Camoniana (1968);

Maneirismo e Barroco na Poesia Lírica Portuguesa (1971);

O Significado do Episódio da Ilha dos Amores na Estrutura de Os Lusíadas (1972);

A Oposição Democrática e Sua Ideologia Totalitária (1973);

Reforma do Sistema Educativo (1973);

A Estrutura do Romance (1974);

Competência Linguística e Competência Literária: Sobre a Possibilidade de Uma Poética Gerativa (1977);

Crítica de Livros: Teoria Literária (1977);

Fialho de Almeida e o Problema Sociocultural do Francesismo (1983);

Teoria e Metodologia Literárias (1990);

Imaginação e Pensamentos Utópicos no Episódio da "Ilha dos Amores" (1988);

Maria Alice Nobre Gouveia: 1927-1988 (1991);

Camões: Labirintos e Fascínios (1994);

A Lira dourada e a Tuba Canora: Novos Ensaios Camonianos (2008);

Jorge de Sena e Camões: Trinta Anos de Amor e Melancolia (2009);

As Humanidades, os Estudos Culturais, o Ensino da Literatura e a Política da Língua Portuguesa (2010);

Dicionário de Luís de Camões (2011).

Grau de Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública (4 de outubro de 2004)[3]

Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores (2007).[2]

Doutoramento Honoris Causa pela Universidade dos Açores (16 de outubro de 2018)

A primeira edição do Prémio Camões foi em 1989, atribuído a Miguel Torga.

1990 João Cabral de Melo Neto, Brasil

1991 José Craveirinha, Moçambique

1992 Vergílio Ferreira, Portugal

1993 Rachel Queiroz, Brasil

1994 Jorge Amado, Brasil

1995 José Saramago, Portugal

1996 Eduardo Lourenço, Portugal

1997 Pepetela, Angola

1998 António Cândido de Mello e Sousa, Brasil

1999 Sophia de Mello Breyner Andresen, Portugal

2000 Autran Dourado, Brasil

2001 Eugénio de Andrade, Portugal

2002 Maria Velho da Costa, Portugal

2003 Rubem Fonseca, Brasil

2004 Agustina Bessa-Luís, Portugal

2005 Lygia Fagundes Telles, Brasil

2006 José Luandino Vieira, Portugal/Angola

2007 António Lobo Antunes, Portugal

2008 João Ubaldo Ribeiro, Brasil

2009 Arménio Vieira, Cabo Verde

2010 Ferreira Gullar, Brasil

2011 Manuel António Pina, Portugal

2012 Dalton Trevisan, Brasil

2013 Mia Couto, Moçambique

2014 Alberto da Costa e Silva, Brasil

2015 Hélia Correia, Portugal

2016 Raduan Nassar, Brasil

2017 Manuel Alegre, Portugal

2018 Germano Almeida, Cabo Verde

2019 - Chico Buarque, Brasil

O prémio já foi concedido a 13 autores portugueses, 13 brasileiros, 2 angolanos, 2 moçambicanos e a 2 cabo-verdianos. Entre os premiados estão apenas seis mulheres, sendo que entre estas autoras nenhuma era de origem africana.