O argumento de que Portugal precisa de imigrantes para suprir o mercado de trabalho do país não é novidade. Todos os anos, relatórios e estudos mostram esta necessidade. Agora, a Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP) descobriu outro argumento: a necessidade de melhorar a posição no ranking de riqueza da União Europeia (UE).
A análise está no terceiro e último capítulo do 1.º número da publicação Economia & Empresas, publicado recentemente. Segundo Óscar Afonso, diretor da FEP, são necessários 138 mil novos imigrantes anualmente para que o país consiga entrar, até 2033, no grupo dos membros mais ricos do bloco. “Entre 1999 e 2022, crescemos a 0,9% ao ano e isso implicou uma entrada média anual de 49 mil imigrantes”, explica Afonso. Caso o número de estrangeiros residentes no país não aumente, de acordo com o estudo, “a população, até 2033, diminuirá cerca de 5% ou 8%”, destaca.
Assim, Portugal ficaria cada vez mais atrás no bloco europeu. “Para crescer, nós precisamos de gente e não podemos pagar melhores salários se não crescermos. O crescimento liberta recursos, que depois podem ser usados para investimento, para consumo”, argumenta o investigador.
O estudo analisa a taxa de crescimento natural (a diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade) e a taxa de crescimento migratório (a taxa de imigração menos a taxa de emigração), nos países da União Europeia entre 1999 e 2022. Enquanto os países do Leste europeu, como a Roménia, Lituânia, República Checa e Polónia, conseguem duplicar o Produto Interno Bruto (PIB) a cada 20 anos, Portugal, com a taxa de crescimento que tem tido, só o faz ao fim de 80 anos.
“Portugal, se quiser estar na metade dos países mais ricos, tem de crescer mais. E para crescer mais tem que crescer em imigrantes. E os imigrantes são, nesse sentido, muito bem-vindos e necessários”, analisa o economista.
Para o diretor da FEP, os números e dados desconstroem mitos. “Desfaz-se muito o mito de que os imigrantes substituem os nacionais: isso é mentira, desfaz-se o mito de que os imigrantes vêm e depois os portugueses têm de emigrar. Desfazem muitos mitos e impõem ao Estado a necessidade de criar políticas públicas de atração de imigrantes, se quiser mudar como estão as coisas”, argumenta.