Dois menores desacompanhados foram deixados na rua em Lisboa, ontem, após entrevista conduzida pela Agência para as Migrações, Integração e Asilo (AIMA). De acordo com a legislação, todos os requerentes de asilo menores de 18 anos precisam de receber acolhimento. Em causa estão dois menores senegaleses de 15 e 16 anos (o aniversário do mais velho foi há 3 dias), que fugiram do país por conta da instabilidade política.
A advogada Erica Acosta, que atua voluntariamente em favor dos refugiados, afirma que “nunca havia visto nada igual”. A profissional relata ter acompanhado a entrevista na tenda montada pelas autoridades no largo da Igreja dos Anjos, em Arroios. “Foi dada a garantia de que eles teriam um acolhimento hoje [ontem] e nós até nos colocamos à disposição para ir acompanhar, porque eles estão muito traumatizados”, conta ao DN. No entanto, às 17h, as técnicas foram embora e deixaram os menores sem resposta e sem acolhimento.
Segundo Erica, estavam na hora do atendimento duas técnicas da AIMA, duas da Santa Casa de Misericórdia e a tradutora voluntária Sadjo Nanque. Sadjo foi chamada pela advogada, porque a AIMA só ofereceu uma tradutora de francês via telefone e numa linha instável que “caía a toda hora”. De acordo com Erica, o único idioma que os senegaleses dominam é o wolof, principal língua falada no país.
O DN já havia questionado a AIMA sobre a presença de tradutores na condução dos atendimentos, mas não teve resposta. As voluntárias afirmam que é “essencial” a entrevista num idioma que o utente domine. “Vimos aqui na tenda muitos casos de entrevistas sem tradutores, eles não entendem e isso põe em causa as respostas e o resultado do pedido”, explica Erica.