Não acontece do dia para a noite, esse é um processo que pode durar alguns milhares de anos, mas o facto é que, de vez em quando, o campo magnético da Terra sofre uma inversão, e lá onde a bússola apontava o Norte, é preciso passar a chamar Sul. Segundo um novo estudo que será publicado em novembro na Geophysical Journal International, e que já está disponível on line, há 786 mil anos aconteceu uma dessas inversões dos polos magnéticos terrestres, mas num tempo absolutamente recorde e nunca antes visto: menos de cem anos.
Num momento em que os cientistas observam uma diminuição na intensidade do campo magnético terrestre, que muitos consideram um indício de que a próxima "cambalhota" está a começar, a descoberta de que isso pode acontecer mais depressa do que se pensava até agora, leva a supor que talvez muitos dos que vão nascer nas próximas décadas possam testemunhar um desses acontecimentos.
"É extraordinário como sucedeu tão depressa", comenta a jovem investigadora Courtney Sprain, da Universidade da Califórnia Berkeley e coautora do estudo, citada no site de notícias científicas Science Daily. "Os dados paelomagnéticos são muito claros, este é um dos melhores registos que conseguimos até agora sobre este tipo de processo e mostra como estas inversões [do campo magnético terrestre] podem dar-se tão rapidamente", sublinha a investigadora.
Ligada ao movimento interno do núcleo terrestre, constituído essencialmente por ferro, a inversão do campo magnético da Terra não tem um historial de catástrofes associadas: não há quaisquer registos geológicos, ou outros, de consequências desse tipo na vida que então povoava o planeta.
Hoje, porém, a possibilidade de um tal acontecimento deitar abaixo as redes elétricas do planeta e interferir drasticamente com as comunicações não é ficção científica. Além disso, uma diminuição prolongada do campo magnético terrestre, que é uma proteção contra as partículas solares e a radiação cósmica mais perigosas, poderá ter implicações também num aumento de cancros, nomeadamente de pele. Por isso, diz a equipa, é preciso continuar a estudar o problema com atenção.