Militante do Partido Comunista em Portugal e do MPLA em Angola, Sita Valles é hoje um nome maldito para ambos os partidos e a sua vida quase um enigma em ambos os países. Acusada de ser um dos cérebros do chamado "golpe Nito Alves", em 27 de Maio de 1977, seria presa em Luanda, violada e torturada e, três meses depois, fuzilada. O percurso dessa figura polémica é reconstituído num livro, "uma longa reportagem", da jornalista e escritora Leonor Figueiredo, com recurso a documentos e dezenas de testemunhos. Sita Valles - Revolucionária, Comunista até à Morte (1951-1977) é hoje lançado em Lisboa (Livraria Alêtheia, Rua do Século, às 18.30).
Passaram 33 anos e ainda hoje não se sabe onde estão enterrados os corpos de Sita Valles, do seu irmão Ademar (morto um ano depois) e de um número indeterminado de vítimas ("entre 20 mil e 80 mil, incluindo muitos portugueses"). Sita Valles continua a ser tabu no país que escolheu como seu e onde as circunstâncias da morte a transformaram num mito. Recusou ser vendada e olhou o pelotão de fuzilamento de frente, um comportamento que impressionou os inimigos.
Leonor Figueiredo evoca os dias de 1971, quando Sita Valles chegou a Lisboa, vinda de Luanda, para estudar Medicina. "Fui encontrar muitos antigos colegas, hoje médicos, que se sentiram marcados pela coragem e pelo espírito destemido dela", diz a autora. Leonor Figueiredo, que também escreveu o livro Ficheiros Secretos da Descolonização em Angola, falou com dirigentes do PC, como Carlos Brito, Zita Seabra ou Raimundo Narciso (hoje todos fora do partido), que confirmaram a impetuosidade de Sita Valles, então dirigente estudantil . Em 1975, decidiu regressar a Angola para ajudar o MPLA no conflito com a FNLA e a UNITA. Após a independência, o seu percurso começa a divergir até culminar nos acontecimentos de 1977.